segunda-feira, 11 de agosto de 2025

A CAVERNA

Estou partindo para a caverna.

O Eremita, foi chamado para seu refúgio.

O mundo agora não apresenta qualquer benefício, é chegada hora do movimento de individuação, contemplação de si mesmo, após uma grande abocanhada da fera interior que ameaçou morder e não o fez e esse movimento trouxe para mim, um grande abismo existencial.

Talvez de fato, já precisava passar por tantas coisas para entender que será necessário meu regresso para o consciente, trabalhar as premissas constituídas através da dor e da punição, tanto social quando pessoal. Retardar esse acontecimento, só me tornaria menos humano e eu já o sou, virei um animal, ferido, com medo e terrificado, procurando um lugar quente para adormecer durante esse inverno rigoroso.

Do lado de fora, não tenho mais ninguém, me tornei um peso morto, na frequência baixa, uma luz apagada em meio ao cenário de destruição. Não quero mais ser preocupação de alguém, quero ser o alguém.

Cuidarei de mamãe, conviverei com sua loucura, lhe dando o devido cuidado do que ainda sobra para ela, depois de tudo que ela fez por mim, esse é um ato de humildade reconhecimento. Sei que isso, irá me trazer outras consequencias, mas, menores do que lá fora. O perigo de conviver com a loucura, não vai me tornar mais insano e sim mais condicionado a procurar a ficar em mim. 

Vou ter que contar com a pouca lucidez, procurando os lugares aonde consigo andar sem chegar à beira do precipício, uma aventura que não mais me dá prazer.

Estou no limite entre a loucura e a sensatez, amarrado por uma corda que parece um cordão umbilical, que deveria ter sido jogado fora quando eu nasci, mas guardei em algum lugar bem escondido, aonde só eu e o mundo pudessem ver.

Já com o corpo ferido e a alma voltada a voracidade, não mais tenho para onde escapar, os postes de luz da cidade já me trazem vertigem e melancolia.

Não sinto vontade nem de ver o mar e nem apreciar o horizonte cinzento, perdi o passo enquanto tentativa me encontrar em pequenas coisas que não faziam mais sentido algum.

Minha fera interior, agora me atormenta, estou procurando deixá-la o mais confortável possível para que ela não me morda e tenho sentido um grande tormento ao acessar lugares diferentes em mim, como se todos os lugares por onde eu passasse, me desmontasse por inteiro e nesse prelúdio, fico quase vazio, esgotado e exausto, subir a montanha todas as vezes, tem me deixado fraco e desanimado.

Me fechar do mundo pode parecer um colapso total, mas não o é, vez que, nada mais faz sentido algum aqui fora e ali também não, só um grande alvoroço que me quebra o lado poético e destituiu meu lado sentimental, propagando em minhas estadias, um terremoto eminente toda vez que toco minha alma.

Minha alma, ferida, partida em mil pedaços, despede-se deste vão que tornou-se o mundo que habito, transfigurado, participo de meu próprio velório, observando cada parte do meu corpo se desconfigurar, contorcer para um ato de pouca coragem, exaltando uma demolição existêncial.

O modo contemplativo deste processo, ainda estou tentando buscar, talvez em um lugar aonde eu nunca tenha habitado, a solidão total.

Estar só sempre estive, fiz e faço tantas coisas com meu eu, mas ele não tem fornecido a energia que preciso para ficar vivo aqui do lado de fora, só me sabota, me colocando entre paredes frias e nuvens cheias de tristeza e incertezas.

Cada pensamento que tento instaurar a respeito das coisas que tem me acometido, fico cada vez mais embriagado com minha falta de solidez e firmeza, não consigo andar sem cambalear. 

Estou imundo, impuro, parece que estou dias sem tomar banho e estrangulado pelos fatos atuais, vou me despedindo de algumas coisas que eu carregava, só me sobrando algo fundamental para voltar para a caverna, o amor.

E este, sim, tem a força que ainda me move para algum lugar, meu alimento, o que não me torna tão severo e árduo comigo mesmo, um lugar aonde eu ainda consigo sonhar com uma parte boa de mim, que ainda nem eu ou ninguém pode me destituir.

Me tornei um ser hibrido, metade fera e a outra quase humano, com muita raiva de tudo e dos fenômenos e situações no qual fui inserido por ser tão arisco e lutar uma luta de mil anos contra todo perigo que eu apresentava a mim mesmo.

Uma epopeia trágica, com condições de guerra propícias para uma derrota gigantesca, agora entender que estive lutando contra eu mesmo, doloroso demais o é. Meu inimigo me conhece bem, sabe de todas as minhas falhas e de minhas fraquezas, tem sido constrangedor o que ele me demonstra, o que joga na minha cara todas as noites.

Covarde!

Gostaria de lembrar como foi a dor de ter sido mordido por um cachorro quando era menor, quando fui tentar dar um beijo na boca dele e ele me instaurou como fera, acho que houve algo ali, não foi só meu nariz e queixo que foram danificados. 

Não consigo lembrar da dor, mas acho que sofri alguma espécie de mutação, de lá em diante, o mundo começou a me devorar, pedaço por pedaço, sem escolha eu fui apenas me afundando em mágoas, tentando ser forte mas com a alma dilacerada, o sangue escorria de minhas memórias, tanto que de repente, nem elas queriam mais fazer parte do lado bom que eu tinha em mim.

Quando pequeno, pegava a bicicleta e acreditava que iria desbravar o mundo, o cheiro das arvores e plantas aquela cidade toda diante de mim, me deixava feliz e nostálgico, um guerreiro em seu campo de batalha aonde o desconhecido me fazia querer ser mais forte.

Hoje, enfraquecido por essa coragem, não tenho mais minha bicicleta, entre em ônibus, cheios de pessoas que desconheço, as árvores são cada vez mais difíceis de observar, só o caos dentro destes lugares, aonde todos reclamam de alto, escutam musicas altas, desrespeitam tudo em si mesmo.

O mundo virou um lugar de desconexão total, aonde as pessoas estão em seu ato final, virando empreendedores de si mesmo, já não conversam com as feras, não conseguem ver o outro, não pensam mais na natureza, não se conectam com o originário, estão abandonados e despatriados, só caminhando em mão dupla sem lugar para chegar.

Assim, depois de 500 anos, o homem se desconectou da sua essencialidade, sei que existem muitas pessoas lutando contra essa peste antropocêntrica, mas as raizes são profundas, os vulcões começaram a sua erupção, os mares congelados que guardavam toda historicidade da humanidade, agora estão desmanchando, revelando a rasa realidade humanóide.

Não temos para onde fugir, as montanhas estão perigosas, os animais tentam cuidar delas ferozmente, a natureza pode continuar sem nós, mas nós sem ela, impossível.

E o que isso tem relação com meu processo?

Lembro de ter lido um livro da Natalia Marttan, sobre uma experiência dela quando estava na floresta gelada e foi mordida por um urso, sangrava tanto, pegou seu canivete de sobrevivência e afugentou o a fera, mas neste evento, ficou com a mordida dele, com o peso de toda uma experiência que a transformou em observadora do mundo e atuando em sua própria percepção. O que mais fascina e trás a interrogação é que ela, ainda espera que a fera não volte para terminar o serviço, o evento foi traumático, foi um processo de individuação tão forte que fez com que ela voltasse para dentro de si mesma para tentar compreender porque não havia se tornado fera quando foi mordida.

Esses questionamentos, trazem de volta um novo pano de fundo, a busca por si mesmo diante de um ato qualquer, um dia qualquer, sem fundamentação alguma, somos acometidos por eventos maiores do que podemos aguentar e arrebentados e metade fera, temos que voltar para a caverna com o que melhor encontramos nessa jornada,  no meu caso, levo o amor, a única coisa que me sobrou.

A minha loucura já está instaurada, nitidamente minha falta de lucidez se faz cada vez que a noite cai, aonde fico neutralizado pelas horas que se dão em meio a meu caos mais absurdo, aonde não consigo pensar nada só viver um inferno na terra.

Ontem a noite, minha amada me deu adeus, depois de eu ter magoado e destruído seu coração, através de um ato de covardia, tentei me aproximar de algo e quando percebi fugi, mas só por ter ido, já me dilacerou a alma e pela primeira vez, a culpa se alojou em mim.

Me sinto imundo sem ter ao menos pulado na lama, como se pensar na lama, corrompesse toda uma existência, porque mexeu no meu lugar mais sagrado, meu sentimento que me faz vibrar, o amor.

Eu ainda sou um romântico, sem benção e sem concessão de juízo perfeito, só conduzido por algo que é maior que minha sanidade e humanidade, sentido esse que, me faz retornar para as origens de mim mesmo, procurar o que me fez ficar perdido por tanto tempo e sem nada para refutar. 

Na tragédia, sorrir é um terror profano, então me despeço deste mundo, em pedaços, com minha mochila cheia de sentidos para serem re-significados e o amor para me aquecer e não me deixar fugir do que tenho de bom, minha esperança e lealdade.

Eu volto, para contar cada noite que ficarei dentro de mim, vocês vão adorar o furacão vívido que habita em mim e que me condena a morte todos os dias.

Aqui fora, tem sido solitário demais, já não consigo mais me comunicar com ninguém e falar sobre o que estou passando para estar transfigurado em latim ou sanscrito, se eu contar, ninguém irá entender e só julgar minhas narrativas, me deixando no lugar de fera ou vítima, dois lugares aonde não posso vivenciar o agora.

Até breve!


domingo, 3 de agosto de 2025

CANDY, O MEU MAR

Torço por ti no mais profundo lugar do sagrado de um pedido de unção...

Torço por ti como as ondas torcem pela lua - de longe.
Mas com toda força do mundo.
Te penso no silêncio salgado de quem ama sem medida.
Com a alma molhada de desejo e a saudade batendo na beira da vida.
O mar me traz tua lembrança com cada espuma que vem e vai.
E eu fico aqui, amor, em esperança, que você esteja em paz, onde quer que vá. 
Se o vento tocar tua pele, foi meu carinho que chegou.
Se ouvires o som das aguas, é meu coração que sussurrou.
Sinto saudades que afogam devagar, como maré que  não recua.
Saudades que me fazem ficar olhando o horizonte em busca tua.
Queria te cobrir de céu azul e de calmarias profundas.
Para que tua dor se dissolvesse como sal nas ondas noturnas.
Fica bem, meu bem.
Mesmo que de longe, sou tua maré - constante e fiel.
Torcendo por ti com todo amor que há neste mar dentro de mim.

SALMONELA

 Olha eu aqui de novo.

Consegui dormir quase 3 horas hoje, acordei às 3 da manhã que parece de fato, a hora das bruxas.

Está bem frio e descobri que eu gosto de sentir o frio quando não consigo lidar com algo que vem de dentro. Eu fico pensando umas coisas estranhas para não morrer no ócio, do tipo de coisa: eu poderia comer um brócolis inteiro ou, qual será meu treino de hoje.

Quanta futilidade! 

Eu não tenho conseguido sair esses dias, estou meditativo e com uma espinha enorme no meu rosto, acho que Deus me deu o terceiro olho.

