quarta-feira, 26 de setembro de 2012

::VENTRE OBSCURO::



Para que ter uma honra tão grande?
Não podemos possuir tantos troféus dentro desta sala mental.
O vento sopra para longe nossas angústias.
Faça a volta, sua tempestade negra se aproxima, a graça será perdida.
Algo tenta ficar sólido dentro de nós, então vamos devagar.
Não precisamos acordar, os vermes vão nos devorar, então reze.
Uma vez eu queria ser grande, do tamanho da minha melancolia.
Mas, por algum motivo eu virei uma pedra e cai de um precipício,
E aquele sentimento me quebrou em mil pedaços, agora eu rasjeto entre as folhagens virgens.
As ruas estão ficando cinza e sinto como se o chão irá começar a se partir.
Sempre voltamos para o caminho das sombras, ali nossos medos nos abraçam lentamente.
Estamos vivendo em um sótão por muito tempo, o sol irá nos carregar para o desconhecido.
Não tenho tempo para colocar minhas lágrimas na bagagem, o tempo está se acabando.
Você soube que carreguei tantas coisas desnecessárias por muito tempo...
Mantenha-me lúcida, porque quando as paredes caírem vou precisar que você me encontre novamente, em um dia de primavera.
Precisarei florescer de novo, para andar na escuridão procurando minha integridade.
Sonhe os meus sonhos, pois sinto que estou me perdendo nesta cidade de pedras frias.
Preciso que os meus olhos fiquem fechados, vou desfilar pelo desfiladeiro dos sonhos sem retorno.
Esta realidade me condena no fundo você sabe que eu vou desejar algo que não poderei mudar.
A comunicação está ficando confusa, agüente firme eu vou mergulhar para te buscar.
Levante a cabeça, respire novamente, estamos em alto mar.
O mar estará vermelho quando percebermos que não podemos perder tudo de uma vez só.
Sangraremos até que nosso corpo não tenha mais vida, porque esta vida que construímos é tão vazia de humanidade.
Recarregue seus sentidos, não se limite, agora estamos longe demais para pensar em voltar.
Qual a sua posição diante dos seus sentimentos mais obscuros?
Não posso te ouvir, nem ler seus lábios, a mensagem que você tenta me transmitir está transfigurada.
Percebi que não temo enlouquecer como na adolescência, a maturidade me fez renascer.
Mesmo que tudo que eu diga não se conecte com as coisas que você acredite, tente ficar por perto, eu não conseguirei te encontrar novamente.
Minha mente pedinte de sentidos me abrace me acolha, me dê um útero duradouro.
Já me dissolvi tantas vezes, fui ao seu encontro e você já havia partido.
Você é minha sombra, meu calor ascende a sua caverna, lá ouço nossos gritos se interligando.
Aquelas vozes são suas não são?
Elas me rondam, me iludem, transtornam minha consciência, não ando me sentindo tão social.
Puxe o cordão umbilical, preciso entrar novamente, aqui fora é frio e obsoleto.
Tudo parece falso, me sinto real quando não estou aqui fora.
O que sinto é desconsiderável diante desta moral massacradora.
Você não pode deixar de me ouvir, agora que estou tão perto de te ter.
Tentei encostar no infinito, eu senti a vida parar de pulsar, no outro instante eu estava acordada.
O que me sustenta ainda está encoberto.
Não posso me revelar sem ser desvelada pelo que eu não compreendo no meu mistério.


terça-feira, 11 de setembro de 2012

::A PORTA PARA A PONTE::



Será possível retardar a própria solidão?
Retratar a si mesmo sem um dia ter tido um chão?
Ilusão, um punhado de terra para cair, era só isso que eu precisava.
Frustração!
Açoitada por um desespero marcante, um terror asfixiante.
Caminhei profundamente nas veias da miséria,
De lá retornei, aprendi a ter compaixão.
Separei-me de uma parte que acumulava dor e tensão.
Este pequeno recorte da minha mente me fez meditar sobre a intenção.
Afinal, não posso forjar compreensão aonde existe desilusão.
A porta por onde passei era larga e hostil.
Profunda e fazia  parte de mim feminina ser uterina e minha outra parte masculina viril.
Sou mulher de um instinto primitivo, com minhas unhas afiadas, arranquei a vesícula do medo.
Senti um vazio, minhas fantasias roubaram de mim uma ingenuidade juvenil.
Eu vi o tempo brincar com minha astúcia, percebendo nos meus vícios mais profanos, um passado que sempre me magoou.
Aonde Kaíros nasceu, e Aíon brotou!
E se chronos me ouvisse resmungar sobre suas juras mais secretas?
Ptolomeu viria às estrelas no meu estomago, contemplando minhas vísceras onde morava o meu pensamento mais infantil.
Tempestuoso é este sentido de sentir o que não se pode pressentir.
Desiludir o desprezo que o desapego me sucumbiu.
Eram folhas, milhares delas espalhadas por um asfalto quente e doentio.
O vento que chacoalhava as árvores partiu.
Pariu um gosto amargo e doce nos meus lábios e me puniu.
Isolando-me das feras auspiciosas que em bandos tentaram me criar.
Será que algum pensamento fixado pode me salvar desta vez?
Pensamentos não salvam, resgatam!
O desfecho me fere, mas consome minhas angústias.
Eu despenco desta janela circular e desastrosa, minha confidente para as piores horas.
Vou flutuando para as mãos do destino.
Lá as Moiras me aguardam, serei conduzida por Ariadne.
Seu fio é de ouro, brilho igual nunca se viu.
Prometeu fazei fogo com as minhas cinzas, te peço encarecidamente que não tenhas pena.
Que não se arrependa, eu quero visitar os cantos que a segunda guerra não destruiu.
Não temo o que está distante, o que tento vislumbrar ainda não existiu.
Se todas as palavras que já disse revelassem o que me persuadiu,
Fui totalmente desonesta e não tive coragem de quieta aguentar este externo frio.
Estar em silêncio sufoca, mas trás a reflexão.
Faz-me habitar um lugar aonde o fracasso se transforma em evolução!