Em toda ausência existe uma declaração sofrida no
pensamento.
O pensamento é a própria fala que não narra o que se é possível
sentir.
E no tamanho desta gigantesca realidade, portas se abrem.
Os meios se rompem!
Pelas frestas destas doentias rachaduras, pode-se ver
sentimentos.
Sentimentos alados, calados, isolados e vivenciados.
Dar-se-á o perdão então para os que aqui presente nos
encontraram.
Neste desencontro de palavras, o que se sente é um vazio.
O vazio que faz brotar a mais perfeita abertura para o
que se pode ter.
E o que se tem, no outro instante já se detém.
O que se fecha, não nos cabe decidir resguardar ou não, o
destino em que cremos um dia, na noite se tornará em vão.
Ó grande melancolia, tão sábia e tão reprimida, abro meus
braços, pode vir.
Com força, com doçura, quero aprender através das suas
travessuras.
A língua que possuo não lhe cabe, a definição que tenho
de você, não me sabe.
Se não me sei, basta apenas que eu me aquiete e te vigie.
Sentada em galhos conscientes, a altura desta vertigem é
maior que o meu medo.
E o meu medo, não é segredo para o mistério.
Ele me tem, de corpo e alma!
E do desconhecido me alimento no sigilo do
descontentamento.
Busco sem saber o que achar, descubro presentes que me
encontram.
E neste encontro tão inseguro desconcentro-me de tudo que
um dia aprendi.
A Aurora me rende, o pôr-do-sol me vinga, eu de tão
curiosa aprendi a não ser tão descrente.
O que nasce não é meu, é parte minha, que também logo se
esvai como cinza.
O aprendido se desprende, se exprime em palavras chaves,
sem portas, com janelas, esperando ser espiadas.
A visão é embaçada, só se vê vultos, se fala com eles, e
o inconsciente se encarrega de transportá-las para o lugar nu.
O lugar nu, não tem útero, ideologia, abrigo, moral ou determinação, ele é
profundamente incompreensível.
Dali, só é possível extrair vestígios!
Fico atenta então... já que por este vão, a linguagem
passa e no seu contorno me transpassa.
Derretendo-me neste mundo viril, nesta terra virgem,
dentre todos os conhecimentos que obtive nenhum deles me abrigou tanto a ponto
de eu me sentir completa, nem eu o quero.
Quero viver a margem, ouvindo pedras rolarem, águas rolarem,
lágrimas calarem, conversando com o que não tenho palavras, e nesta grande apreensão,
viver a gratidão da linguagem sem razão.