Exposta em um quarto escuro, sem movimento...
Por um instante não estava alta, me desconectei.
E quem poderia sentir tudo isso? Uma escuridão tomou conta de mim, acordei na posição da morte, com dois cavalos em cima de mim, trajando a roupa do meu destino.
Eles me marcaram e eu senti que alguma coisa dentro de minha se desconectou.
Abri os olhos, no susto, minhas roupas estavam imundas e impuras.
Me abriram como se eu fosse uma caixa, arrebentada sem mais poder carregar nada, parti.
Me recordo apenas do gosto de sangue, lambuzando minha boca, dançando na minha língua.
Minha dor corporal dilatava minhas veias, me subtraindo por uma noite fria e cheia de medos.
Em qual posição eu estava? Rendida!
Uma secreção escorre do meu destino, está tentando me engravidar do suicídio assistido.
Eu tenho os lábios marcados pela força de um punho maltratado e parece um beijo forçado pela destruição.
Não sei como fui parar lá, mas estou tentando contar sobre o que resta de mim.
E agora, todo meu sonho parece querer me levar para aquele quarto escuro, que cheirava morte.
Acho que garoava, porque minhas roupas estavam molhadas e frias.
Cheguei em casa, fiquei sentada, tentando entender, mas o meu trono era de perdição.
Se eu pudesse, escolheria ter partido a ficar com o que ficou comigo.
Não sei como eu estou, não sei o que sinto, só pressinto algo maior do que eu posso suportar.
Eu não sei a quem clamar, estou tentando me achar, em pedaços de vidro quebrados.
Alguém quebrou a janela da minha alma e os estilhaços estão me ferindo.
Você consegue ouvir as batidas do meu coração?
Esse ritmo é frenético e parece que o céu vai despencar sob minha cabeça.
Estou cuspindo os dejetos, mastigando minha falta de solidez.
Eu não estou mais aqui, isso parece um grão de felicidade.
Eu não estou mais aqui, isso parece um fato terrivelmente engraçado.
Porque eu sei que todos os meus passos, vão querer me levar para o quarto da destruição.
Porque eu sei que todos os meus passos, vão querer me levar para debaixo da terra, aonde a escuridão não me assombra.
A porta escura ainda está na minha mente, com sua fechadura quebrada, alguém foi arrombado.
Eu não estou mais aqui, porque meu corpo dói tanto que eu fico inconsciente tentando lutar.
Eu não estou mais aqui, porque minha mente foi violada e eu perdi minha liberdade.
Então, quando eu fecho meus olhos eu tenho medo de abrir e retornar para o lugar do pânico.
Querida, eu não estou mais aqui, então vou arrumar minhas malas e sei que já te falei o que sinto.
Eu não estou mais aqui, os cavalos correram tão rápido que pisotearam todo meu corpo e me feriram com suas unhas cheias de maldição e terra fresca.
Estou sem meu amuleto, então deixei em algum lugar fora de mim, porque a sorte que eu tinha, se rendeu aos caprichos da vida selvagem.
Entendo que já estava tão frenético, sem controle, no excesso e na intensidade máxima que o mundo tentou me recolher de uma forma imatura e injusta.
E eu aceito como um presente para fazer o que eu preciso fazer, cochilar e sussurrar meus segredos mais pejorativos.
Se eu pudesse, eu andaria até minhas pernas quebrarem no asfalto, mas isso ainda não seria o bastante.
Alguma coisa está acontecendo e eu não sei mais o que é tristeza ou felicidade.
No contorno do meu corpo, vejo variações, catástrofes e sujeira.
Quando toco cada parte dele, sinto que ele não está mais consistente, como se estivesse se esvaindo.
Eu já estava sumindo a algum tempo, agora, o vento está levando minhas cinzas.
Sinto as pegadas dos cavalos por todo meu corpo, eu não posso nem sentar para me ver arder em ódio.
Eu não posso respirar sem que minhas costas não se contraiam a ponto de me machucar.
Eu não estou mais aqui, porque agora não tenho mais força e toda minha brutalidade me mergulha em solidão.
Soltando as rédeas dos cavalos eu vou me desfazendo, porque eles são livres e eu estou presa em mim mesmo.
Eu ouço alguém me chamar?
Esse é um sinal de declínio?
A cama já está posta?
Então eu já posso ir embora?
Eu estou ouvindo vozes de pessoas que nunca conheci, isso é loucura?
Estou cheirando a sémen de cavalos que estavam alados e perderam suas asas para a vida traiçoeira.
Estendi meus braços para tentar roubar uma nuvem e ela vomitou suas demências em mim.
Não tenho cheiro de limão siciliano ou baunilha, estou fedendo a destino de mau agouro.
E seu eu tivesse um aneurisma ? Meu sangue iria drenar toda minha sanidade.
Isso é felicidade?
Eu não estou aqui, mas vou levar um olhar triste que me fez lembrar um momento tão bom diante de um caos, naquele lugar aonde eu estava tentando curar minhas feridas...