terça-feira, 15 de maio de 2012

::NADADEIRAS::


Tenho eu pensado nitidamente sobre o mundo e como as coisas nele estão?
Talvez não!
Esta exclamação dar-se-ia tarde da noite, enquanto os pássaros fingiam ser sonâmbulos.
Quando criança via um céu diferente, cheio de fantasias, aonde foi mesmo que eu as escondi?
Vivo a espreita dos assuntos, aonde as vozes não se calam.
É no silêncio que observo a jornada de uma folha se jogar no chão, pálida e vivida.
Não resta dúvida alguma neste momento, ela também estava presente todo este tempo.
Estavam presentes também, mil coisas, pensamentos e bocas imitando os sussurros dos surdos.
Os surdos estavam presentes, ilimitados de prazer, certamente existe um porque dos olhos deles serem tão profundos e tão pouco contidos.
Lá vem novamente aquele verme rastejante, debruçado no canto escuro da porta do meu quarto.
Esperando que eu vá dormir para que ele possa reinar.
Uma linha jogada no tapete parece indicar alguma coisa além de estar deitada sobre um espaço que pouco habito, embaixo da minha cama também existe vida.
E lá vem aquele verme, lentamente, sem pressa vai rabiscando com tons coloridos minha parede.
Espera! Isso não é um verme é uma lesma.
Sou mais animal que humana nesta hora, sinto-me desprotegida de todo arsenal do pensar.
Entregue a mais pura ignorância, nua de corpo e alma.
Alma, penso que ficar presa em uma areia movediça deva trazer a sensação de estar nascendo de novo.
O movimento deve ser cauteloso, quanto mais bruscamente eu tentar sair do mistério, mais afundarei nesta areia vingativa....
Sinto-me cansada, exausta de tal forma que, meus pés parecem não suportar o peso da minha fadiga.
Será este um sinal que talvez eu devesse aprender a voar?
Não, deixo isso para os pássaros que me divertem me deixando tonta enquanto fazem suas acrobacias de olhos fechados, sonâmbulos e extravagantes.
Estou com dificuldade para fechar este texto, esta coisa ácida e sem nutrição de normas.
Estou à deriva, como outras coisas que tenho tentado narrar e acabei virando o barco.
Aqui estou eu, debaixo do barco, na sombra de madeira, meu corpo todo dentro da água, conectado com o desconhecido.
Batendo os braços para não afundar, engolindo sentimentos e fúria, nesta hora, aonde estão minhas nadadeiras?
Ora, não tenho nadadeiras, deixo para os peixes que parecem rir da minha posição quase uterina.
Nossa, agora entendo perfeitamente, ou não, este barco já esteve furados várias vezes, posso ver os remendos através dos raios do sol que atravessam os remendados buracos na madeira desta navegação individual.
Como eu pude, me diz?
Viver à deriva com um barco remendado sem ter percebido que isso um dia iria ser perceptível.
Com muita força, desviro o barco, pronto estou dentro, molhada e constrangida pelos pensamentos dos peixes sorridentes.
E agora para onde vou?


terça-feira, 1 de maio de 2012

::O LUGAR NU::


Em toda ausência existe uma declaração sofrida no pensamento.
O pensamento é a própria fala que não narra o que se é possível sentir.
E no tamanho desta gigantesca realidade, portas se abrem. Os meios se rompem!
Pelas frestas destas doentias rachaduras, pode-se ver sentimentos.
Sentimentos alados, calados, isolados e vivenciados.
Dar-se-á o perdão então para os que aqui presente nos encontraram.
Neste desencontro de palavras, o que se sente é um vazio.
O vazio que faz brotar a mais perfeita abertura para o que se pode ter.
E o que se tem, no outro instante já se detém.
O que se fecha, não nos cabe decidir resguardar ou não, o destino em que cremos um dia, na noite se tornará em vão.
Ó grande melancolia, tão sábia e tão reprimida, abro meus braços, pode vir.
Com força, com doçura, quero aprender através das suas travessuras.
A língua que possuo não lhe cabe, a definição que tenho de você, não me sabe.
Se não me sei, basta apenas que eu me aquiete e te vigie.
Sentada em galhos conscientes, a altura desta vertigem é maior que o meu medo.
E o meu medo, não é segredo para o mistério.
Ele me tem, de corpo e alma!
E do desconhecido me alimento no sigilo do descontentamento.
Busco sem saber o que achar, descubro presentes que me encontram.
E neste encontro tão inseguro desconcentro-me de tudo que um dia aprendi.
A Aurora me rende, o pôr-do-sol me vinga, eu de tão curiosa aprendi a não ser tão descrente.
O que nasce não é meu, é parte minha, que também logo se esvai como cinza.
O aprendido se desprende, se exprime em palavras chaves, sem portas, com janelas, esperando ser espiadas.
A visão é embaçada, só se vê vultos, se fala com eles, e o inconsciente se encarrega de transportá-las para o lugar nu.
O lugar nu, não tem útero, ideologia,  abrigo, moral ou determinação, ele é profundamente incompreensível.
Dali, só é possível extrair vestígios!
Fico atenta então... já que por este vão, a linguagem passa e no seu contorno me transpassa.
Derretendo-me neste mundo viril, nesta terra virgem, dentre todos os conhecimentos que obtive nenhum deles me abrigou tanto a ponto de eu me sentir completa, nem eu o quero.
Quero viver a margem, ouvindo pedras rolarem, águas rolarem, lágrimas calarem, conversando com o que não tenho palavras, e nesta grande apreensão, viver a gratidão da linguagem sem razão.