segunda-feira, 27 de junho de 2011

::DIA INTERMINÁVEL::

Posso acessar o silêncio?

Talvez não.

Não que eu não queira, mas querer está longe de tudo que no tempo passa.

E o tempo passa, rápido, sorrateiro e barato.

Caro, quando consigo me redimir dos danos malignos que causei a mim mesmo.

Mesmo quando eu fico apavorada quando percebo o tamanho do sentido que as coisas se dão para mim.

Para mim o dia é noite, e a noite é um dia interminável.

Termina, e eu que queria uma juventude modesta, hoje sou desonesta com o que sinto, puro desespero.

Desespero porque eu ainda não sei o que quero ser.

Ser talvez, qualquer coisa, ou uma coisa em si que seja algo pra mim.

Pra mim tudo é algo, e algo é alto demais, vago e isolado da minha concepção de realidade.

Real, ai está a falta do sujeito imperfeito que se transformou meu consciente.

Inconsciente que desloca para baixo toda minha fixação por responsabilidade.

Responsabilidade é coisa de vida, destas asas que não me soltam e que são minhas únicas amigas.

Inimigas de qualquer um que tente subornar a minha lealdade.

Maldade que se inicia no meu parto existencial e que violenta minha morte paternal.

Patrimônio vencido desde que foi tomado, arrombado por assim dizer.

Como eu vou dizer algo se sinto que nem mais tenho voz?

Parece que tudo está sendo repetido, não consigo um incentivo para incendiar este pensamento foragido.

Fugitivo, meu laço com o que por mim foi perdido, está rompido.

Desgarrado, ilhado, isolado, assim se encontra o meu destino.

Mas tenho fé, não sei em que, para que, e de onde vem, mas tenho.

Não temo, às vezes fraquejo, enganada por falsas heranças, nada hereditárias.

Sedentárias, cobranças sujas, exílio total da linguagem.

Imagem, não me falta!

Me fala então você!

Você, este monte de coisas que vem e que no outro instante me deixa só.

Que quando chega me fascina e quando vai me desanima.

Não me tornei escrava da solidão, me tornei aliada desta sede pela busca do meu caminho.

Um ninho, sem ser útero e nem refúgio.

Porque ainda me vejo sentada no último vagão daquele trem antigo, partindo, lentamente, para uma cidade fantasma?

Que sensação é essa de que tudo pode ser eterno?

Mas sei que não é.

Porque então insisto em persistir que tudo não passa?

Ora, ora, Viviane, não seja assim

No ventre do abismo você nasceu.

No colo deste mundo insano você cresceu...

segunda-feira, 20 de junho de 2011

::DOIS CORAÇÕES::

Vamos revogar o direito de ter dois corações.

Tirar proveito das péssimas situações.

Vamos ter laços, abraços e pedaços.

Em um pequeno silêncio memorizar nosso cansaço.

Vamos revogar o direito de ter dois irmãos.

Um descaso da vida, um voto de perdão.

Pra compartilhar o dever de estar na solidão.

Se não é só, é em vão.

Se for em vão, trará para a vida a compreensão.

Se desprender, soltaremos uma grande confusão.

Lamentaremos o dia em que aprenderemos a dizer não.

E se dissermos que sim, que estejamos afim,

De continuar uma prosa, mesmo que não se musique,

Soletraremos cada dor com um nó na garganta inspirada de paixão.

E se alguém não quiser voltar, que esta mágoa que eu tenho,

Que cisma em teimar, queime todo meu pavoroso sigilo doloroso e me faça despertar.

E se eu dormir demais, que eu adoeça, para poder assim descobrir como me curar.

E se esta cura não durar, eu possa um verso novo rascunhar...