O que vou fazer com ele ? Será que eu consigo enxergar no escuro? Talvez, mas eu gostaria mesmo é que ele sumisse , porque ver demais, machuca e lateja.

Eu tenho escrito muito né ? Isso se chama ansiedade e dor de final de relacionamento, trágico mas que, abre outras portas junto com a velha corrupta melancolia.

Meus pais estão dormindo, parecem dois anjos que depois de passar o dia todo em silêncio com todo tempo que tem na terra, agora acessam as euforias dos sonhos.

Tentei ler Clarice Lispector , hoje não era um bom dia. Todas as frases dela colavam em mim, sair da 4 página de Paixão segundo G H foi quase impossível.

Será que na verdade eu era a personagem principal ou a barata? Esmagado pela vida dura pelas portas do destino. Será que alguém vai me encontrar e ficar me olhando e escreverá um livro sobre alguém que só queria ser feliz?

Acho que não!

Essa obra aqui, está começando a ficar densa, igual a um livro do Stephen King chamado Desespero.

Desespero é sempre algo que me acomete quando não consigo colocar os pés no chão diante de uma situação do qual nunca brinquei quando era criança. Não sei se cresci o suficiente para desapegar de algumas birras emocionais que fazia para tentar ganhar biscoitos.

Minhas birras eram diferentes, eu fingia ser gente grande, com cara de choro para meus pais, falando que se eu ganhasse alguma coisa gostosa, iria lavar a louça no outro dia.

.Eu não tinha nem altura né , não conseguia me erguer o suficiente para pegar uma estrela do céu, guardar no bolso e entregar para alguém especial.

Assistindo ao jornal, percebi que todo mundo está passando fome, quero dizer, a coisa está bem feia. O homem antropocêntrico de Nietzsche voltou com tanta força que ele agora tem uma escola toda para ele. Moldes sociais que destituíram metade da humanidade - ou mais - com suas relíquias da morte do consciente.

Estamos na era das certezas.

Certezas que caem bem, feito sapatos gastos sendo usados até fazer um buraco na sola e toda vez que você passar por uma poça , vai ter que lembrar que se pisar, vai molhar a meia e ficará cheio coisas ruins de ponta-cabeça.

Lembrei que não consigo nem cortar as unhas do meu pé, da última vez quem cortou, foi uma garota muito especial e ela sabia fazer sonhos também.

Que recorte foi esse no texto?

Ah, vai ser difícil superar esse término , mas estou com minha massinha de modelar, tentando encontrar uma forma de fazer um novo coração , mas pode ser da cor laranja.

Voltando para o mundo, estava questionando sobre a ideia de que, o antropocentrismo trouxe revelações bem diferentes nesta década.

Basta passar os olhos nas escolas de psicanálise para entender que o que está fluindo, não vem só de um lugar de dor coletiva. 

Qual seria a solução? Pluralizar de uma vez todas as escolas psicanalíticas? Instaurar uma nova abordagem a procura de um Ser que foi tomado por uma decadência sociológica depois de não conseguir parir um novo modelo de consciência alternativa?

Ouço os ditadores e conservadores do pensar se levantando e vindo em minha direção.

A estrutura principal do homem moderno, a falta de medo.

Excessivos saberes que eles adotaram para dormir diante de qualquer coisa que não seja dinheiro. O tempo, engendra-se na condição do não-vivido , as pessoas não tem mais prazer pelo ócio.

Constroem suas milagres de riquezas , casa e carro e está tudo bem, com aquelas festas cheias de matadores de aluguel que abrem suas empresas para ajudar os famintos a comer pouca ração e trabalhar feito gados incansáveis.

A estrutura moral, também mudou e virou um sorriso matinal com bafo de noite mal dormida.

Eu tenho ficado bem solitário esses dias, conversando com meu eu interior, nada xamânico, mais intersubjetivo. Ficar sozinho tem sido um desafio ensurdecedor, isso porque não tenho nem vontade de saber se estou vivo de fato ou caí no limbo de saudade de quem um dia fui.

A solidão tem me feito escrever, porque a verdade é que eu queria contar para alguém que eu perdi algumas coragens e estou descobrindo o quando sou medroso e muito mais inseguro do que imaginei.

Estou me reconstruindo, o que será que vai sobrar? 

Poderia ser bem, uma sobrinha de fundo de geladeira, que não é o que queríamos comer , mas mata fome naquelas horas da noite.

Cada um tem seu jeito de entender a moral, conseguimos descolonizar algo que era para ser de melhor compreensão quando o sentido da liberdade, fosse algo transicional.

Me perdi as 3 da manhã de novo, agora estou divagando sobre comidas bem geladas e ovos crus.

Como disse minha ex, ele vendeu a salmonela!

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

MUNIÇÕES DO CÉU

Hoje acordei com o coração mutilado.

Términos de relação são bem complexos para mim e sempre se dão de uma forma cada vez mais estranha.

Desta vez, o tombo foi tão grande , mas tão grande , que toda vez que eu conseguia dormir, só pensava nela. Também, aquele cheiro, beijo, toque , tom de voz, eram e são inspiradores.

Amor dói e para um caralho!

Me peguei pensando, qual parte de mim ainda não consegue perceber tais figurações que ainda existo.
O desaparecimento do sentido do tempo, cada vez mais se atropelando no meu cotidiano, estar fora de uma rotina tem me levado à loucura.
Inarrável é eu não suportar à ideia de ser deixado sem uma ideia substancial que venha de mim mesmo, viro meu mártir incondicional.
Estava lendo hoje uma passagem de Deleuze, aonde ele falava da não estruturação afetiva e percebi que eu sou um amante clássico e barato , daqueles que choram de saudades ao tomar banho ouvindo Maria Bethânia.
Vivemos em um tempo, onde a curiosidade de como é estar feliz, aborda mais do que à procura pela mesma, findando a profundidade de como as coisas poderiam se desenvolver sem tantos problemas condicionados à má geração de consciência do processo aonde estamos envolvidos.
Entramos cada vez mais no automático e na primeira esbarrada com o inconsciente, cheio de medos e introjeções, cedemos ao abandono dessa busca. Entrelaçados pela não resolução de construções psíquicas não reformuladas, vamos vivenciando cada vez mais um caos coletivo.
A falta de individuação tem sido o maior apontamento dessa década, mesmo porque, em uma sociedade de massa estrondosa aonde não se ouve a si mesmo, apenas o que grita austeros, destronados de nossa ciência por onde nos encontramos, nos findamos à não mais nos surpreender e continuar apenas andando conforme aprendemos um dia.
Muitas fendas se abriram durante essa década, são tantas ramificações, traumas, deslizamentos psicológicos, novas condições mentais pulando para a frente dos consultórios que, sem tempo, só vamos nos condicionando a viver sem compreender o que de fato está acontecendo com nossa sociedade líquida (Baumann).
Em nome de muitos pais e mães, vamos tecendo um destino cheio de amnésia e castrados de viver uma melhor experiência com o que conseguimos conquistar, material e espiritualmente. Não temos tempo para mais nada, apenas, vendo o mundo passar, na velocidade dele, esquecemos que não precisamos apertar nossos passos e acabamos capotando para um lugar totalmente desolado.
Diante do cenário assombroso , perceptivelmente, a desistência de compreender o lugar dos afetos e suas considerações, torna-se um redemoinho de superficialidade e olha que muitos, mas muitos humanos, ainda se dizem preparados para viver o inesperado e eu, sou um deles.
Tenho um pouco de medo, sinto que entrei nesse redemoinho também, desfreado, inconsequente, despreparado para o novo. Digo isso porque, não consigo simplesmente mais, nem ficar com raiva e meditativo quando algum relacionamento acaba, não como era antigamente. Não que eu tenha perdido a profundidade, mas, apenas consigo entender o lado do outro e posto isso, esqueço do tamanho da dor que eu estou em algum lugar sentindo. 
Ignorando essa minha dor, me torno uma pessoa melancólica e desprovida de consciência do processo, vez que, minha vida toda, tudo sempre foi demorado a passar, agora corre para os trilhos velhos, uma locomotiva desgovernada prestes a descarrilhar mais uma vez.
Munidos de tantas teorias, estudos, entendimentos e razão, por qual motivo ainda estamos caindo no abismo do absoluto fim-aberto?
Os desfechos opcionais, são aberturas provenientes de que?
Como podemos simplesmente passar por algo, trabalhados pelo fogo de tudo que nos queimou e ainda assim, rapidamente levantar das chamas e voltar a caminhar?
E visitar os meus destroços está cada vez mais complicado, sempre esqueço o lugar da volta, quando percebo, estou de volta a este mundo consciente, preocupado apenas em prosseguir com minha missão e ser um humano melhor.
Extrovertido, ainda continuo respirando, tentando compreender o que me faz chorar no dia de hoje.
A imagem de meu dia é: um míssil caindo em cima de uma casa, alguém sentado em uma poltrona velha, no final da tarde enquanto a morte vem do céu sem que ele perceba.
Já até pensei em morte, claro né, quando inverso o que sinto, tenho vontade de ficar vazio, mas ao mesmo tempo o meu eu solitário não consegue resolver as coisas com tanta clareza, penso que estou em um lugar do medo de estar só, que se dá através das rupturas que vivencio.
Tão bonzinho, compreensivo, religioso, sufocado, cheio de raiva, lerdo  e surdo o suficiente para não ouvir o barulho do míssil prestes a destruir tudo.

