Uma associação livre, um requinte primário, olhar, lugar divino.
Súbita vontade de estar dentro de
um pôr-do-sol.
Aonde esguiam-se as flores rosas,
como trincheiras tristes.
O som do vento, comunga uma
oração antiga, uma prece, narrada com lentidão.
O sol não chegara ao horizonte,
mas já não ardia mais.
A tarde me devorou.
Sublime destaque do barulho que
faz uma antiga máquina de escrever.
Tentando constituir uma história
qualquer, para falar de amor.
Traindo assim, sua mecânica
selvagem e barulhenta, ela consolida o ato celestial.
Fecunda em letras, toda uma
emoção vívida por dois.
Era minha paixão divinal.
Diziam-me que o amor não era
capaz de curar.
Mas o que cura o amor, se arde tanto
e dissolve passados tão cruéis?
O anoitecer carrega consigo, uma
saudade arrebatadora, sem pele, me deito.
Noite fria, pés congelados, pernas
que foram açoitadas pelo tempo, se cruzam.
O bestial sentimento de solidão,
me deixa descompassado.
Ouvindo uma triste melodia, me
enamoro pela frieza de meus sentidos.
Todos voltados as memórias que me
ascende a tradução do que é esperar.
Não tenho pressa, correr diante
deste campo todo, só me enlouqueceria.
Então, me debruço lentamente
sobre uma mesa, procurando um livro qualquer.
Que possa relatar palavras que
não consigo lembrar de como eu era na mocidade.
Era tão jovem, parecia uma
fagulha do destino, lançada em um monte de folhas secas.
Devoção a um pensamento eterno de
melancolia e exaustão.
Estava tão longe de mim, mas tão
perto de meu coração, que eu me enrolava em lágrimas.
Dissolvido, existia como quem
quisesse um abraço apertado para esmagar a alma.
E esse, seria para um aconchego
insano e matrimonial.
E eu continuava delirando, amando
todo jardim que percebi ao olhar para trás.
Reparando como as espreguiçadeiras
são preguiçosas e valentes.
Lutam sempre para me manter cobiçando
a força delas, trepadas no destino sem medo do cheiro da morte.
Que bravura teria eu, diante do
espanto da pulsante vida?
Coitado, bastardo!
Com suas amarras sentimentais e
vínculos com memórias transgressoras e sórdidas.
Apanhando de sua mente
avassaladora e caótica.
Minha mente prega peças, de
drama, constantemente vejo o amanhã, gelado.
Aprecio o café matinal como se
fosse o último desejo de um mortal.
Analisando as letras dançarem no
jardim das minhas pálpebras.
Procurando minha amada em Baudelaire
e Plath.
Mitigando uma música clássica, sopro
no fundo do peito, desleixo anacrônico sensorial.
Que tato eu tenho para tal
maestria de me iludir com tantas belezas enquanto feio?
Essa resposta não tenho, mas sei
que tenho uma ousadia desde pequeno.
Sabia pular poças de agua, hoje
não sei pular uma noite sem me queixar de insônia.
Aonde será que perdi minha esperteza?
Já me recordo, foi em um verão,
enquanto me afundava na lama da adolescência.
Nunca fui condecorado, era de uma
inutilidade tão grande para todos, meu apelido, Sol.
Que sarcástico, levar o nome de
Sol enquanto passeava pela escuridão dos vãos da escola.
Eu pensava que podia ficar
invisível e ver pairar a desordem causada por austeros.
Tão delicado, faltava as aulas de
treino livre para ir à biblioteca.
Esse era meu lugar seguro, no
silêncio, na solidão e no cheiro de velharia que me amansava.
Eu mantive um diário por anos,
depois, um blog na internet, que servia para memorar minhas tragédias e
comédias que não sabia de onde brotavam.
Minha imaginação sempre foi
robusta e brusca comigo, carrasca porém, muito fiel.
Acabei de recordar que lia as
cartas que meu avô trocava com minha mãe.
Eles eram quase devotos de uma longínqua
saudosa memória ancestral.
Falavam sobre o que haviam comido,
sobre fé e Deus sempre aparecia no final das cartas, acenando e dando adeus.
Não sei aonde foram parar essas
narrativas, acho que em algum lugar sombrio e abstrato da mente de mamãe.
Nunca gostei de ficar sozinho,
estava sempre com a angústia no peito, por isso lia tanto para fingir que era
imortal e imoral.
Sabe o que realmente é embaraçoso?
Pensar que um dia eu aprendi a
sorrir de verdade quando me apaixonei por uma menina de cabelos negros e cheios
de onda.
Posso dizer que foi a primeira vez
que senti meu coração palpitar, parecia que teria um ataque fulminante de
desejo.
Eu já era velho, tinha 44 anos,
acredita?
Antes disso, eu sorria como quem
vê o mar pela primeira vez, mas não molhou nem a ponta dos pés para saber o
quanto ele realmente é intenso.
Sempre tive vergonha do meu
sorriso, era como uma abertura de porta entreaberta, com covinhas lamentosas e
escandalosas, mas não diziam nada, só abriam para os dentes passarem pelos
cantos.
O tom da minha voz, incisiva e
objetiva, feroz como um leão na savana e carregava a linguagem de um porta voz
do mistério, arcaico vocabulário que me nutria.
Amanhã, ou quem sabe, depois,
voltarei!