Hoje acordei com o coração mutilado.
Términos de relação são bem complexos para mim e sempre se dão de uma forma cada vez mais estranha.
Desta vez, o tombo foi tão grande , mas tão grande , que toda vez que eu conseguia dormir, só pensava nela. Também, aquele cheiro, beijo, toque , tom de voz, eram e são inspiradores.
Amor dói e para um caralho!
Me peguei pensando, qual parte de mim ainda não consegue perceber tais figurações que ainda existo.
O desaparecimento do sentido do tempo, cada vez mais se atropelando no meu cotidiano, estar fora de uma rotina tem me levado à loucura.
Inarrável é eu não suportar à ideia de ser deixado sem uma ideia substancial que venha de mim mesmo, viro meu mártir incondicional.
Estava lendo hoje uma passagem de Deleuze, aonde ele falava da não estruturação afetiva e percebi que eu sou um amante clássico e barato , daqueles que choram de saudades ao tomar banho ouvindo Maria Bethânia.
Vivemos em um tempo, onde a curiosidade de como é estar feliz, aborda mais do que à procura pela mesma, findando a profundidade de como as coisas poderiam se desenvolver sem tantos problemas condicionados à má geração de consciência do processo aonde estamos envolvidos.
Entramos cada vez mais no automático e na primeira esbarrada com o inconsciente, cheio de medos e introjeções, cedemos ao abandono dessa busca. Entrelaçados pela não resolução de construções psíquicas não reformuladas, vamos vivenciando cada vez mais um caos coletivo.
A falta de individuação tem sido o maior apontamento dessa década, mesmo porque, em uma sociedade de massa estrondosa aonde não se ouve a si mesmo, apenas o que grita austeros, destronados de nossa ciência por onde nos encontramos, nos findamos à não mais nos surpreender e continuar apenas andando conforme aprendemos um dia.
Muitas fendas se abriram durante essa década, são tantas ramificações, traumas, deslizamentos psicológicos, novas condições mentais pulando para a frente dos consultórios que, sem tempo, só vamos nos condicionando a viver sem compreender o que de fato está acontecendo com nossa sociedade líquida (Baumann).
Em nome de muitos pais e mães, vamos tecendo um destino cheio de amnésia e castrados de viver uma melhor experiência com o que conseguimos conquistar, material e espiritualmente. Não temos tempo para mais nada, apenas, vendo o mundo passar, na velocidade dele, esquecemos que não precisamos apertar nossos passos e acabamos capotando para um lugar totalmente desolado.
Diante do cenário assombroso , perceptivelmente, a desistência de compreender o lugar dos afetos e suas considerações, torna-se um redemoinho de superficialidade e olha que muitos, mas muitos humanos, ainda se dizem preparados para viver o inesperado e eu, sou um deles.
Tenho um pouco de medo, sinto que entrei nesse redemoinho também, desfreado, inconsequente, despreparado para o novo. Digo isso porque, não consigo simplesmente mais, nem ficar com raiva e meditativo quando algum relacionamento acaba, não como era antigamente. Não que eu tenha perdido a profundidade, mas, apenas consigo entender o lado do outro e posto isso, esqueço do tamanho da dor que eu estou em algum lugar sentindo.
Ignorando essa minha dor, me torno uma pessoa melancólica e desprovida de consciência do processo, vez que, minha vida toda, tudo sempre foi demorado a passar, agora corre para os trilhos velhos, uma locomotiva desgovernada prestes a descarrilhar mais uma vez.
Munidos de tantas teorias, estudos, entendimentos e razão, por qual motivo ainda estamos caindo no abismo do absoluto fim-aberto?
Os desfechos opcionais, são aberturas provenientes de que?
Como podemos simplesmente passar por algo, trabalhados pelo fogo de tudo que nos queimou e ainda assim, rapidamente levantar das chamas e voltar a caminhar?
E visitar os meus destroços está cada vez mais complicado, sempre esqueço o lugar da volta, quando percebo, estou de volta a este mundo consciente, preocupado apenas em prosseguir com minha missão e ser um humano melhor.
Extrovertido, ainda continuo respirando, tentando compreender o que me faz chorar no dia de hoje.
A imagem de meu dia é: um míssil caindo em cima de uma casa, alguém sentado em uma poltrona velha, no final da tarde enquanto a morte vem do céu sem que ele perceba.
Já até pensei em morte, claro né, quando inverso o que sinto, tenho vontade de ficar vazio, mas ao mesmo tempo o meu eu solitário não consegue resolver as coisas com tanta clareza, penso que estou em um lugar do medo de estar só, que se dá através das rupturas que vivencio.
Tão bonzinho, compreensivo, religioso, sufocado, cheio de raiva, lerdo e surdo o suficiente para não ouvir o barulho do míssil prestes a destruir tudo.
Esse é um desabafo , estou sofrendo por amor, fico totalmente perdido e sem enxergar se o farol está preso nas nuvens ou eu me descolei do meu corpo para tomar banho.