Esse é um desabafo , estou sofrendo por amor, fico totalmente perdido e sem enxergar se o farol está preso nas nuvens ou eu me descolei do meu corpo para tomar banho.

quarta-feira, 30 de julho de 2025

LEVIATÃ

 

Andando pelas ruas hoje, a cidade parecia estar funcionando com a energia de um velho gerador.
As pessoas pareciam flechas e eu sorria, tentando ver a direção que elas iriam tomar.
Está tarde, mas o sono saiu para dar uma volta hoje de tarde e ainda não voltou.
Penetração mental, como uma masturbação causada por violência sensorial/xual,  me tornei, radioativo, mas estou catando os cacos para questionar a autoridade que meu ego perdeu.
Ali, bem naquele ponto, havia uma senhora que tinha os olhos cheios de esperança, ou era uma projeção minha querendo tirar a neblina da minha mente?
Preciso me aquecer, muitas vezes eu percebo as luzes rodopiarem e me recordo de que passei o dia todo sem fome e comer parece um filme do Hitchcock.
Estava pensando sobre a realidade, será que de fato estou de que lado dela?
Por estar aqui dividindo colapsos e frases que deveriam ser engraçadas e não bagunçadas, me sinto pequenino, passeando por universos destoados.
Percebi que passei muitos minutos procurando algo que realmente gostasse e descobri que só queria um apagão para descansar a mente.
Quando eu era pequeno, criava um mundo cheio de possibilidades, onde eu conseguia conversar com os animais.
Já contei que durmo em um sofá velho, aonde enquanto todo mundo está dormindo ao amanhecer eu sinto os raios matinais tentarem me expulsar dali?
Já me acostumei de ser expulso de meus sonhos por excesso de claridade, isso quando consigo dormir o suficiente para não ver raiar o dia, então, eu posso usar esse truque para falar que quando tudo está caminhando muito bem, eu tenho a mania neurótica de achar que estou adormecendo.
Por dormir pouco, fico assombrado com meus devaneios durante o resto do dia.
Gostaria tanto de saber apreciar uma boa seresta, mas o que me consola é que eu posso ser só um sonâmbulo, vagando por um mundo recriado pelos meus desejos mais infantis.
No presente, tem sido uma tarefa bem difícil conversar comigo, eu gostaria de ter a mente de uma criança, para chegar a um lugar simbólico menos cartesiano e psicótico.
A psicóloga me disse que estou com "início" de depressão, mas será que ela sabe o tamanho da pressão que eu tenho que suportar quando estou pensando em qual roupa deveria usar quando estou congelando?
Estou miúdo, quase que cabendo em um saco de arroz, querendo matar a minha fome de não lutar contra o acaso. 
Acho que deixei o feijão no fogo.
A minha tristeza é quase um soneto de separação entre a vista conturbada de um lunático tentando descobrir que a lua é só algo que habita dentro dele e que aquele círculo gigante no céu é um contador de histórias secretas.
Não contei isso ainda, hoje escutei muitas músicas que me deixavam depressivo quando mais jovem, mas agora servem para testar minha memória, para ver se ainda lembro das letras mais insanas que fiz questão de decorar.
Felizmente, estou leve, parece que eu ouço a voz da minha mãe me perguntando sobre meu dia, isso me deixou tão vidrado e excitado que esqueci que ela está debaixo dos degraus da memória e nem lembra de onde colocou seu aparelho de surdez.
Ando tão em silêncio que esqueço de como é a voz de meu amigo imaginário, meu alter ego.
Lembro de quando criança, venerava correr para subir ladeiras, ficar cansado quando chegava no topo me trazia uma sensação de que havia vencido algo maior do que eu.
Nos tempos atuais, gosto das descidas, aprendi a segurar com força os pés no chão para não dar com a cara no asfalto quando quero correr mais rápido que meus pensamentos.
Escrever tem sido suficiente, brinco que eu estou começando a ver as fissuras no muro que construíram com força na frente da minha casa.
As vezes consigo ver através destes vãos, isso tem me tornado um pouco melhor, por alguns instantes.
Se alguém hoje me questionasse sobre o que eu queria aprender para ser alguém melhor do que fui até aqui, acho que gostaria de aprender a pescar.
Tenho uma dificuldade enorme em ficar parado por muito tempo, como se precisasse gastar as solas de meus tênis para andar na terra encantada.
Fico tão cansado com essa coisa toda frenética que eu choro escondido no banheiro para aliviar e acredite, adianta e muito.
Deixe que eu explique melhor essa coisa de querer aprender a pescar, porque desta maneira eu saberia ficar quietinho, esperando algo puxar a linha do anzol sem ficar encantado pela profundidade do horizonte com o Sol que se debruça na beira onde nasce o rio das ilusões.
E por falar em horizonte, eu queria poder ler um livro do Hobbes sem ter a medida certa de não compreender o quanto ele seria útil se não fosse tão antropocêntrico. 
Essas vontades, das quais relatei acima, são trovoadas num mundo cheio de ansiedade e com extremas condições de desabitar o que é pensamento impróprio para momentos em que se detesta a solidão porque ela transa bem mal com meu inconsciente. 
Hobbes, pode por favor, mandar dormir o Leviatã?
Eu preciso acordar cedo para ir ao hospital porque eu preciso de ajuda, já vejo que está quase na hora de ver aqueles médicos que todos dizem que vão salvar minha vida.
Referente à ajuda, minha cabeça não anda  muito boa e ter que enfrentar um hospital sozinho, durante horas, tem me deixado tristonho e sufocado.
Eu evito pensar em coisas que podem parecer puro intimismo a essas horas da madrugada.
Me refiro a ter que estar diante de todo esse lance de pedir ajuda pela questão do que tem passado na minha mente e na verdade, tentar acreditar que alguém segurando minhas mãos enquanto o médico me puxa para baixo, seria bem mais motivador do que eu usar minha imaginação para esperar alguém naquele corredor, gritar meu nome o quanto antes.
Mas, lá fora, todos estão de alguma maneira tentando se manter vivo e eu não aprendi a dividir o meu lugar de dor com todos, só por cartas mentais.
Me acho patético algumas vezes, ouvir Radiohead me faz querer ser o Tom Yorke, pelos fatores dele ser feito, mas ter um bom coração que o salva de andar pelo mundo sem que ninguém pense que ele não se importa com o que está fora dele.
Estou com vontade de andar de bicicleta, adoro a nostalgia de quando meu pai, levava eu e meus irmãos para andar de bicicleta bem cedo, com a finalidade de nos apresentar a lugares novos desta cidade.
Mas a melhor parte vem depois, quando chegávamos em casa, minha mãe parecia feliz, claro que pela razão de termos dado à ela alguns momentos de privacidade e estarmos exaustos a ponto de não dar trabalho algum.
Isso tudo é o que eu penso, sem devaneios.




TEIMOSIA ABSTRATA

O meu encontro com uma nuvem negra chamada eu-mesmo, trouxe um paradoxo à tona.

Que dia é hoje?

Melhor ainda, penso que eu comecei a voltar para uma busca, uma vivência de ter experienciado algo tão radical e violento nesta vida, que todo meus anos, destronaram meu lado clássico de presenciar o que está posto.

Existe uma atmosfera muito diferente de quando eu tinha meus 20 anos, até minha teimosia ter causado uma certa repulsa sobre o que eu entendia sobre estar individuado.

Qual foi a última frase que eu li hoje?

Acho que foi um trecho do Hermann Hesse, aquele livro que me tira do sério, Demian. Mas isso não vem ao caso, o que me interessa saber é: o que eu senti?

O que eu procurava naquele livro em uma noite qualquer?

Minha curiosidade nunca se devotou somente aos romances de torturas psicológicas, mas aqueles que remontam um “eu” não absoluto.

Aquela busca de uma entidade romântica que remonta um núcleo intenso sobre a sobriedade moderna e sua falta de afeto.

Sem encantos, hoje, em sua maioria dos escritores, são guias de personificações egóicas e cheias de tromboses histéricas sobre o caminhar no mundo contemporâneo.

Não, não é preconceito, só uma visão nada chique sobre uma nova postura a respeito da dor que vem da interdependência do outro-projetado, quando o assunto é romance.

Cansado, teimo em dizer que, ainda tenho o sabor nos lábios de reler muitos livros que falam sobre a quietude de uma alma quando tomada por uma rescisão vívida com algo que se pensou viver com tanta intensidade e profundida, que acabou se afogando em mágoas.

Qual processo estamos vivendo neste momento no qual podemos nos ater sobre o objetivo inconsciente?

Penso que, não tenho acolhido com devida importância o que vem dançando em minha mente. Figuras da imaginação, translúcidos sonhos, onde passeio por horas, dentro de uma escuta sobre mim mesmo, recusando uma realidade sombria e sem poder de escolha de pular o atual capítulo.

Tenho que confessar, me tornei desta vez, um romântico Junguiano, trabalhando minha psiquê de forma que, percebo tudo através de um canal sistemático sobre todas as relações que venho testemunhando pela janela da vida.

Nada me aproxima mais do humano que, nestes 44 anos, ser acometido em muitos lugares por pessoas desconhecidas. Ali eu me sinto escolhido para partilhar algo material e que eu lanço para um algo subjetivo-emocional.

Estou desolado, por muitas vezes não perceber uma certa “malícia” naqueles indivíduos que me acometem.

Alguns, pedem um trocado, uma informação, ou só passam e deixam bem claro que sabem que eu estou ali, com seus olhares atentos aos meus movimentos e rosto manchado de personificações mistas de gêneros.

Confusos ou não, fazem uma estreita passagem, simbiótico eu abraço a situação como se aquilo pudesse de algum fato, trazer algum aprendizado. Tolice ou falta de razão crítica pura, fico estarrecido com as santas travessias que fazem comigo neste mundo.

Esses acessos passaram por mim, durante anos, sem uma percepção , sem luz, sem tenuidade, estava tão irracional até hoje, que tratava com maestria tal abordagem social.

Não, não se trata disso!

Acho que acabei de trombar com Narciso em uma esquina e descobri que entre mim e ele, não existe uma afinidade cosmológica e sim, uma dualidade de débitos transcendentais.

Sinto que algo está faltando.

Acho que esqueci de guardar alguma peça na caixa, naquele dia em que estava tentando montar um quebra-cabeça mental de 44 anos e simplesmente, bati na mesa e tudo foi para baixo da mesa. Com toda raiva de ter desfeito aquele trabalho iniciado, devo ter guardado tudo depressa e perdido alguma peça, ou algumas, acho que muitas.

Venho procurando essas peças em pessoas, livros, relações, filmes, músicas, espreitando uma nova ontologia sobre minha ida e vinda a este mundo esmagador social.

Durante estes “insights” percebo que tropeço com muita dor diante dos meus rigores pessoais que promovi para mim. Cláusulas que achei que eram fechadas, mas estavam abertas à novas interpretações e mudanças, conforme o processo no qual eu estava inserido.

Essa coisa de intelectualismo feito inverno rigoroso, nunca me apeteceu, eu gostava mesmo era de ouvir as conversas na rua, aquelas que você ri alto em público e todo mundo te observa como se pudéssemos promover um evento inesperado em meio a um caos coletivo.

Hoje também descobri que as notas de rodapé, fazem com que eu fique desesperado para entender algo maior do que meus olhos me trazem naquele momento, enferrujando minhas perspectivas.

Eu me perco nas minhas próprias pistas que deixo sobre mim, as procedências dos meus conceitos que vivo quebrando feito ossos de um senhor de 100 anos.

Não vou me valer de toda teoria que tenho engolido durante todos esses anos, essa ideia nunca foi muito boa, porque, no instante seguinte, o objeto do meu conhecimento, torna-se distante do que sou projetado a sentir pulsar na realidade.

Realmente, minha vida é um processo de abertura para o brotar do não-revelado, gosto de coisas sem utilidade pública e coletiva, como assistir a um concerto de violão em um dia frio para matar o ódio de não entender o porque de minha condição mental  ser uma sensação tão deslumbrante e ao mesmo tempo, matadora de meus instantes que poderiam ser mais leves e frutíferos.

Minha singularidade sempre foi meu maior problema, nunca consegui caber em lugar algum, não por muito tempo. Eu me tornava monótono diante de qualquer assombro que auscultasse minha presença.

Vivemos em uma era aonde a fé é uma onda burocrática, cheia de métodos, estigmas, perversões, cotovelos de ateus e dogmáticos que são consumidos pelos seus próprios afetos abertos pela perseverança de aguardar por uma Aurora que Nietzsche já anunciou que chegou ao fim.

