Lançada na noite, tentando procurar uma palavra perdida, um
som auscultado e sombrio que possa refletir em minha mentalidade mais ingênua a
respeito da vida que se oculta.
Os móveis todos aqui, paralisados, como deve ser difícil,
ter tanta história em cada milímetro de si e não poder narrar, esperar apenas
que alguém, nós aqui de fora possamos olhar para eles e meditar profundamente
sobre tudo o que eles nos remetem.
Como tornar-se autêntica em meio a este concreto rabiscado
com suas teorias metafísicas e confusas, tão pouco lapidadas pela dor do
existir?
Meditar sobre a fumaça que sai dos canos ácidos dos carros
que correm para aonde o coração dos condutores não podem ir com a imaginação,
tornou-se uma tarefa insólita e vulgar.
Sinto-me preguiçosa entre os vãos dos prédios que sobem,
sobem e caem em segundos, como a pressão de uma senhora de 90 anos que vê o sol
rasgar suas retinas quando pula de paraquedas pela primeira vez.
Percebo cada vez mais certa ignorância a respeito do pensar contemporâneo,
eles pensam, pensam demais sobre tudo demasiadamente que os levam a morte de
olhos abertos.
Sem que percebam, estão cavalgando em um intelectualismo
petrificado e sem magia.
Não relaciono a magia algo racional e banalizado como “esotérico”,
mas a magia do mistério a concepção do que nunca pode ser aberto por inteiro.
O mistério que não se fecha, que quando mergulhado, nos
encharca até nos sentirmos estufados e no outro instante, vazios, ocos e
mistificados...