Nem tudo cabe no silêncio e tão
pouco, nas palavras. Algumas sensações, moram dentro de nós, em um lugar aonde
o vazio não existe por muito tempo. Este lugar, condensado e insano, provocador
e modesto, lembra profundamente alguém procurando motivo para entender o calor
do sol e o frio que se esconde atrás da Lua.
Passamos muitos anos tentando
constituir um lugar de narrativa para nossos acontecimentos mais profundos.
Muitas vezes, conseguimos, sussurramos, murmuramos, mas poucas pessoas escutam ou
conseguem decifrar o que de fato precisamos para daquele lugar de expectativas,
nos iluminar.
Com quem podemos de fato contar quando cuspimos nossa história mais secreta, sem que este, possa não nos julgar com sua morbidez e egocentrismo?
Algumas pessoas passam pela nossa
vida, tão passageiras, que os acentos não ficam reservados para que elas voltem
e também, talvez elas nunca queiram ali voltar a sentar. Indiferentemente,
continuamos vivendo procurando prerrogativas para felicidade e angústia, melancolia
e sucesso. Mas, até quanto pudemos suportar sem sermos entendidos? É possível
que nunca nos entendam, esse lugar de dúvida é substancial e pode parecer, vulgar.
Todos nós, em algum lugar escondido, estamos aguardando um amor, um ponto força, um novo amanhã chegar.
O lugar do pensamento é
imaginário, a concretude de nossos sonhos, não tem tempo e nem espaço, ele só
vive a se instaurar, pelas paredes, chão, teto, linhas, presentes, futuro,
pessoas, promessas e frustrações.
Quem consegue subir até onde tudo
que idealizamos, reside?
Nós mesmos e outros, como nós, transgressores
de memórias, afetos e considerações, procuram escrever, contar, ou simplesmente,
se desmancham em lágrimas, tentando passar para outro, o que ele está a
vivenciar.
Encontramos diversas controversas
a respeito de quem somos, para onde vamos e para que abandonar a ideia de enaltecer
o que querermos alcançar.
Talvez, bem lá no fundo, saibamos
que o nosso toque no mundo, pode ser tão sensível, que vira um bicho humano
brutal. Tudo bem, o que precede a queda de todos nós, vem da não realização. Um
não, ou um, sim, muda toda uma gestação de estação mental.
Não existe lugar para quem não quer
se encontrar!
Mas depois que nos encontramos, o que faremos com quem iremos
nos deparar?
Minha prosa é acelerada, fugaz, densa,
vem de algum lugar que não me recordo, mas sei que vivi, de alguma forma,
testemunhei algo que me acometeu e no meu universo particular, que de repente,
desabrocha, perturba, me faz cair de amores e no outro ato, me torna fraca e
preparada para novamente, transmutar.
Não me esqueço de tudo que já atropelei, presenciei e silenciei, da paixão, fúria, desconexões, encontros marcados por desencontros, pelas ruas que já tive que passar correndo, outras, que andei tão só, que andava devagar para tentar me encontrar.
Ser livre é um desejo, ardente, mas a liberdade não está apenas em fazer o que se quer e sim, não ter que lutar contra si mesmo para chegar aonde não temos medo de não ter limite.
Passamos tanto tempo querendo
justificar o que não cabe somente em nós, desejos e projeções cheias de
preceitos e degustações de um prazer qualquer, sem nos dar conta que ali, não estávamos
tão preparados para nos aceitar.
No meu mais íntimo desejo, queria que nada se permanecesse intacto em minha vida
como sonhei, mas que meus sonhos possam ser percebidos por alguém que tenha a vontade
de comigo, montar em um cavalo arisco, feroz, cheio de medo, ressentimentos e que ao
galopar tão rapidamente, talvez não saiba o caminho para dentro de si, voltar.
Desejo a todos, que sonhem, sejam primitivos, seguros de si, que saibam que o caminho que escolham, talvez não seja o melhor, mas que neste momento, só sirva de passagem para te levar para um novo lugar dentro de si mesmo.
Convido a todos, para dançar em
meus pensamentos substanciais e imaginários, não se esqueçam que permeio o
nunca, o não-pensado, o mistério, a culpa, o amor, a dor, a realização e o
pensar. Espero ser capaz de transcender o que aqui deixo, na honra das
palavras, nos minutos que me fazem tardia.
Que seja possível que vocês sintam o calor de sol
na beira do mar, forte, incandescente ou sintam o frio do cair de uma noite, eu
esperando uma tempestade chegar.
Em um aceno breve, me despeço, esperando tudo se entrelaçar, naquela tarde de domingo...