Tudo isso, parece um monte de palavras lançadas do abismo de meu “self”, que não é protetor de nada, só me coloca em situações indevidas e provendo circunstâncias nada substanciais.

Eu tenho que dizer que, a loucura está batendo em minha porta novamente e eu vou ter que sentar e conversar com ela de uma forma mais mansa, ou ela irá me levar para seu baile eterno de nostalgia.

E quer saber? Ela dança e eu não!

Pisar nos pés da loucura é como remontar toda uma infância e brincar consigo mesmo de olhos fechados tentando descobrir qual brinquedo gosto mais.

No final das contas, por que diabos tudo isso veio na minha mente?

É o ócio meus amigos, um companheiro que me faz produzir metáforas escandalosas que andam sem calças e razão de ser...

NARCISO E O VAZIO

 A vida é preciosa... 

Seus milhares de valores, sentimentos, vivências da experiência do logo – ali. 

Estamos entre dimensões quadriculadas, cheias de formas e cores, ângulos complexos, constituídos por dores e amores. 

A morte do espírito é longa e passageira, devaneios entre o céu e a terra, os quadrantes dos astros e suas estrelas.

Tudo é incerto, a certeza devora a franqueza, a fraqueza da sensibilidade sofrida pelos que caminham diante do espetáculo da natureza.

Não há quem não sinta os acasos, do útero brota o mistério, desconhecido ventre do amigo-íntimo, tempo em seus esferas, cronológica, aiontica e kairótica, tempestuoso.

Apresento os aparecidos, os fenômenos do rio do esquecimento.

 A jornada longínqua dos que beiram a loucura e os destemidos pelo nascimento da esfera unidade.

Tudo que sentimos, parece razoavelmente simbólico, intrínseco, relatando os desejos noturnos.

Retratos do sol, a lua que se esconde no infinito, majestosa maldade contemporânea. 

O que é inútil é aproveitável pelo passatempo do desprovido, narcisismo cheio de destroços de traumas e desleixos existenciais.

Baco, desvairado, contrariado, vive em nosso pensamento, rastejando naquele sujo labirinto que é conduzido pelo fio de Ariadne.

A vida é sensível, como o fio que nos conduz com voracidade por uma vida, aberta, que as vezes fecha portas para que a infelicidade não maltrate nossos corações.

Infortunado seja aquele que com excesso de vaidade, diga que conhece toda a verdade!

Esse cai, e de um altura inimaginável. 

Narciso, torna-se, vazio!

terça-feira, 29 de julho de 2025

CICATRIZES DE FOGO

 A morte, uma figura distante para quem sofre.

Tomo a liberdade de dizer que já não sou o mesmo.

Todos os dias, vou mudando a direção , lá dentro , como o vento.

Este vento que empurra a vida para margens desconhecidas aonde a profundidade do oceano, afoga a felicidade.

Nas horas, ouço, no romper das sentinelas do destino , o tempo me decorando.

Ele nunca foi amistoso, carrega consigo um sorriso sarcástico de quem está encenando seu último ato.

A coragem que tenho pela manhã, vai ficando pálida durante o dia, ao cair da noite, sonâmbulo , me desdenho.

Eu gostaria de reclamar com a temperatura de minhas mãos, frias e melancólicas , hoje estão dilaceradas.

A verdade é que, estou no escuro, procurando uma maneira de escrever algo para me acalmar , meu mar está bravo e eu esqueci como é nadar sem mergulhar tão profundamente.

Me desculpa, as vezes eu queria desaparecer entre essas linhas, só para reencontrar algo em mim que perdi em algum lugar deste texto.

Meus pés estão encharcados de vontade de ficarem passeando no meu inconsciente.

Não sei como eu irei superar o espanto de minha vida diante de uma tragédia que eu havia refutado com tanto clamor.

Bom, acho que comecei a delirar de novo, então, vou me deliciando enquanto ainda posso sentir minhas cicatrizes arderem.

Até parece que essas paredes deste quarto escuro, podem guardar tanta sofreguidão.

Eu vou chorar só mais um pouco, combinado?

Só você vai saber, queria dizer que a televisao da sala está tão alta que me sinto autorizado a desmoronar sem que ninguém perceba minha presença mórbida.

Penso que, logo vou ter que escrever textos mais densos, porque os pássaros estão batendo forte nesta janela de vidro e as asas deles , são navalhas mentais.

Já está escurecendo e eu volto a viver um "frenesi"...

NASCEU E É UM MENINO!

 Uma associação livre, um requinte primário, olhar, lugar divino.

Súbita vontade de estar dentro de um pôr-do-sol.

Aonde esguiam-se as flores rosas, como trincheiras tristes.

O som do vento, comunga uma oração antiga, uma prece, narrada com lentidão.

O sol não chegara ao horizonte, mas já não ardia mais.

A tarde me devorou.

Sublime destaque do barulho que faz uma antiga máquina de escrever.

Tentando constituir uma história qualquer, para falar de amor.

Traindo assim, sua mecânica selvagem e barulhenta, ela consolida o ato celestial.

Fecunda em letras, toda uma emoção vívida por dois.

Era minha paixão divinal.

Diziam-me que o amor não era capaz de curar.

Mas o que cura o amor, se arde tanto e dissolve passados tão cruéis?

O anoitecer carrega consigo, uma saudade arrebatadora, sem pele, me deito.

Noite fria, pés congelados, pernas que foram açoitadas pelo tempo, se cruzam.

O bestial sentimento de solidão, me deixa descompassado.

Ouvindo uma triste melodia, me enamoro pela frieza de meus sentidos.

Todos voltados as memórias que me ascende a tradução do que é esperar.

Não tenho pressa, correr diante deste campo todo, só me enlouqueceria.

Então, me debruço lentamente sobre uma mesa, procurando um livro qualquer.

Que possa relatar palavras que não consigo lembrar de como eu era na mocidade.

Era tão jovem, parecia uma fagulha do destino, lançada em um monte de folhas secas.

Devoção a um pensamento eterno de melancolia e exaustão.

Estava tão longe de mim, mas tão perto de meu coração, que eu me enrolava em lágrimas.

Dissolvido, existia como quem quisesse um abraço apertado para esmagar a alma.

E esse, seria para um aconchego insano e matrimonial.

E eu continuava delirando, amando todo jardim que percebi ao olhar para trás.

Reparando como as espreguiçadeiras são preguiçosas e valentes.

Lutam sempre para me manter cobiçando a força delas, trepadas no destino sem medo do cheiro da morte.

Que bravura teria eu, diante do espanto da pulsante vida?

Coitado, bastardo!

Com suas amarras sentimentais e vínculos com memórias transgressoras e sórdidas.

Apanhando de sua mente avassaladora e caótica.

Minha mente prega peças, de drama, constantemente vejo o amanhã, gelado.

Aprecio o café matinal como se fosse o último desejo de um mortal.

Analisando as letras dançarem no jardim das minhas pálpebras.

Procurando minha amada em Baudelaire e Plath.

Mitigando uma música clássica, sopro no fundo do peito, desleixo anacrônico sensorial.

Que tato eu tenho para tal maestria de me iludir com tantas belezas enquanto feio?

Essa resposta não tenho, mas sei que tenho uma ousadia desde pequeno.

Sabia pular poças de agua, hoje não sei pular uma noite sem me queixar de insônia.

Aonde será que perdi minha esperteza?

Já me recordo, foi em um verão, enquanto me afundava na lama da adolescência.

Nunca fui condecorado, era de uma inutilidade tão grande para todos, meu apelido, Sol.

Que sarcástico, levar o nome de Sol enquanto passeava pela escuridão dos vãos da escola.

Eu pensava que podia ficar invisível e ver pairar a desordem causada por austeros.

Tão delicado, faltava as aulas de treino livre para ir à biblioteca.

Esse era meu lugar seguro, no silêncio, na solidão e no cheiro de velharia que me amansava.

Eu mantive um diário por anos, depois, um blog na internet, que servia para memorar minhas tragédias e comédias que não sabia de onde brotavam.

Minha imaginação sempre foi robusta e brusca comigo, carrasca porém, muito fiel.

Acabei de recordar que lia as cartas que meu avô trocava com minha mãe.

Eles eram quase devotos de uma longínqua saudosa memória ancestral.

Falavam sobre o que haviam comido, sobre fé e Deus sempre aparecia no final das cartas, acenando e dando adeus.

Não sei aonde foram parar essas narrativas, acho que em algum lugar sombrio e abstrato da mente de mamãe.

Nunca gostei de ficar sozinho, estava sempre com a angústia no peito, por isso lia tanto para fingir que era imortal e imoral.

Sabe o que realmente é embaraçoso?

Pensar que um dia eu aprendi a sorrir de verdade quando me apaixonei por uma menina de cabelos negros e cheios de onda.

Posso dizer que foi a primeira vez que senti meu coração palpitar, parecia que teria um ataque fulminante de desejo.

Eu já era velho, tinha 44 anos, acredita?

Antes disso, eu sorria como quem vê o mar pela primeira vez, mas não molhou nem a ponta dos pés para saber o quanto ele realmente é intenso.

Sempre tive vergonha do meu sorriso, era como uma abertura de porta entreaberta, com covinhas lamentosas e escandalosas, mas não diziam nada, só abriam para os dentes passarem pelos cantos.

O tom da minha voz, incisiva e objetiva, feroz como um leão na savana e carregava a linguagem de um porta voz do mistério, arcaico vocabulário que me nutria.

Amanhã, ou quem sabe, depois, voltarei!

ALMA SELVAGEM

As coisas estão de volta ao armário...

Minha vida, em miseria e eu estou atormentado.

Quebrando os últimos pratos que restam.

Eu posso não voltar hoje a noite ?

Queria ficar em um quarto escuro e tendencioso.

Aonde eu sei que não vou conseguir sair.

E justamente quando eu estava feliz eu vi a face da dor.

Meus delírios brincando com minha sanidade.

Eu dei tudo o que possuía e acabei desalmado.

Chorando em uma esquina qualquer, desnorteado.

Agora eu sei o que aconteceu naquele dia.

Eu sei o quanto talvez não possa voltar sendo o mesmo.

Os resquícios estão na minha janela da alma.

Lama, vento e suor.

Sangue, remorso e crueldade.

Era um homem sofrendo como criança e quebrou seu brinquedo preferido , sua inocência.

Mais uma vez, na força , seu corpo virou sua arma.

Potente, mortal, agora virou seu calabolso.

Minha coragem não me deixou correr, só caminhar, cambaleando, procurando um pedaço de vida naquele imenso momento que não acabava.

Não sentia frio, parecia que eu estava morto, lágrimas congeladas desciam de meus olhos serrados.

Como vou fugir agora ?

Posso tomar banho?

Como eu vim parar aqui?

Posso me vestir com meu manto negro?

Eu já estou dentro do cativeiro que eles construíram para mim naquela noite.

Respirando ofegante, penetrado por dois animais sujos e sem cor.

Meus lábios, paralisados , meu olhar não tem para onde ir.

Eu queria só viver um pouco mais longe destes delírios.

