E se aquela paisagem não for real?
Se os meus sonhos não forem reais?
Para onde eu irei?
Por onde meus pensamentos tem me levado se não a beira da
loucura?
Não, eu não sei!
Não devo pensar nestas coisas, elas já estão pensadas.
Sabe o que acontece quando todos se vão?
Fico na mais plena escuridão, aonde não ouço os corações
baterem agitados, aonde o único caos é o que acontece na minha mente.
Será que sou dependente de alguém que ainda não existe?
Ou de alguém que nunca existiu?
Quem eu estive sendo a um segundo atrás?
Eu juro que se não tivesse uma memória tão grande, não
saberia quem estou sendo neste instante.
Mas tudo é vago!
As camas estão vazias, os olhos estão inativos e a solidão
se aloja no meu abismo.
Será que realmente tenho aonde habitar?
Não, os ponteiros não podem me assombrar de novo, eu não
teria como escapar desta melancolia.
Talvez eu tenha me tornado uma boa fugitiva, ou será que
eu nunca sai de onde pensei que estava?
Para onde meus sapatos tem me levado?
Ora, ora, isso lá é hora de indagação?
Sim, e eu não consigo escolher a finco como antigamente
quando vou ou não questionar.
O vento me roubou o juízo e a terra me solidificou.
Mas passei anos, estes anos todos, arruinada pensando que
eu tinha uma fortaleza e que eu podia
confiar naquela torre alta que se escondia atrás das nuvens negras.
O lugar seguro não existe mais!
Ou será que eu desisti de acreditar nele?
Mas porque raios
eu faria isso?
Com quem eu estou conversando agora que minha voz não
sai?
Estas palavras todas ficam girando em círculos na minha
cabeça, só eu posso ouvir minha voz.
De repente desconfio da porta aberta, talvez eu não tenha
de fato atravessado esta coitada com franqueza, eu a usava apenas para fugir...
Quem é esta pessoa de olhos inchados que reflete neste
espelho?
Vai começar a chover de novo e eu não irei tirar as
roupas dos varais.
Elas ficaram úmidas como minhas bochechas, elas não iram
sumir feito um papel manteiga.
Eu sumo quando choro!
Ou será que fico mais presente do que nunca?
Fico!
Porque as vezes sinto que a morte me rodeia e me dá um
prazer enorme pensar enganosamente que ela me pertence, que me quer de alguma
forma.
Tolice, estou
variando não é possível que estas coisas dancem com tanto peso na minha alma.
Elas dançam, inclinando meu corpo inteiro para trás até
que eu me atiro na cama.
Afundo lentamente no colchão cheio de mágoas.
Este travesseiro velho que não é capaz de suportar o peso
da minha inquietação, agora é murcho e desonrado.
Violentei tudo, coisa por coisa, mas por algum motivo não
cheguei ao núcleo.
Se é que existe um núcleo em meio a este nevoeiro de ideias
tão antiquadas.
Qual é minha música preferida?
O som das teclas se fundindo com a ponta dos meus dedos,
brincando de quem pode transcrever o que eu quero.
Tenha santa paciência minha jovem, você se faz nua quando
se explica.
Tudo bem, fui eu!
Acabei de me acusar de que? Quem me acusou?
Está vendo, é só falar de mim que eu já me atiro na
frente para não levar o choque sozinha.
Mas, eu nasci só, me lembro perfeitamente e desde que mamãe
não tinha as mãos como meu apoio, vaguei por este mundo a fora e talvez não
tenha voltado nunca.
Eu poderia ser uma heroína.
Não, não poderia, não posso, jamais, sucinto demais.
Sinto que fui infectada por uma peste, uma praga daquelas
terríveis e que só a dor me ajuda a aliviar a tentação de querer não acreditar
que tenho isso.
Mas peguei onde meu deus?
De quem?
Será que foi da raiva, do ódio, amor, revolta ou
simplesmente, peguei e ponto, acabou!
Mas é isso?
Isso o que?
Nem sei quem sou....