terça-feira, 29 de julho de 2025

ÚLTIMO ANDAR

O pássaro está fazendo seu último voo...


Não consegue respirar fundo, suas asas foram cortadas.
O sentimento de dor o inspira a voar baixo.
E se ele pudesse ver o tamanho das nuvens?
Ele poderia imaginar que seu orgulho já foi para além do luar.
Está abandonado, como em seus sonhos mais obscuros.
Escurecido e doente, tenta respirar com força, suas costelas estão quebradas.
Seu coração, cheio de sangue e insanidade.
Sua mente está insalubre, ninguém aguentaria um minuto naquele lugar.
Acreditar que tudo pode virar, destruiria sua existência em segundos.
Nós podemos ainda ter amantes com um corpo tão manchado?
Veja, estamos sem pretensão, a fé foi destilada.
Suas lágrimas não cessam, sua adolescência voltou, sua braveza destruiu sua beleza.
Ele não se vê, então, imerso, começa se preparar para seu último voo.
A loucura, essa, veio para ficar em seu peito.
A arquitetura ideal de sua prosa, falhou.
Nenhuma faísca pode reascender sua lareira.
Vou está esfarrapado, dormente e os prédios estão caindo.
Você está solto à mercê do vento.
A miragem está se apresentando, sua morte está surda.
Seu doce abril, agora está atormentado pelos seus sonhos.
Seu julho, amansado para te ver afundar em seus delírios.
Você é doente, retardado e insuficiente para entender suas limitações.
Já te deixaram com a donzela de ferro, você rodopiou para o abismo
Olha para dentro, algo está tentando te deixar da cor neutra.
Você não é mulher, nem homem é um bicho, fedido.
Então tire esse poder do seu coração e ajoelhe para ver seus últimos instintos falharem.
Não tem ninguém lá fora te esperando, você adoeceu todas as frutas que comeu.
Você tem para onde ir? Não vai poder dormir naquele sofá velho, seu corpo está dolorido.
O que você está vendo agora? Consegue pensar com clareza que não é mais real?
Tudo que você amou  um dia, você deixou desnutrido e sedado.
As batidas do seu coração estão frenéticas, vão descompassar sua melodia preferida.
Está confuso? Tente se recordar daquele sorriso que ainda lhe manteve preso aqui.
Garoto, você foi insuportável até o último instante em que esteve tentando se recordar quem era.
Puxou tudo para baixo e as panelas caíram e todos estão rindo da sua cara.
Suas promessas agora não podem mais te confortar, você está atrasado para sua vista particular.
Acredite, todo mundo tentou te alcançar, mas você já estava perdido a muito tempo.
Divagando aonde o perigo te colocava diante de todas as labaredas que te consumiram pouco a pouco.
Você não foi forte o suficiente, leia a si mesmo, vai enxergar todas as suas vergonhas.
Engole o choro, nem mesmo o horário mais quente do dia pode descongelar suas incertezas.
A cidade está quieta, consegue escutar o seu inconsciente?
Aquelas vozes voltaram e agora você vai ter que convencê-las a não falarem mais alto que você.
O que te confortaria? Talvez não ser o bastante para si mesmo.
Você nunca teve nada, sonhos, sonhos simpatizantes e cheios ardor.
Pense baixo, as vozes estão gritando mais do que a rua que o provoca a sair.
Calma, seu cérebro está falhando, você não conseguiu chegar até sua casa.
Você só precisa parar de chorar e se ouvir.
Eu sei, desta vez você prefere escapar da gaiola.
Vista sua roupa que lhe cause mais frio que sua própria alma.
Meu pequeno, respire, por favor, estou ficando com medo.
Você teve que se preparar para esse dia, mas estava ocupado em não morrer.
E foi alcançado por uma névoa que te sufocou.
Você não consegue mais cantar?
Seu assovio carrega uma trilha de terror.
Seu corpo está sendo desmontado, parte por parte.
Vamos parar por aqui?
Você consegue me escutar?
Eu sei que fez tudo que pode para se segurar.
Então, a culpa foi sua, você aprendeu a voar com as asas do imaginário.
Agora irá para seu tombo final, para tentar esquecer suas memórias.
É chegada a hora de você se recolher.
Eu sei que você não consegue mais tomar seus remédios, então vomite.
Vomite sua alma encardida, meu pássaro, não deixe de bater suas asas naquela colina.