Estou sumindo, não consigo escapar e eu sei o quanto isso é pavoroso.

Você pode me ouvir? Entende o que eu falo?

Sou nada, eu queria ser vazio, mas estou cheio de tormentos e indagações.

Eu não consigo me ouvir mais e nem saber do que falo com tanto rancor.

Eu ainda estou aqui?

O que estou fazendo aqui?

Eu não suporto mais tentar achar engracado dizer que eu sou culpado.

As estrelas estão se apagando e as nuvens cobrem todo meu céu.

O meu amor, ainda está quente em minhas veias.

As vezes eu só queria desaparecer para que as pessoas não me assistissem desaparecer feito fumaça em um dia escuro.

Agora sou noite, meu sorriso foi falado e meu corpo treme, como se quisesse fazer uma tentativa de me manter vivo.

Eu ainda estou aqui?

Tentei ir para casa, porque meus olhos ficaram apagados e sem reflexos.

Eu vi o dia virar noite e alguém me procurava para ver a morte nos meus olhos.

Fui tão incapaz de ver o tamanho da minha vida, naquele momento eu congelei de medo.

Agora sei o que é medo e as árvores estão de ponta cabeça.

O céu está se desmanchando, meus pulmões doem.

Não consigo parar de lamentar e chorar, me abriram.

Outro corte em um dia que parecia comum e que destroçou minha sanidade.

Estou sozinho, vendo minha mãe adormecer enquanto eu desencanto de tudo.

Tem uma mancha na minha retina e eu estou me desfazendo tentando refletir o quanto fui volatil e estupido.

Vou descobrir meu corpo , alguém deve perceber que desta vez estou acenando porque estou perdido no mar de ilusão .

Tem alguém aí?

Sobrou alguém ?

O que eu sou? 

Metade humano e outra, um animal que carrega dardos por todo corpo, me acertaram em cheio.

Eles eram vorazes, tinham fome de lixo e eu senti o cheiro pútrido daquele lugar desconhecido.

Agora me recordo, eu estava ali, nu e não deveria ter lutado por minha vida, a minha maior redenção era esquecer.

Lembro de quase tudo, só de como eu realmente me senti quando me disseram que estavam me fazendo um favor.

Talvez eu fosse uma bomba prestes a explodir e eu eclodi para dentro.

Sinto os estilhaços andando por cada milímetro de meu corpo.

Sabe o que dói?

Eu estava tão feliz, virei um selvagem, sem alma e indo para um lugar desconhecido.

Me sentei naquela esquina e vi o que havia sobrado de minha vida.

Sentidos que eu teria que lutar para manter , dia-a-dia.

Mamãe, não pode me der mais colo.

Papai está em passos largos por aí.

O meu amor, dorme com o coração que eu magoei.

Estou subindo uma escada, sentindo uma vertigem estranha me retraindo.

Eu que andei por tantas estradas, caminhar virou uma maldição.

Minha liberdade foi roubada e eu me tornei um cervo abatido em uma terça qualquer.

Meus sentidos não carregam mais fé e meus braços estão cansados de lutar.

Eu queria uma canção que pudesse me ninar.

Estou sem sonho , me ensina como dormir?

Meu coração está dilacerado eu cortei com uma faca amolada com o fogo da minha dor.

Minha ment está esvaziando e eu não quero lembrar quem sou , estou com vergonha de ter existido.

Eu existo?

Quais são as chances de eu continuar ileso depois de tudo?

Eu estava dando adeus para quem naquele dia?

Eu não aprendi a sorrir sozinho, tinha algo de errado comigo.

Acho que já estava enterrado e tentava todos os dias me desenterrar com as próprias mãos.

Cada punhado de terra, redescobrir minha insanidade.

Insatisfeito, montei em um cavalo qualquer e me perdi nos meus devaneios....

ÚLTIMO ANDAR

O pássaro está fazendo seu último voo...


Não consegue respirar fundo, suas asas foram cortadas.
O sentimento de dor o inspira a voar baixo.
E se ele pudesse ver o tamanho das nuvens?
Ele poderia imaginar que seu orgulho já foi para além do luar.
Está abandonado, como em seus sonhos mais obscuros.
Escurecido e doente, tenta respirar com força, suas costelas estão quebradas.
Seu coração, cheio de sangue e insanidade.
Sua mente está insalubre, ninguém aguentaria um minuto naquele lugar.
Acreditar que tudo pode virar, destruiria sua existência em segundos.
Nós podemos ainda ter amantes com um corpo tão manchado?
Veja, estamos sem pretensão, a fé foi destilada.
Suas lágrimas não cessam, sua adolescência voltou, sua braveza destruiu sua beleza.
Ele não se vê, então, imerso, começa se preparar para seu último voo.
A loucura, essa, veio para ficar em seu peito.
A arquitetura ideal de sua prosa, falhou.
Nenhuma faísca pode reascender sua lareira.
Vou está esfarrapado, dormente e os prédios estão caindo.
Você está solto à mercê do vento.
A miragem está se apresentando, sua morte está surda.
Seu doce abril, agora está atormentado pelos seus sonhos.
Seu julho, amansado para te ver afundar em seus delírios.
Você é doente, retardado e insuficiente para entender suas limitações.
Já te deixaram com a donzela de ferro, você rodopiou para o abismo
Olha para dentro, algo está tentando te deixar da cor neutra.
Você não é mulher, nem homem é um bicho, fedido.
Então tire esse poder do seu coração e ajoelhe para ver seus últimos instintos falharem.
Não tem ninguém lá fora te esperando, você adoeceu todas as frutas que comeu.
Você tem para onde ir? Não vai poder dormir naquele sofá velho, seu corpo está dolorido.
O que você está vendo agora? Consegue pensar com clareza que não é mais real?
Tudo que você amou  um dia, você deixou desnutrido e sedado.
As batidas do seu coração estão frenéticas, vão descompassar sua melodia preferida.
Está confuso? Tente se recordar daquele sorriso que ainda lhe manteve preso aqui.
Garoto, você foi insuportável até o último instante em que esteve tentando se recordar quem era.
Puxou tudo para baixo e as panelas caíram e todos estão rindo da sua cara.
Suas promessas agora não podem mais te confortar, você está atrasado para sua vista particular.
Acredite, todo mundo tentou te alcançar, mas você já estava perdido a muito tempo.
Divagando aonde o perigo te colocava diante de todas as labaredas que te consumiram pouco a pouco.
Você não foi forte o suficiente, leia a si mesmo, vai enxergar todas as suas vergonhas.
Engole o choro, nem mesmo o horário mais quente do dia pode descongelar suas incertezas.
A cidade está quieta, consegue escutar o seu inconsciente?
Aquelas vozes voltaram e agora você vai ter que convencê-las a não falarem mais alto que você.
O que te confortaria? Talvez não ser o bastante para si mesmo.
Você nunca teve nada, sonhos, sonhos simpatizantes e cheios ardor.
Pense baixo, as vozes estão gritando mais do que a rua que o provoca a sair.
Calma, seu cérebro está falhando, você não conseguiu chegar até sua casa.
Você só precisa parar de chorar e se ouvir.
Eu sei, desta vez você prefere escapar da gaiola.
Vista sua roupa que lhe cause mais frio que sua própria alma.
Meu pequeno, respire, por favor, estou ficando com medo.
Você teve que se preparar para esse dia, mas estava ocupado em não morrer.
E foi alcançado por uma névoa que te sufocou.
Você não consegue mais cantar?
Seu assovio carrega uma trilha de terror.
Seu corpo está sendo desmontado, parte por parte.
Vamos parar por aqui?
Você consegue me escutar?
Eu sei que fez tudo que pode para se segurar.
Então, a culpa foi sua, você aprendeu a voar com as asas do imaginário.
Agora irá para seu tombo final, para tentar esquecer suas memórias.
É chegada a hora de você se recolher.
Eu sei que você não consegue mais tomar seus remédios, então vomite.
Vomite sua alma encardida, meu pássaro, não deixe de bater suas asas naquela colina.
Tudo está revirado em sua cabeça, abra seus olhos o que vê?
Percebe o quanto está ferido e não pode ficar neste lugar por mais tempo?
Tudo e todos que encontra, esfria e entorpece.
Você amaldiçoa tudo que toca, por essa razão sua pele é tão fria?
Consegue enxergar aquela porta da gaiola aberta?
Está procurando razões para ficar ai dentro ainda?
E tudo que conversamos, consegue se recordar?
Naquela esquina, mais uma vez, você se encontrou, sozinho.
Você vai conseguir ficar aqui comigo?
Talvez desta vez não, então se prepare para ver outro mundo.
Não é a primeira vez que você quer isso tudo, não existe mais estranhamento.
Agora você tem pouca força para voar, eu posso ver em seus olhos castanhos.
Sua plumagem está cheia de dor, violência e seu corpo está sujo de humanos.
Veja aquela estrela, você sabe quem te deu?
Mas, você foi tão corajoso até aqui.
Mas, você foi tão corajoso até ontem.
Hoje, tardou a sua expertise, você ficou inconsciente e atrasou o relógio da parede.
Estamos perdendo a chuva de meteoros, as luzes estão apagadas.
Qual a razão para você ser tão cheio de valentia se está com seu alicerce tão frágil?
O que ainda te segura? 
Me conta sobre algo que sempre quis e nunca teve coragem de fazer?
Você me disse uma vez que se sentia tão estranho e que o mundo cheirava a fumaça de trem.
Você me disse uma vez que podia mudar sempre, mas que continuaria da cor azul.
Você me disse uma vez que quando encontrasse o amor, estaria completo.
Agora eu te vejo, pedindo socorro para um pássaro que já está morto.
Tentando acreditar em um sonho acordado que te sufoca como um coração de metal.
O que você precisa para acreditar que pode ser melhor?
Olhe ao seu redor, as cores estão desaparecendo diante de seus olhos.
Está ficando tarde para você só pedir desculpas e culpar a si mesmo por ser tão imaturo e inconsequente.
Deixe as folhas daquela arvore caírem, você irá passear por cima delas pela última vez.
Coloque os pés, sinta como cada recordação sua, te faz ingênuo e cheio de desilusão.
Foi a escuridão quem sempre te escolheu para morar nela.
Está tarde!
E você voou tão alto que ao tocá-la, se viu de novo.
A vida já lhe entregou tantas coisas, agora sinta que ela pode ser não tão grata.
Você abandonou tudo, não teve força nas mãos o suficiente para se segurar em seus sonhos.
Você foi capturado por uma sensação esquisita, ficou a comando da falta de ação.
Todo mundo te vê, tentando suportar tantas coisas sem mesmo poder falar.
Então, atravesse a colina, vá atrás de algo que te faça ser menos cruel consigo mesmo.
Pois, essa é a sua última tentativa e você não está mais no comando.
Não tem ninguém que possa te ouvir gritar em casa.
Sua mãe está entorpecida e você está sem colo, você quebrou a estátua viva.
Eu sei que você poderia morrer de olhos abertos, dizendo que soube amar.
Mas, não sorria com os olhos tão manchados de sangue.
Porque eu sinto você indo embora, se separando de tudo que sente saudade e agora não consegue experienciar.
Eu lamento muito por não poder ter ajudar, não desta vez.
Todas as suas grandes coisas, agora te transformam em pó.
Está na hora de deixar os cavalheiros selvagens desmontarem de seu corpo.
Está na hora de você não mais sentir dor, angústia e medo.
Os rios estão secando e a maré está baixa demais para qualquer navio te resgatar.
Aquele lugar escuro onde lhe deram a crueldade está em ruínas.
Aqueles garotos podres, não podem mais ouvir sua orquestra e nem te perturbar com corpos gelados.
Não precisa mais ter medo de enlouquecer, você apenas está corrompido.
Feche seus pequenos olhos, a viagem irá começar.
Você não precisa segurar tudo com tanta brutalidade, sua fraqueza te libertará.
Você não consegue nem me abraçar e eu entendo, está consumido.
A solidão já te encontrou, fique com ela e enfrente seus devaneios.
Aceite seu destino de uma vez, sua única maldade é ser feito de carne e osso.
E mesmo assim, consegue voar para tão longe.
Você encontrou o amor e o amargou, encontrou a vida e a encarou e ela te esmagou...

sexta-feira, 25 de julho de 2025

SEGREDO-SENTIDO

Solidão é um lugar de morada do pássaro selvagem...

