terça-feira, 29 de julho de 2025

NASCEU E É UM MENINO!

 Uma associação livre, um requinte primário, olhar, lugar divino.

Súbita vontade de estar dentro de um pôr-do-sol.

Aonde esguiam-se as flores rosas, como trincheiras tristes.

O som do vento, comunga uma oração antiga, uma prece, narrada com lentidão.

O sol não chegara ao horizonte, mas já não ardia mais.

A tarde me devorou.

Sublime destaque do barulho que faz uma antiga máquina de escrever.

Tentando constituir uma história qualquer, para falar de amor.

Traindo assim, sua mecânica selvagem e barulhenta, ela consolida o ato celestial.

Fecunda em letras, toda uma emoção vívida por dois.

Era minha paixão divinal.

Diziam-me que o amor não era capaz de curar.

Mas o que cura o amor, se arde tanto e dissolve passados tão cruéis?

O anoitecer carrega consigo, uma saudade arrebatadora, sem pele, me deito.

Noite fria, pés congelados, pernas que foram açoitadas pelo tempo, se cruzam.

O bestial sentimento de solidão, me deixa descompassado.

Ouvindo uma triste melodia, me enamoro pela frieza de meus sentidos.

Todos voltados as memórias que me ascende a tradução do que é esperar.

Não tenho pressa, correr diante deste campo todo, só me enlouqueceria.

Então, me debruço lentamente sobre uma mesa, procurando um livro qualquer.

Que possa relatar palavras que não consigo lembrar de como eu era na mocidade.

Era tão jovem, parecia uma fagulha do destino, lançada em um monte de folhas secas.

Devoção a um pensamento eterno de melancolia e exaustão.

Estava tão longe de mim, mas tão perto de meu coração, que eu me enrolava em lágrimas.

Dissolvido, existia como quem quisesse um abraço apertado para esmagar a alma.

E esse, seria para um aconchego insano e matrimonial.

E eu continuava delirando, amando todo jardim que percebi ao olhar para trás.

Reparando como as espreguiçadeiras são preguiçosas e valentes.

Lutam sempre para me manter cobiçando a força delas, trepadas no destino sem medo do cheiro da morte.

Que bravura teria eu, diante do espanto da pulsante vida?

Coitado, bastardo!

Com suas amarras sentimentais e vínculos com memórias transgressoras e sórdidas.

Apanhando de sua mente avassaladora e caótica.

Minha mente prega peças, de drama, constantemente vejo o amanhã, gelado.

Aprecio o café matinal como se fosse o último desejo de um mortal.

Analisando as letras dançarem no jardim das minhas pálpebras.

Procurando minha amada em Baudelaire e Plath.

Mitigando uma música clássica, sopro no fundo do peito, desleixo anacrônico sensorial.

Que tato eu tenho para tal maestria de me iludir com tantas belezas enquanto feio?

Essa resposta não tenho, mas sei que tenho uma ousadia desde pequeno.

Sabia pular poças de agua, hoje não sei pular uma noite sem me queixar de insônia.

Aonde será que perdi minha esperteza?

Já me recordo, foi em um verão, enquanto me afundava na lama da adolescência.

Nunca fui condecorado, era de uma inutilidade tão grande para todos, meu apelido, Sol.

Que sarcástico, levar o nome de Sol enquanto passeava pela escuridão dos vãos da escola.

Eu pensava que podia ficar invisível e ver pairar a desordem causada por austeros.

Tão delicado, faltava as aulas de treino livre para ir à biblioteca.

Esse era meu lugar seguro, no silêncio, na solidão e no cheiro de velharia que me amansava.

Eu mantive um diário por anos, depois, um blog na internet, que servia para memorar minhas tragédias e comédias que não sabia de onde brotavam.

Minha imaginação sempre foi robusta e brusca comigo, carrasca porém, muito fiel.

Acabei de recordar que lia as cartas que meu avô trocava com minha mãe.

Eles eram quase devotos de uma longínqua saudosa memória ancestral.

Falavam sobre o que haviam comido, sobre fé e Deus sempre aparecia no final das cartas, acenando e dando adeus.

Não sei aonde foram parar essas narrativas, acho que em algum lugar sombrio e abstrato da mente de mamãe.

Nunca gostei de ficar sozinho, estava sempre com a angústia no peito, por isso lia tanto para fingir que era imortal e imoral.

Sabe o que realmente é embaraçoso?

Pensar que um dia eu aprendi a sorrir de verdade quando me apaixonei por uma menina de cabelos negros e cheios de onda.

Posso dizer que foi a primeira vez que senti meu coração palpitar, parecia que teria um ataque fulminante de desejo.

Eu já era velho, tinha 44 anos, acredita?

Antes disso, eu sorria como quem vê o mar pela primeira vez, mas não molhou nem a ponta dos pés para saber o quanto ele realmente é intenso.

Sempre tive vergonha do meu sorriso, era como uma abertura de porta entreaberta, com covinhas lamentosas e escandalosas, mas não diziam nada, só abriam para os dentes passarem pelos cantos.

O tom da minha voz, incisiva e objetiva, feroz como um leão na savana e carregava a linguagem de um porta voz do mistério, arcaico vocabulário que me nutria.

Amanhã, ou quem sabe, depois, voltarei!