segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

::O MEDO DO NÃO SER::


Quanto de melancolia podemos suportar?
Se suportamos então de alguma forma vencemos algo que tenta nos consumir.
Morremos e vivemos todos os dias, todos os instantes, cada um em uma tonalidade diferente.
O contraste mais forte acontece quando acordamos e sentimos que ainda somos reais.
Temos que lidar com tantas coisas ao mesmo tempo, será possível nos separarmos de tudo que está conosco mesmo quando não aceitamos?
Não aceitar também é uma escolha, pode ser dolorida, mas também floresce.
Em todo sofrimento que experienciamos, bem ali no meio desta confusão negra, existe esperança, expectativa, dor e satisfação.
Mas, só há e isso basta para que possamos degustar até o final da garrafa da nossa frustração.
Por mais que possamos nos enjaular das tempestades sombrias e das feras que nos habitam, as coisas sempre serão somente nossas em cada partícula em cada átomo de vida.
Ser tão real também é tentar não existir, às vezes dói porque a ferida parece que não cessa enquanto não dormimos.
E quando dormimos, imagino que cada parte do nosso corpo se refaz das amarguras, dos desejos que ainda não estão prontos para vir.
Não se tolera a vida, não se escolhe a morte, não somos capazes de nos abster do que não somos.
Cansa ver os passos que ficam para trás, mas de certa forma eles também nos guiam.
Talvez para um lugar que não tenha conforto, mas é um lugar que também nos abraça.
Neste abraço, é possível sentir o cheiro da chuva cair e as pétalas das rosas trançarem nosso corpo.
É a morte assoprando bem lentamente, quando em um suspiro próximo, sentimos o fogo da vida enxugar nossas lágrimas de dentro para fora.
Não compreendemos muito bem o que temos, o  medo de ter pode ser maior do que o não ter.
E se já temos, conservamos em um lugar paradisíaco aonde dançam nossas fantasias.
Quem nunca teve medo de encarar as próprias fantasias?
Quem nunca teve medo de assumir que quando o barulho do cotidiano para, estamos finalmente a sós com nossas palavras que se instalam em um lugar da mente, que não podemos guiá-las para fora.
E se elas saem, é como se pela primeira vez pudéssemos sentir o palidez do tudo.
É tão bom que se esvai diante da nossa respiração ofegante e sem controle, ficamos mudos, presos, catárticos e assombrados pela raiz da nossa verdadeira fala.
Não temos ouvidos suficientemente bons para ouvirmos os nossos instintos, não percebemos o que somos na totalidade, ali já não somos.
E voltamos para nossa melancolia que talvez não possamos suportar...