Um lugar onde o útero "Eu" torna-se ninho.
Quando habitamos o ninho, fazemos nossa casa mais secreta.
Ali, o mundo é feroz e avassalador.
Quem passa por aquela rua vazia entende a dor.
Talvez no algoz movimento de tentar compreender o não visto.
O sentimento de voracidade que transluz a falta de caminho.
Levantar-se de si, requer muita força, arrebenta o peito, sentido de não pertencimento.
Erguem-se muros, tijolos imensuráveis, cheios de angústia e medo.
Algumas pessoas conseguem colocar a cabeça para fora do ninho.
O que veem, não conseguem relatar, choram de receio, engasgam com as próprias certezas.
Dizem que existe um clube dos sozinhos, mas eles não se pertencem. 
Sem mundo coletivo neste momento, abstém-se da relativa felicidade ao caos.
Somos destemidos diante deste cenário tenebroso, mas ali, existem as flores, sem cheiro.
Quando cai a noite, essas flores iluminam um túmulo do "eu-deu". 
Sobre a relva mais entorpecida de mágoas, afundam-se as orquídeas.
Silêncio e suas ressacas nuas, desapercebidas pelos vizinhos aflitos.
Abre-se um oceano nos olhos de quem não pode enxergar-se, destituído, envelhece.
Ao abandonar esse ninho, tem-se a sensação de que um dia voltará a vir-a-ser construtor de outro, ainda mais profundo e protetor de segredos-sentidos.


terça-feira, 24 de junho de 2025

TARDE DE DOMINGO

Tarde de domingo…


Vou contar até 10 para ver você adormecer dentro dos seus sonhos mais íntimos...


Eu quero te fazer minha, estar sob sua pele, seus pelos, suas nuvens cheias de pensamentos.
Quero estar dentro de cada festival que você for, ser sua banda preferida.
Eu amo amar você, no jeito que se levanta manhosa, no jeito que adormece, apagando a luz de meu espetáculo.
Ande em círculos por mim, na ponta dos pés, me renda no seu afago, me despindo.
Porque eu te adoro como uma obra de arte, intensa, marcante e inesquecível.
Você está em todos meus encantamentos mais secreto, você é minha religiosidade mais antiga.
Eu observo sua confusão e eu grito, estou aqui e vou lançar seus ventos sombrios para longe.
Porque assim como o cair da tarde teme acabar, quero seu deleite em querer renascer todas as manhãs cheia de beleza e coragem.
Quero te fazer ficar embriagada com seus próprios delírios.
Quero ser o seu descanso mais sincero, singelo e singular.
Quero ser o seu dia, antes mesmo que ele amanheça.
Quero que toda vez que você pense em uma música, que eu esteja entrelaçada na sua memória.
E se acabar a sua felicidade, quero ser o seu lugar secreto para você habitar.
Então me diga, o que hoje lhe faria feliz?
Eu posso abrir um mundo todo para você passar, igual você fez naquela tarde de domingo.
As nossas chances de sermos completas, começa quando você se debruça em meu querer.
Comigo, você não é prisioneira, tem a liberdade de ser apenas autentica e livre de medos.
E se você sentir frio, quero ser a pele que você irá querer vestir.
Quando você se sentir insegura, quero ser seu auge de companhia.
Porque aquele dia, meu amor, o sol era só nosso e tudo que nos rodeava era nostálgico.
De certa maneira, já vivemos isso, em algum lugar de nosso passado.
Vou estar  na sua batida mais pesada, na melodia que te faz querer tirar os sapatos apertados e dançar.
Te quero nos dias de chuva, de tempestades negras, quero o ensolarado do seu adormecer.
Quero ser o sonho que um dia você teve, mas achava que estava somente preso em seu filme de romance preferido.
Quero ser sua cama, seu lugar de descanso e de repouso absoluto.
Porque eu te esperei por décadas, por dias que pareciam intermináveis.
Quero ser seu interminável delírio cósmico e este irá nos renova, realizar a mutação a cada chegada e partida.
Quero te enlouquecer com a minha voracidade, ter sua intimidade e a minha violadas.
Quero ser suas últimas palavras que você irá dizer antes de pegar no sono mais denso.
Quero ser a poça que deixa seu sapato preferido mais úmido.
Aquelas cadeiras, estavam tão distantes quando chegamos!
Depois, o seu colo era tudo que eu clamava naquele momento.
Quero ser seu encontro perfeito, te selar com um beijo.
Porque, para mim, sempre será o primeiro e o último dia na terra.
Então, podemos começar a traçar metas e planos, porque cada milímetro de mim, deseja todos os seus caminhos percorrer.
E quando você diz que precisa ir embora, eu seja seu reencontro mais profundo.
Estamos falando a mesma língua?
Estamos nos encontrando ainda naquele bar?
Com os olhos vendados pelos nossos óculos, cheios de sentimentos ocultos.
Essa é nossa viagem singular, um lugar aonde nossas almas se encontram.
E quando eu te vi, meu coração pulsou tão forte, que seu abraço me acolheu.
Eu quero ser recebida por suas fantasias mais eróticas e selvagens.
Quero ser o seu amor matinal e cair na madrugada diante de seus olhos, me tornando seu lençol mais sedoso.
Gosto do poder do seu sexo, do “labor” do seu suor sagrado.
Quero ser seu orgasmo múltiplo, evocado!
Eu não consigo explicar o que sinto, só sei que todas essas palavras, me encontram como te encontrei naquela tarde de domingo.
Não precisamos de nossos segredos mais, coloque todos eu seu bolso, estamos vestidas com o mesmo casaco.
Com nossas camisas cheias de insanidade e coragem.
Porque, quando você estava sentada naquela mesa, eu te dei muito mais do que uma chance para acreditar em nós.
Por mais que você não conceba o que podemos ser juntas, eu te explico fechando seus lábios lamacentos com minhas boca cheia de paixão.
Quando peguei em suas mãos, eu senti uma outra dimensão, abrindo!
Então, quando você sair para as ruas, saiba que tem alguém te esperando chegar.
Cheia de vida, iluminada e cheia de carinho para se exaltar.
Então somos nós, amando o que algum dia alguém nos prometeu e não cumpriu, porque já era nosso.
Te amo e te amar é acreditar que todas as coisas que eu desejo, são reais.
Garota, sei que podemos desbravar mundos, mas o seu, sempre será o meu lugar preferido.
Então, não se embriague sozinha, porque eu serei seu líquido preferido e eu vou beber até sua alma.
Se um dia você se esgotar, saiba que pode procurar em meu olhar o seu estar.
Porque eu estou tentando narrar um dia, enquanto eu estou presa no nosso destino, aberto!
Eu quero esgotar sua saliva, seus suspiros, quero ser o que sana sua sede de vida e de morte.
Quero te ressuscitar todas as vezes que desejar desistir de algo que já é seu por vitória concedida pela sua força.
Faça silêncio, consegue ouvir as batidas do meu coração procurando suas melodias mais intrínsecas?
As vezes, sonhamos tanto com algo que adoramos que esquecemos o quanto podemos ser inesquecíveis para alguém.
Então, ponha-se de braços abertos em qualquer cama que quiser, eu estarei no seu ponto, sussurrando seus contos mais eróticos e insanos.
Vou te tornar imaculada, adorada, rebele-se, livre-se de tudo que te faz ter vontade de correr para longe.
Fique, não precisa temer, porque eu sou sua voz que muitas vezes, esganada, não sabe narrar o que realmente você precisa para ser feliz.
Essa é nossa história, esta noite, estamos consumadas, cheias de luzes nos rodeando.
Seja literal, visceral, comestível e absoluta, porque os desejos incandescentes nos rodeiam de prazer.
Seja sua mãe, a sua irmã, a sua insensatez não pode te alcançar quando deseja algo com muita força e foco de conseguir se entender e os seus desencontros, vão te tornar leve.
Quando você vencer suas batalhas, olhe na primeira fila, estarei lá para te aplaudir e chorar de orgulho e admiração, sou sua fã incansável.
Inarrável é o que não consigo calar, meu amor por você , toda devoção e excitação ao tentar te transmitir e transmutar em palavras , o quanto é inacreditável te amar.
Eu te exalto, em seu auge de perfeição e de intuição mais forte sobre o que é a realidade.
Eu te tomo, meu amor, minha mulher, minha vida, para toda eternidade que você quiser...

segunda-feira, 23 de junho de 2025

PRÓLOGO PARA UM FIM

 O cavaleiro se prepara para tua última missão...


Mergulhado em um oceano profundo, onde só consegue ouvir teu coração.
Com os olhos marejados, lábios cerrados e a sensação de completude.
Teus pedaços estão por toda espuma do mar gelado.
Em tua alma, carrega a lealdade por tudo que conseguiu carregar.
Agora, tuas bagagens não são mais necessárias.
Deixa tua dor na beira do mar.
Seguem as ondas, em um movimento suspenso de calmaria.
O frio não mais o congela e o balanço da rede não lhe enlouquece.
Os passos na areia estão se apagando.
Ninguém precisa seguir por onde passou teu coração, ariano.
As mágoas agora dão lugar a um céu estrelado.
A dor dá lugar para uma nova estadia em outro mundo.
Ali, ninguém irá mais o machucar, mesmo porque ele não consegue se refazer.
Chegou na linha do abismo, olhou para dentro de si, teve teu perdão.
Já deixou em linhas tudo que podia de teus devaneios mais sombrios.
Deixou, também, teus romances, tuas dúvidas e certezas e o amor que encontrou.
O cavaleiro desce de teu cavalo selvagem, caminha entre as relvas negras.
Mata fechada, outro lugar o aguarda para tua nova jornada.
Fecha-se o livro do substancial e o imaginário...