Tudo está revirado em sua cabeça, abra seus olhos o que vê?
Percebe o quanto está ferido e não pode ficar neste lugar por mais tempo?
Tudo e todos que encontra, esfria e entorpece.
Você amaldiçoa tudo que toca, por essa razão sua pele é tão fria?
Consegue enxergar aquela porta da gaiola aberta?
Está procurando razões para ficar ai dentro ainda?
E tudo que conversamos, consegue se recordar?
Naquela esquina, mais uma vez, você se encontrou, sozinho.
Você vai conseguir ficar aqui comigo?
Talvez desta vez não, então se prepare para ver outro mundo.
Não é a primeira vez que você quer isso tudo, não existe mais estranhamento.
Agora você tem pouca força para voar, eu posso ver em seus olhos castanhos.
Sua plumagem está cheia de dor, violência e seu corpo está sujo de humanos.
Veja aquela estrela, você sabe quem te deu?
Mas, você foi tão corajoso até aqui.
Mas, você foi tão corajoso até ontem.
Hoje, tardou a sua expertise, você ficou inconsciente e atrasou o relógio da parede.
Estamos perdendo a chuva de meteoros, as luzes estão apagadas.
Qual a razão para você ser tão cheio de valentia se está com seu alicerce tão frágil?
O que ainda te segura? 
Me conta sobre algo que sempre quis e nunca teve coragem de fazer?
Você me disse uma vez que se sentia tão estranho e que o mundo cheirava a fumaça de trem.
Você me disse uma vez que podia mudar sempre, mas que continuaria da cor azul.
Você me disse uma vez que quando encontrasse o amor, estaria completo.
Agora eu te vejo, pedindo socorro para um pássaro que já está morto.
Tentando acreditar em um sonho acordado que te sufoca como um coração de metal.
O que você precisa para acreditar que pode ser melhor?
Olhe ao seu redor, as cores estão desaparecendo diante de seus olhos.
Está ficando tarde para você só pedir desculpas e culpar a si mesmo por ser tão imaturo e inconsequente.
Deixe as folhas daquela arvore caírem, você irá passear por cima delas pela última vez.
Coloque os pés, sinta como cada recordação sua, te faz ingênuo e cheio de desilusão.
Foi a escuridão quem sempre te escolheu para morar nela.
Está tarde!
E você voou tão alto que ao tocá-la, se viu de novo.
A vida já lhe entregou tantas coisas, agora sinta que ela pode ser não tão grata.
Você abandonou tudo, não teve força nas mãos o suficiente para se segurar em seus sonhos.
Você foi capturado por uma sensação esquisita, ficou a comando da falta de ação.
Todo mundo te vê, tentando suportar tantas coisas sem mesmo poder falar.
Então, atravesse a colina, vá atrás de algo que te faça ser menos cruel consigo mesmo.
Pois, essa é a sua última tentativa e você não está mais no comando.
Não tem ninguém que possa te ouvir gritar em casa.
Sua mãe está entorpecida e você está sem colo, você quebrou a estátua viva.
Eu sei que você poderia morrer de olhos abertos, dizendo que soube amar.
Mas, não sorria com os olhos tão manchados de sangue.
Porque eu sinto você indo embora, se separando de tudo que sente saudade e agora não consegue experienciar.
Eu lamento muito por não poder ter ajudar, não desta vez.
Todas as suas grandes coisas, agora te transformam em pó.
Está na hora de deixar os cavalheiros selvagens desmontarem de seu corpo.
Está na hora de você não mais sentir dor, angústia e medo.
Os rios estão secando e a maré está baixa demais para qualquer navio te resgatar.
Aquele lugar escuro onde lhe deram a crueldade está em ruínas.
Aqueles garotos podres, não podem mais ouvir sua orquestra e nem te perturbar com corpos gelados.
Não precisa mais ter medo de enlouquecer, você apenas está corrompido.
Feche seus pequenos olhos, a viagem irá começar.
Você não precisa segurar tudo com tanta brutalidade, sua fraqueza te libertará.
Você não consegue nem me abraçar e eu entendo, está consumido.
A solidão já te encontrou, fique com ela e enfrente seus devaneios.
Aceite seu destino de uma vez, sua única maldade é ser feito de carne e osso.
E mesmo assim, consegue voar para tão longe.
Você encontrou o amor e o amargou, encontrou a vida e a encarou e ela te esmagou...