O meu encontro com uma nuvem negra chamada eu-mesmo, trouxe um paradoxo à tona.
Que dia é hoje?
Melhor ainda, penso que eu
comecei a voltar para uma busca, uma vivência de ter experienciado algo tão
radical e violento nesta vida, que todo meus anos, destronaram meu lado
clássico de presenciar o que está posto.
Existe uma atmosfera muito diferente
de quando eu tinha meus 20 anos, até minha teimosia ter causado uma certa repulsa
sobre o que eu entendia sobre estar individuado.
Qual foi a última frase que eu li
hoje?
Acho que foi um trecho do Hermann
Hesse, aquele livro que me tira do sério, Demian. Mas isso não vem ao caso, o
que me interessa saber é: o que eu senti?
O que eu procurava naquele livro
em uma noite qualquer?
Minha curiosidade nunca se
devotou somente aos romances de torturas psicológicas, mas aqueles que remontam
um “eu” não absoluto.
Aquela busca de uma entidade romântica
que remonta um núcleo intenso sobre a sobriedade moderna e sua falta de afeto.
Sem encantos, hoje, em sua
maioria dos escritores, são guias de personificações egóicas e cheias de
tromboses histéricas sobre o caminhar no mundo contemporâneo.
Não, não é preconceito, só uma
visão nada chique sobre uma nova postura a respeito da dor que vem da interdependência
do outro-projetado, quando o assunto é romance.
Cansado, teimo em dizer que,
ainda tenho o sabor nos lábios de reler muitos livros que falam sobre a
quietude de uma alma quando tomada por uma rescisão vívida com algo que se pensou
viver com tanta intensidade e profundida, que acabou se afogando em mágoas.
Qual processo estamos vivendo
neste momento no qual podemos nos ater sobre o objetivo inconsciente?
Penso que, não tenho acolhido com
devida importância o que vem dançando em minha mente. Figuras da imaginação, translúcidos
sonhos, onde passeio por horas, dentro de uma escuta sobre mim mesmo, recusando
uma realidade sombria e sem poder de escolha de pular o atual capítulo.
Tenho que confessar, me tornei desta
vez, um romântico Junguiano, trabalhando minha psiquê de forma que, percebo
tudo através de um canal sistemático sobre todas as relações que venho
testemunhando pela janela da vida.
Nada me aproxima mais do humano
que, nestes 44 anos, ser acometido em muitos lugares por pessoas desconhecidas.
Ali eu me sinto escolhido para partilhar algo material e que eu lanço para um algo
subjetivo-emocional.
Estou desolado, por muitas vezes
não perceber uma certa “malícia” naqueles indivíduos que me acometem.
Alguns, pedem um trocado, uma informação,
ou só passam e deixam bem claro que sabem que eu estou ali, com seus olhares
atentos aos meus movimentos e rosto manchado de personificações mistas de gêneros.
Confusos ou não, fazem uma
estreita passagem, simbiótico eu abraço a situação como se aquilo pudesse de
algum fato, trazer algum aprendizado. Tolice ou falta de razão crítica pura,
fico estarrecido com as santas travessias que fazem comigo neste mundo.
Esses acessos passaram por mim, durante
anos, sem uma percepção , sem luz, sem tenuidade, estava tão irracional até
hoje, que tratava com maestria tal abordagem social.
Não, não se trata disso!
Acho que acabei de trombar com
Narciso em uma esquina e descobri que entre mim e ele, não existe uma afinidade
cosmológica e sim, uma dualidade de débitos transcendentais.
Sinto que algo está faltando.
Acho que esqueci de guardar
alguma peça na caixa, naquele dia em que estava tentando montar um quebra-cabeça
mental de 44 anos e simplesmente, bati na mesa e tudo foi para baixo da mesa. Com
toda raiva de ter desfeito aquele trabalho iniciado, devo ter guardado tudo
depressa e perdido alguma peça, ou algumas, acho que muitas.
Venho procurando essas peças em
pessoas, livros, relações, filmes, músicas, espreitando uma nova ontologia
sobre minha ida e vinda a este mundo esmagador social.
Durante estes “insights” percebo
que tropeço com muita dor diante dos meus rigores pessoais que promovi para mim.
Cláusulas que achei que eram fechadas, mas estavam abertas à novas
interpretações e mudanças, conforme o processo no qual eu estava inserido.
Essa coisa de intelectualismo feito
inverno rigoroso, nunca me apeteceu, eu gostava mesmo era de ouvir as conversas
na rua, aquelas que você ri alto em público e todo mundo te observa como se pudéssemos
promover um evento inesperado em meio a um caos coletivo.
Hoje também descobri que as notas
de rodapé, fazem com que eu fique desesperado para entender algo maior do que
meus olhos me trazem naquele momento, enferrujando minhas perspectivas.
Eu me perco nas minhas próprias pistas
que deixo sobre mim, as procedências dos meus conceitos que vivo quebrando
feito ossos de um senhor de 100 anos.
Não vou me valer de toda teoria
que tenho engolido durante todos esses anos, essa ideia nunca foi muito boa,
porque, no instante seguinte, o objeto do meu conhecimento, torna-se distante
do que sou projetado a sentir pulsar na realidade.
Realmente, minha vida é um
processo de abertura para o brotar do não-revelado, gosto de coisas sem
utilidade pública e coletiva, como assistir a um concerto de violão em um dia
frio para matar o ódio de não entender o porque de minha condição mental ser uma sensação tão deslumbrante e ao mesmo
tempo, matadora de meus instantes que poderiam ser mais leves e frutíferos.
Minha singularidade sempre foi meu
maior problema, nunca consegui caber em lugar algum, não por muito tempo. Eu me
tornava monótono diante de qualquer assombro que auscultasse minha presença.
Vivemos em uma era aonde a fé é
uma onda burocrática, cheia de métodos, estigmas, perversões, cotovelos de
ateus e dogmáticos que são consumidos pelos seus próprios afetos abertos pela
perseverança de aguardar por uma Aurora que Nietzsche já anunciou que chegou ao
fim.
Tudo isso, parece um monte de
palavras lançadas do abismo de meu “self”, que não é protetor de nada, só me
coloca em situações indevidas e provendo circunstâncias nada substanciais.
Eu tenho que dizer que, a loucura
está batendo em minha porta novamente e eu vou ter que sentar e conversar com
ela de uma forma mais mansa, ou ela irá me levar para seu baile eterno de
nostalgia.
E quer saber? Ela dança e eu não!
Pisar nos pés da loucura é como
remontar toda uma infância e brincar consigo mesmo de olhos fechados tentando
descobrir qual brinquedo gosto mais.
No final das contas, por que diabos
tudo isso veio na minha mente?
É o ócio meus amigos, um
companheiro que me faz produzir metáforas escandalosas que andam sem calças e razão
de ser...