A carta dos céus está aberta...

domingo, 22 de junho de 2025

NO TEU AMOR

 No teu amor...


O teu amor é agua profunda.

Lugar onde mora a nascente do meu rio.

Estado de graça avançado.

Cheiro de mata fechada, coloração do tardio.


O teu amor é estrada.

Lugar onde mora as curvas do horizonte.

Estado de Dádiva avançado.

Cheiro de paixão e desejos que estavam trancafiados.


O teu amor é fogo.

Lugar onde a lareira fica acesa, quebrando o frio.

Estado de Euforia, avançado.

Cheiro de fogueira que na clareira em um dia vazio.


O teu amor é vanguarda.

Lugar onde meu amparo sentimental é o fio condutor de minha jornada.

Estado de Júbilo avançado.

Cheiro de vida, transcorrendo a poesia em mim contida.


O teu amor é norte, sul, leste e oeste.

Lugar onde encontro todas as coisas que em mim, descansam regozijadas.

Estado de Entusiasmo avançado.

Cheiro de realizações, abre-se a carta dos céus.

Tu carregas em teu peito, o meu destino, devir e arranca de mim, meu véu.

INVERSÃO

 Entre os opostos, caminha a alma atrofiada para que a mente avance...


Na melancolia das horas, cessa todo interesse pelo já sentido, inversão.
A eleição de uma nova garantia de mar, alvoroço, poesia avulsa.
Sobe uma lua tímida que recusa a personalidade mais involuntária de si.
Um fragmento de si, em um mundo formulado por devaneios.
Euforia e depressão!
Desdobrando as fronhas do intestino cheio de cólera e dor.
O objeto amado e perdido, a mente que regressa de um sonho não realizado.
Uma partícula de introversão caminha dentro das veias sigilizadas pelo vento noroeste.
Quem concedeu permissão para ser tão triste?
Eu lhe digo que a decisão vem de um lugar que não é particularizado.
A história não é unilateral, narra sua jornada motivada pela falta de certeza sobre a vida.
Enquanto isso, em algum cômodo da casa, a lógica racional destrói a realidade. 
Comendo suas metades, fragmentos de ferocidade, pressente o passo a seguir.
O mundo externo não é a única realidade.
Sinto que anteciparam os sussurros apoéticos da mocidade que fora perdida naquela noite.
Tudo que sinto transborda, dando lugar a um vendaval, inconsciente.
Minhas funções primárias começam a devorar meus sentidos humanos.
Um animal corre ligeiramente para a clareira.
Anunciando mais uma lua cheia...


terça-feira, 10 de junho de 2025

FAGULHAS NO CÉU

A guerra ainda não acabou em minha mente...

Subtrai todas as essencialidades que eu possui, escrevendo sobre mil coisas que pensei que não eram só minhas.
Nas minhas indagações, sonhos, devaneios e esferas que me reduziam a pó.
A questão da minha materialidade como um ser existente, estava quebrada.
Desmembrado, corria para um lugar aonde as cachoeiras gritavam  meu nome, desesperadamente.
Eu não sabia aonde estava, só entendia por algum motivo, que estava ali pedindo clemência.
Passei muitos anos da minha vida, ouvindo e insistindo e auscultar o que todos me diziam.
Fiquei em silêncio por noites, ninguém entendeu, não tinha ninguém para pegar a carta na caixa de correio.
Talvez, fosse uma carta endereçada a minha alma, pedindo para que eu fosse mais cauteloso.
Ou, uma espécie de redenção querendo ser formalizada.
Até o presente momento, não descobri, a carta envelhece junto comigo, trancada.
As dores que ando sentindo, são muito fortes, mas incapazes de destoar minha melancolia.
Queria que fosse diferente, mas eu era diferente de tudo que achava que estava sendo.
Era cruel o que eu fazia comigo mesmo, torturando minhas memórias atrás de um viés para minha insanidade.
Creio, que devo ter enlouquecido na adolescência, quando tentava demonstrar alguma empatia por mim mesmo.
As vezes, até dava certo, mas em outros momentos, era tão trágico, que eu ria de mim mesmo.
Uma risada aguda, de quem havia ferido a si mesmo e não sabia o porque.
Estava exausto, quase que entrando em coma, devorando minhas árvores secretas, meu jardim, estava quase vazio.
Vivi por muitos anos, inacabado, tentando reencontrar alguém que se perdeu em um parque de diversões.
Não tinha ninguém segurando as minhas mãos nesse passeio.
Era apenas eu e alguma parte de mim que sonhava com algo cômico.
Balbuciava realidades nas quais, vivia relutando para construir uma nova experiência da minha vida.
Amores, dores, lutos e muitas trevas.
Ajudar as pessoas, sempre me equilibrou de uma forma que a morte em poucos momentos me procurava.
Acho que até mesmo ela, me evitava.
Quem dera por um segundo, eu consegui rememorar algum instante que durasse mais de um dia sorrindo.
Eu tinha que ser forte mesmo perdendo tudo em instantes.
Mas estes instantes, eram ferozes e cheios de raiva.
Sem pudor, caminhei anos a fio, testando minha sobriedade, montando em algum cavalo arisco.
Na verdade, eu sinto dizer, mas, eu ficava estranhamente realizado com velórios, aniversários e qualquer que fosse as confraternizações.
Esses lugares, me atraiam muito, porque eu fingia que podia adivinhar o que os convidados sentiam.
Inventando histórias sobre algo similar ao que eles aparentavam ser.
O grande espetáculo estava na despedida final, aonde a tenda do circo caia sobre a cabeça de todos.
Fico pensando, será em alguma metade de um dia qualquer eu consegui não me sentir eufórico?
Eu não podia dar o luxo de ficar doente, tinha coisas mais sérias para resolver.
Me recordo de uma vez em que vomitei em público, após ter comido um cachorro quente de rua.
As pessoas viraram meus espectadores acirrados, quando minha garganta expelia minha doçura para fora do meu corpo.
Me envolvi com muitas pessoas, elas conseguiram provar que eu carregava uma maldição.
Choro muito, ao cair a noite, só deseja ter alguém para contar o que me assombra.
Falar sobre alguma coisa que eu nunca tenha contado para ninguém, dividir o segredo de mim  mesmo.
Um rapaz que destronou a si mesmo porque nem mesmo beleza, tinha por inteiro.
Sorria muito, era bizarro como as pessoas gostavam de meu sorriso cortante.
Tenho muitas covas, brinco mentalmente que elas enterram meus desejos mais obscuros.
Sinalizo a vida, como se ela fosse de brinquedo, queria morrer e parar tudo.
Acabo não tendo nem a coragem de conseguir intuir que isso tudo é um grande deslize emocional.
Perdi alguma coisa que estava em meu bolso, acho que meu relógio que capturava os fieis segundos que me puxavam para baixo.
Hoje, não sei muito bem o que tenho, sei o que sinto, amor.
Em alguma estante velha, devo ter guardado o meu próprio álibi do meu crime passional.
Matei de novo, meu personagem principal e fiquei muito excitado.
Percebo algumas fagulhas no céu, tentando me indicar alguma direção.
É só uma vertigem de alguém que nem comer, tem a dignidade de fazer direito.
Por exemplo, a agua que bebo, compulsivamente, transborda em minha saudade.
Nada permanece intacto quando eu estou vivendo algo.
Parece que pode ser, aquilo que disse lá em cima, a  maldição.
Em algum momento fui abandonado em uma encruzilhada qualquer e o demônio mais aflito, me resgatou.
Que pena!
Eu não deveria ter permanecido naquelas estradas velhas, aonde as placas diziam as saídas.
Foram todas, apagadas pelas chuvas torrenciais, geladas, cálidas e desnudas de esperança.
Me vejo ainda, algumas vezes, fazendo tudo que posso por aquilo que me resta.
Descobri que esse "aquilo", sempre entrego para alguém que pede comida na rua.
Vou sobrevivendo desta forma, com uma dor aguda de ser.
Estou tentando me restaurar, mas sou bruto demais.
Alguém lá fora de mim, ainda me quer morto.
Na verdade, me sinto um fujão em um campo de batalha imenso.
Com a espada ensanguentada com meu próprio sangue, fingindo estar lutando contra algo...

sexta-feira, 6 de junho de 2025

CONFUSÕES ATENUADAS

Eu estou aberto novamente...

Pensando em todo tempo que passei indo embora.

Bebendo minhas últimas lágrimas, tentando ir para algum lugar novo.

Eu sei o quanto eu fui tolo, estou gelado.

Você pode não me quebrar estar noite?

Eu estou tão cansado e sem força.

Eu ouvi um sussurro a noite passada, eu poderia ter dó de mim mesmo, mas acabei adormecendo.

Sei que estou encrencado com meus pesadelos, mas prossigo querendo adormecer.

Morri muitas vezes tão jovem, jogando forte com tudo que eu queria conquistar.

A vida passou rápido e eu me vi desnorteado com meus pensamentos obscuros.

Eu queria lhe dizer que as sombras voltaram e não querem me deixar levantar.

Se eu pudesse dar adeus a tudo que ainda me cerca, eu cantaria uma música sobre meu mundo.

Vi os pássaros correndo em minha direção e eles queriam minha carcaça.

Então, quando eu corro, procuro chegar na ponta do abismo e ele está dentro de mim. 

Alguém me disse que eu já enlouqueci quando deixei me dominar.

Mas todos os meus segredos estão dentro de uma caixa velha e eu perdi a chave do cadeado.

Preciso que aqueles pássaros atravessem minha alma.

A solidão tem me feito tanta companhia que eu sinto um verme comer meu destino.

A paixão tem  me salvo de tantas coisas, mas eu estou preso debaixo de minhas memórias.

Procurando um lugar profundo para ficar, para esperar a maré baixar.

Estou envelhecendo tanto que meus músculos parecem raízes antigas.

Você pode me levar para baixo de novo?

Seja dura comigo, porque a música parou de tocar e o silêncio é melancólico demais.

Eu tenho uma guerra dentro de mim, entre as coisas que desejo e as que sonhei.

Percebi que a arvore que ficava na ponta da colina, está com o tronco rachado.

Não posso me assistir sumir e mutilar minhas últimas esperanças.

O inverno ainda não é rigoroso o suficiente para petrificar minhas certezas.

Continuo cavalgando naquele cavalo jovem que insiste em me levar de volta para casa.

Eu sei, você sabe o quanto eu tenho desaparecido nas tardes, eu estava plantando algo e acabei comendo minha sanidade.

Minhas confusões estão atenuadas e eu não posso vencer a guerra que comecei quando escolhi não mais lutar.

A minha resistência faz com que eu ame coisas que ainda não estão sólidas e isso me consome. 

Tenho sintomas de febre, acho que estou começando a reviver algo que já tentou me distanciar de minha real jornada.

Levei para fora tudo que eu pensei que era válido para eu tentar continuar andando por ai.

Era tão belo quando tudo ainda conversava comigo, agora eu sei que, não entendo mais nenhuma palavra do que eu tento falar.

