quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

:: O VENTRE DO NADA::

Eu gosto de descrever o infinito, mas é ele quem me descreve.
Desce e sobe ruas escuras dentro de mim, acaba por encontrar saídas que desconheço.
Uma noite pode ser longa, distante, dispersa e errante.
Errar um segundo e ser arrebata no outro, para um lugar de experiência com o Nada.
O Nada vive no vazio, o mesmo não preenche, não desmancha, nem dissolve em sangue.
A carne arde, escorre como um fio manso sobre a pele manchada pelo desatento tempo.
O som do piano torna-se enlouquecedor, as grandes nuvens são assopradas para o horizonte cinzento.
Cinza, mancha meus olhos, cheios de curiosidade, vontade de ver o que me vê.
Enxergando um turbilhão de cores, o universo dança a melodia da minha esperança.
A chuva cai...
E me lava, jorra felicidade pelos meus poros, vai limpando bem devagar, sentindo meu corpo esfriar lentamente.
Lento é o processo que se dá quando eu fico imaginando uma noite de chuva, com aqueles trovões dançando, fazendo um jogo de mímica no reflexo da janela do meu quarto.
Eles trazem o segredo de uma sinfonia perdida, de um lugar aonde as coisas não estão prontas.
De um lugar que sinto que já estive, como molécula, como humana, como uma flor em um asfalto quente, cheio de entulhos, mas estou ali, ou como um punhado de terra, junta, aglomerada, esperando um chute desapercebido do destino para espalhar toda minha consciência.
Eu nunca tive medo de sumir, de fogo, de água ou de bicho algum, meu medo se esvai quando aceito que a minha finitude se resume em possibilidades.
Possibilidades me abrem, fazem fendas gigantescas na minha alma, como se o cosmos rompe-se tudo aquilo que pudesse ter limite.
Eu não tenho limite, eu vivo e persigo aquilo de que preciso.
Espaço, aberto, acolhedor e curador, eis a minha perseverança no que acredito,
Em Tudo, no Todo que se dá no ventre do Nada.