Tenho eu pensado nitidamente sobre o mundo e como as coisas
nele estão?
Talvez não!
Esta exclamação dar-se-ia tarde da noite, enquanto os pássaros
fingiam ser sonâmbulos.
Quando criança via um céu diferente, cheio de fantasias,
aonde foi mesmo que eu as escondi?
Vivo a espreita dos assuntos, aonde as vozes não se calam.
É no silêncio que observo a jornada de uma folha se jogar no
chão, pálida e vivida.
Não resta dúvida alguma neste momento, ela também estava
presente todo este tempo.
Estavam presentes também, mil coisas, pensamentos e bocas
imitando os sussurros dos surdos.
Os surdos estavam presentes, ilimitados de prazer,
certamente existe um porque dos olhos deles serem tão profundos e tão pouco
contidos.
Lá vem novamente aquele verme rastejante, debruçado no canto
escuro da porta do meu quarto.
Esperando que eu vá dormir para que ele possa reinar.
Uma linha jogada no tapete parece indicar alguma coisa além
de estar deitada sobre um espaço que pouco habito, embaixo da minha cama também
existe vida.
E lá vem aquele verme, lentamente, sem pressa vai rabiscando
com tons coloridos minha parede.
Espera! Isso não é um verme é uma lesma.
Sou mais animal que humana nesta hora, sinto-me desprotegida
de todo arsenal do pensar.
Entregue a mais pura ignorância, nua de corpo e alma.
Alma, penso que ficar presa em uma areia movediça deva
trazer a sensação de estar nascendo de novo.
O movimento deve ser cauteloso, quanto mais bruscamente eu
tentar sair do mistério, mais afundarei nesta areia vingativa....
Sinto-me cansada, exausta de tal forma que, meus pés parecem
não suportar o peso da minha fadiga.
Será este um sinal que talvez eu devesse aprender a voar?
Não, deixo isso para os pássaros que me divertem me deixando
tonta enquanto fazem suas acrobacias de olhos fechados, sonâmbulos e
extravagantes.
Estou com dificuldade para fechar este texto, esta coisa
ácida e sem nutrição de normas.
Estou à deriva, como outras coisas que tenho tentado narrar
e acabei virando o barco.
Aqui estou eu, debaixo do barco, na sombra de madeira, meu
corpo todo dentro da água, conectado com o desconhecido.
Batendo os braços para não afundar, engolindo sentimentos e fúria,
nesta hora, aonde estão minhas nadadeiras?
Ora, não tenho nadadeiras, deixo para os peixes que parecem
rir da minha posição quase uterina.
Nossa, agora entendo perfeitamente, ou não, este barco já
esteve furados várias vezes, posso ver os remendos através dos raios do sol que
atravessam os remendados buracos na madeira desta navegação individual.
Como eu pude, me diz?
Viver à deriva com um barco remendado sem ter percebido que
isso um dia iria ser perceptível.
Com muita força, desviro o barco, pronto estou dentro,
molhada e constrangida pelos pensamentos dos peixes sorridentes.
E agora para onde vou?