Estou com uma fenda na alma, revelando a escuridão que habita meu corpo...



sábado, 31 de maio de 2025

AURORA CELESTIAL

 

Beijo é extensão,

Vaidade, conexão e aceitação.

Uma parte do desejo que se instaura no eu do outro.

O outro sendo em si mesmo, você.

O afastamento de um lábio para outro, satisfação, oxigenando a alma.

Contra-desejo , lugar aonde as feridas se fecham e dão lugar ao ato sagrado de louvação do ego.

Pulsante estadia em outro mundo,

Aonde toda ilusão, vira consciência e desdobra-se em majestosa realidade.

Conta-se que o beijo é a imersão da imensidão do ser.

Uma luta profunda de não querer sair do lugar de acolhimento.

Aonde o véu do querer, despe a Aurora que está escondida no céu...

domingo, 18 de maio de 2025

PERIGEU

 Os olhos estão voltados para o céu...

As estrelas estão caindo, cerca de mil termos vão se dissolvendo.

Parece um pouco maior aqui de baixo, agora estou amplificado.

Em meu coração, existe um significado, um ponto mais próximo da minha razão.

Estou diluído em um fluído cosmológico.

Tentando decifrar qual a cor mais forte no vestido colorido da dama oculta.

Se quiser, eu posso acabar dizendo que algo que me orbita sempre esteve diante de seus olhos.

Minhas lacunas, uma memória distante do que eu posso narrar, eu estive presente-ausente.

Não existe uma norma, ritmo ou sobriedade que me faça lembrar de meu último sorriso.

Eu estava distante o suficiente para não usar analogias sobre minha própria claridade.

Consegui cavar profundamente esta noite e vi uma evolução em tirar toda lama de cima de mim.

Um lago apareceu no meu jardim, a agua lembrava a profundidade do seu olhar, insano.

Derivamos de um sentido atual de algo que se move para cima e para baixo, sem direção.

Mas, eu não posso ser literal, minhas palavras estão sobrepostas em uma mesa vazia.

Então, me diga o que sente quando sabe que pode me deixar alto?

Amor, paixão, sombras, flores que nascem em um jardim particular, quem irá colher?

Partindo do passado, eu mereci uma parte de mim que era intocável, fui simbólico.

Na referência das minhas antigas crendices, acabei em um abismo aberto para o Nada.

Eu posso colher nossas flores essa noite?

Estou pegando fogo e minhas confissões são tão imaturas e inatas.

Digo, algo profano me tocou e eu senti todo sangue do meu corpo, ferver. 

Entramos em um lugar em nossa alma, aonde qualquer coisa que for tocada, irá ganhar vida.

Silêncio grosseiro, como se estivesse fadado a resistir a qualquer estrondo astral.

Eu venho calado tentando coletar as coisas bonitas e saindo com as mãos vazias.

Você sabe o que houve naquela noite? 

Trocaram as estações e só sobrou um manto escuro me testemunhando. 

Em passos curtos, vou adormecendo pelas vozes ensurdecidas pela inconsciência.

Parece um castigo, mas não cabe, a xícara derramou, nossa sanidade chegou ao coração.

Vou voltar para minhas feridas, projetando com força, toda temperança que puder.

As correntes estão enferrujadas e eu ouço o romper das horas, anunciando que a Fera voltará para esse mundo.

Qualquer vínculo que não possa levar o barco até o cais, será encerrado.

Em todos os versos, existe uma esperança, um deboche existencial e uma cortesia da morte.

Pode ser que o rio que corre e arrasta minhas virtudes esteja rompendo a barreira da realidade.

E hoje, nem toda minha resistência seria capaz de ocultar os meus desejos mais íntimos.

Existe uma sede inesgotável na minha boca, que não pede licença para que o mundo me tema. 

O vento soprou para dentro de mim, um tempo melancólico e nada sadio. 

Está tarde e minha febre é mansa e meus caminhos, sem pudor...


quinta-feira, 15 de maio de 2025

CONSUMO DO PESADELO

 Está aberta a temporada à caça...

A presa sou eu mesmo, montado em meu cavalo em chamas.

Aonde os olhos dele, são vermelhos como o sangue que corre em minhas veias.

Destilando todo meu devaneio nas folhas brancas que atravessam olhos esbravejados. 

A sonolência não me importuna, estou diante do meu próprio desejo.

Minha pele está se desfazendo, parece cera, prorrogando um pedido qualquer.

Os desfiladeiros com seus ecos, escutam meus gritos de pavor.

A ardência das chamas interiores, me excitam, estou em um sexo inseguro.

Minha mente está cercada por todos os lados de desolação.

Percebo que minhas pernas começam a bambear. 

Sinto o gosto da absolvição da morte, um antigo prazer que me fecunda a elegância das horas.

Horas que, me julgam banalizado, inconscientes lembranças me visitam.

A porta está aberta para todas as emoções e eu estou fervendo feito uma caldeira.

O cheiro de lírio branco, misturado com uma música do Phillip Glass no fundo de minha sombra.

De joelhos, observo a lua se afastar, estou sem piedade do tempo que está se engendrando no horizonte.

Por cima de minha cabeça, estrelas, todas querendo morrer antes do tempo.

Elas querem explodir e virar só uma memória passageira.

As cadeiras agora, estão todas viradas para cima, com suas pernas envergadas.

Meu colapso mental me confunde com minha própria natureza de estar ausente.

Vestido de horror profundo, desta vez não carrego lamentação.

Todos estão à minha volta, mas não podem me ver, eu os engoli por precaução.

Esfomeado, cuspi um por um, para que em uma poça de sangue eu possa dançar minha última melodia.

Esse pode parecer o último ato do poeta rústico que mergulhava nos seus sonhos mais pesados, para no outro dia construir uma canoa de ossos.

Quem tenta enxergar o que ali acontece, entra em um nevoeiro.

Lamenta não conseguir ver a luz tão forte se transformar em uma relva de arvores mortas.

Os galhos destas arvores apontam para o céu, suas raízes doem, como ferimentos profundos.

Profanamente, deslocamo-nos para um segundo a frente, o presente não existe mais.

O passado começa a entornar suas angústias como se tentasse se retratar de um futuro banalizado.

Nada se move, não mais.

A calma causa paralisia em toda agua do oceano consciente.

Estou mergulhado em uma lama, que cheira a constrangimento e desafio pessoal.

As pessoas começam a se levantar, mas estão cegas e sem lingua.

Conjurados estão!

O cavaleiro ferido, toma as rédeas de seu cavalo selvagem em chamas e parte para a floresta fechada.

Essa noite ele não poderá continuar a morrer, não tão rapidamente.

Porque sua poesia está crua demais e sua bestialidade o feriu.

Cavando com as próprias mãos o peito ardente, ele chega ao núcleo de si mesmo.

Consumado o pesadelo está!!!

terça-feira, 13 de maio de 2025

OUTRAS SOMBRAS DE NÓS MESMOS

 

A estrada está aberta novamente...

Você sabe que o oceano nos engoliu e agora sabemos a profundidade da solidão.

Eu sinto que meu corpo está quebrado e minha alma quer fugir do corpo.

Mas, as paredes estão rachadas, estou buscando uma outra saída para nós.

Abra seus olhos, deixe esse ódio de lado, estamos longe de nós mesmos.

Se você olhar ao redor, sempre estivemos sozinhos.

Procurando um lugar melhor para habitarmos, mas acabamos sozinhos com nossas malas melancólicas.

Fomos possuídos por alguma coisa que vem de um lugar cheio de desgosto.

Não se esqueça, nós tínhamos vários pontos em comum.

Construímos um castelo e os jacarés estão famintos procurando nossos restos.

Quando buscamos uma ideia de como poderíamos estar sóbrios.

Lutando contra esse fogo que nos quer deixar em cinzas.

Fomos tão amigos, amantes e realmente, não entendo aonde estava o desfiladeiro.

Então, dê a volta, não se esqueça que eu não posso te odiar de olhos fechados ou abertos.

Porque eu te vejo, te sei no seu lugar mais instintual.

Esquecemos alguma porta aberta e nossas cartas estão voando por todo mundo e quem tentar nos compreender, vai acabar vendo em si mesmo, o que fomos.

Nas certezas que possuímos, alguns instantes estão se partindo em mil pedaços.

Sinto um gosto ruim na boca, parece que eu deixei de sentir o gosto da vida.

Mas, minha alma não consegue esquecer aquele perfume que vinha do seu corpo.

Estou tentando recapitular nosso último dia, não consigo lembrar de você sorrindo.

Só via a tristeza conversando ao seu pé de ouvido.

Sussurrando coisas que não eram nossas e você adoeceu profundamente.

Não te culpo por ser uma garota tão perdida diante do cenário que construíram para nós.

Poderíamos ter esquecido toda essa possessão momentânea de raiva, mas o mar nos engoliu.

Tragou para dentro do seu abismo, nossas memórias e acabamos afogados.

Abra os olhos, eu sei que você me queria morto para poder fechar meu caixão e esquecer de tudo que não podemos viver.

Sabemos que o vazio faz eco, as vezes acabamos esquecendo o que sentíamos.

Mas escolhemos uma dor insana, que ressalta nossa personalidade mais ferida.

Então, feche seus olhos, eu já estou dentro do nosso túnel secreto...

domingo, 27 de abril de 2025

A SOLTURA DA FERA

Quando você é violado pelo mundo, a sua sombra salta da sua mente...

Você começa a entender os sinais que buscam na sua sanidade, saída.

Começa a cavalgar como dois cavalos selvagens em uma corrida desesperada para manter a vida pulsante.

Estreita sua jornada, a sentir cada veia do seu corpo dilatar.

Sente o seu sangue, engrossar de tal modo, que quer que ele saia pelos seus poros.

Adentra sua inconsciência de forma violenta e destrói a fragilidade dos sentidos.

Comendo cada pedaço do seu corpo, de dentro para fora.

Balbucia o silêncio quebrado da morte, evocando seus espíritos mais profundos.

Aonde o medo, não reside.

Aonde a solidez da alma não tem escapatória.

Percebe no cheiro da pele humana, um desejo de consumo incontrolável.

Deseja cada centímetro do universo como sendo parte sua.

Desloca sua cumplicidade pela desleal causa a ficar residindo em um mundo superficial.

Destoado, viaja para seu interior mais maligno e sombrio.

Aonde as trevas, são seu esconderijo preferido, aonde se alimenta dos desejos mais insanos e imaturos.

Primitivo, o chamado do originário se descontrola e começa a esvair por todo instante que se movimenta pela luz.

A luz, não te cega mais.

Então, com o estomago embrulhado de tanto sordidez, alcança o apogeu da Lua de sangue.

Se encosta na sua deidade aonde a sua humanidade desolada é enterrada, viva!

Não tem perdão, a busca pela vingança reluz nas linhas que entrelaçam a narrativa de nascimento de um monstro, feroz, faminto e fulgaz.

Baba como uma fera enlouquecida em uma tarde de domingo.

Faminto, ressuscita seus demônios adormecidos que gritavam desesperados por soltura.

Desalmado, abre a porta do seu inconsciente e invade um novo mundo...