quarta-feira, 30 de julho de 2025

LEVIATÃ

 

Andando pelas ruas hoje, a cidade parecia estar funcionando com a energia de um velho gerador.
As pessoas pareciam flechas e eu sorria, tentando ver a direção que elas iriam tomar.
Está tarde, mas o sono saiu para dar uma volta hoje de tarde e ainda não voltou.
Penetração mental, como uma masturbação causada por violência sensorial/xual,  me tornei, radioativo, mas estou catando os cacos para questionar a autoridade que meu ego perdeu.
Ali, bem naquele ponto, havia uma senhora que tinha os olhos cheios de esperança, ou era uma projeção minha querendo tirar a neblina da minha mente?
Preciso me aquecer, muitas vezes eu percebo as luzes rodopiarem e me recordo de que passei o dia todo sem fome e comer parece um filme do Hitchcock.
Estava pensando sobre a realidade, será que de fato estou de que lado dela?
Por estar aqui dividindo colapsos e frases que deveriam ser engraçadas e não bagunçadas, me sinto pequenino, passeando por universos destoados.
Percebi que passei muitos minutos procurando algo que realmente gostasse e descobri que só queria um apagão para descansar a mente.
Quando eu era pequeno, criava um mundo cheio de possibilidades, onde eu conseguia conversar com os animais.
Já contei que durmo em um sofá velho, aonde enquanto todo mundo está dormindo ao amanhecer eu sinto os raios matinais tentarem me expulsar dali?
Já me acostumei de ser expulso de meus sonhos por excesso de claridade, isso quando consigo dormir o suficiente para não ver raiar o dia, então, eu posso usar esse truque para falar que quando tudo está caminhando muito bem, eu tenho a mania neurótica de achar que estou adormecendo.
Por dormir pouco, fico assombrado com meus devaneios durante o resto do dia.
Gostaria tanto de saber apreciar uma boa seresta, mas o que me consola é que eu posso ser só um sonâmbulo, vagando por um mundo recriado pelos meus desejos mais infantis.
No presente, tem sido uma tarefa bem difícil conversar comigo, eu gostaria de ter a mente de uma criança, para chegar a um lugar simbólico menos cartesiano e psicótico.
A psicóloga me disse que estou com "início" de depressão, mas será que ela sabe o tamanho da pressão que eu tenho que suportar quando estou pensando em qual roupa deveria usar quando estou congelando?
Estou miúdo, quase que cabendo em um saco de arroz, querendo matar a minha fome de não lutar contra o acaso. 
Acho que deixei o feijão no fogo.
A minha tristeza é quase um soneto de separação entre a vista conturbada de um lunático tentando descobrir que a lua é só algo que habita dentro dele e que aquele círculo gigante no céu é um contador de histórias secretas.
Não contei isso ainda, hoje escutei muitas músicas que me deixavam depressivo quando mais jovem, mas agora servem para testar minha memória, para ver se ainda lembro das letras mais insanas que fiz questão de decorar.
Felizmente, estou leve, parece que eu ouço a voz da minha mãe me perguntando sobre meu dia, isso me deixou tão vidrado e excitado que esqueci que ela está debaixo dos degraus da memória e nem lembra de onde colocou seu aparelho de surdez.
Ando tão em silêncio que esqueço de como é a voz de meu amigo imaginário, meu alter ego.
Lembro de quando criança, venerava correr para subir ladeiras, ficar cansado quando chegava no topo me trazia uma sensação de que havia vencido algo maior do que eu.
Nos tempos atuais, gosto das descidas, aprendi a segurar com força os pés no chão para não dar com a cara no asfalto quando quero correr mais rápido que meus pensamentos.
Escrever tem sido suficiente, brinco que eu estou começando a ver as fissuras no muro que construíram com força na frente da minha casa.
As vezes consigo ver através destes vãos, isso tem me tornado um pouco melhor, por alguns instantes.
Se alguém hoje me questionasse sobre o que eu queria aprender para ser alguém melhor do que fui até aqui, acho que gostaria de aprender a pescar.
Tenho uma dificuldade enorme em ficar parado por muito tempo, como se precisasse gastar as solas de meus tênis para andar na terra encantada.
Fico tão cansado com essa coisa toda frenética que eu choro escondido no banheiro para aliviar e acredite, adianta e muito.
Deixe que eu explique melhor essa coisa de querer aprender a pescar, porque desta maneira eu saberia ficar quietinho, esperando algo puxar a linha do anzol sem ficar encantado pela profundidade do horizonte com o Sol que se debruça na beira onde nasce o rio das ilusões.
E por falar em horizonte, eu queria poder ler um livro do Hobbes sem ter a medida certa de não compreender o quanto ele seria útil se não fosse tão antropocêntrico. 
Essas vontades, das quais relatei acima, são trovoadas num mundo cheio de ansiedade e com extremas condições de desabitar o que é pensamento impróprio para momentos em que se detesta a solidão porque ela transa bem mal com meu inconsciente. 
Hobbes, pode por favor, mandar dormir o Leviatã?
Eu preciso acordar cedo para ir ao hospital porque eu preciso de ajuda, já vejo que está quase na hora de ver aqueles médicos que todos dizem que vão salvar minha vida.
Referente à ajuda, minha cabeça não anda  muito boa e ter que enfrentar um hospital sozinho, durante horas, tem me deixado tristonho e sufocado.
Eu evito pensar em coisas que podem parecer puro intimismo a essas horas da madrugada.
Me refiro a ter que estar diante de todo esse lance de pedir ajuda pela questão do que tem passado na minha mente e na verdade, tentar acreditar que alguém segurando minhas mãos enquanto o médico me puxa para baixo, seria bem mais motivador do que eu usar minha imaginação para esperar alguém naquele corredor, gritar meu nome o quanto antes.
Mas, lá fora, todos estão de alguma maneira tentando se manter vivo e eu não aprendi a dividir o meu lugar de dor com todos, só por cartas mentais.
Me acho patético algumas vezes, ouvir Radiohead me faz querer ser o Tom Yorke, pelos fatores dele ser feito, mas ter um bom coração que o salva de andar pelo mundo sem que ninguém pense que ele não se importa com o que está fora dele.
Estou com vontade de andar de bicicleta, adoro a nostalgia de quando meu pai, levava eu e meus irmãos para andar de bicicleta bem cedo, com a finalidade de nos apresentar a lugares novos desta cidade.
Mas a melhor parte vem depois, quando chegávamos em casa, minha mãe parecia feliz, claro que pela razão de termos dado à ela alguns momentos de privacidade e estarmos exaustos a ponto de não dar trabalho algum.
Isso tudo é o que eu penso, sem devaneios.