quarta-feira, 30 de julho de 2025

LEVIATÃ

 

Andando pelas ruas hoje, a cidade parecia estar funcionando com a energia de um velho gerador.
As pessoas pareciam flechas e eu sorria, tentando ver a direção que elas iriam tomar.
Está tarde, mas o sono saiu para dar uma volta hoje de tarde e ainda não voltou.
Penetração mental, como uma masturbação causada por violência sensorial/xual,  me tornei, radioativo, mas estou catando os cacos para questionar a autoridade que meu ego perdeu.
Ali, bem naquele ponto, havia uma senhora que tinha os olhos cheios de esperança, ou era uma projeção minha querendo tirar a neblina da minha mente?
Preciso me aquecer, muitas vezes eu percebo as luzes rodopiarem e me recordo de que passei o dia todo sem fome e comer parece um filme do Hitchcock.
Estava pensando sobre a realidade, será que de fato estou de que lado dela?
Por estar aqui dividindo colapsos e frases que deveriam ser engraçadas e não bagunçadas, me sinto pequenino, passeando por universos destoados.
Percebi que passei muitos minutos procurando algo que realmente gostasse e descobri que só queria um apagão para descansar a mente.
Quando eu era pequeno, criava um mundo cheio de possibilidades, onde eu conseguia conversar com os animais.
Já contei que durmo em um sofá velho, aonde enquanto todo mundo está dormindo ao amanhecer eu sinto os raios matinais tentarem me expulsar dali?
Já me acostumei de ser expulso de meus sonhos por excesso de claridade, isso quando consigo dormir o suficiente para não ver raiar o dia, então, eu posso usar esse truque para falar que quando tudo está caminhando muito bem, eu tenho a mania neurótica de achar que estou adormecendo.
Por dormir pouco, fico assombrado com meus devaneios durante o resto do dia.
Gostaria tanto de saber apreciar uma boa seresta, mas o que me consola é que eu posso ser só um sonâmbulo, vagando por um mundo recriado pelos meus desejos mais infantis.
No presente, tem sido uma tarefa bem difícil conversar comigo, eu gostaria de ter a mente de uma criança, para chegar a um lugar simbólico menos cartesiano e psicótico.
A psicóloga me disse que estou com "início" de depressão, mas será que ela sabe o tamanho da pressão que eu tenho que suportar quando estou pensando em qual roupa deveria usar quando estou congelando?
Estou miúdo, quase que cabendo em um saco de arroz, querendo matar a minha fome de não lutar contra o acaso. 
Acho que deixei o feijão no fogo.
A minha tristeza é quase um soneto de separação entre a vista conturbada de um lunático tentando descobrir que a lua é só algo que habita dentro dele e que aquele círculo gigante no céu é um contador de histórias secretas.
Não contei isso ainda, hoje escutei muitas músicas que me deixavam depressivo quando mais jovem, mas agora servem para testar minha memória, para ver se ainda lembro das letras mais insanas que fiz questão de decorar.
Felizmente, estou leve, parece que eu ouço a voz da minha mãe me perguntando sobre meu dia, isso me deixou tão vidrado e excitado que esqueci que ela está debaixo dos degraus da memória e nem lembra de onde colocou seu aparelho de surdez.
Ando tão em silêncio que esqueço de como é a voz de meu amigo imaginário, meu alter ego.
Lembro de quando criança, venerava correr para subir ladeiras, ficar cansado quando chegava no topo me trazia uma sensação de que havia vencido algo maior do que eu.
Nos tempos atuais, gosto das descidas, aprendi a segurar com força os pés no chão para não dar com a cara no asfalto quando quero correr mais rápido que meus pensamentos.
Escrever tem sido suficiente, brinco que eu estou começando a ver as fissuras no muro que construíram com força na frente da minha casa.
As vezes consigo ver através destes vãos, isso tem me tornado um pouco melhor, por alguns instantes.
Se alguém hoje me questionasse sobre o que eu queria aprender para ser alguém melhor do que fui até aqui, acho que gostaria de aprender a pescar.
Tenho uma dificuldade enorme em ficar parado por muito tempo, como se precisasse gastar as solas de meus tênis para andar na terra encantada.
Fico tão cansado com essa coisa toda frenética que eu choro escondido no banheiro para aliviar e acredite, adianta e muito.
Deixe que eu explique melhor essa coisa de querer aprender a pescar, porque desta maneira eu saberia ficar quietinho, esperando algo puxar a linha do anzol sem ficar encantado pela profundidade do horizonte com o Sol que se debruça na beira onde nasce o rio das ilusões.
E por falar em horizonte, eu queria poder ler um livro do Hobbes sem ter a medida certa de não compreender o quanto ele seria útil se não fosse tão antropocêntrico. 
Essas vontades, das quais relatei acima, são trovoadas num mundo cheio de ansiedade e com extremas condições de desabitar o que é pensamento impróprio para momentos em que se detesta a solidão porque ela transa bem mal com meu inconsciente. 
Hobbes, pode por favor, mandar dormir o Leviatã?
Eu preciso acordar cedo para ir ao hospital porque eu preciso de ajuda, já vejo que está quase na hora de ver aqueles médicos que todos dizem que vão salvar minha vida.
Referente à ajuda, minha cabeça não anda  muito boa e ter que enfrentar um hospital sozinho, durante horas, tem me deixado tristonho e sufocado.
Eu evito pensar em coisas que podem parecer puro intimismo a essas horas da madrugada.
Me refiro a ter que estar diante de todo esse lance de pedir ajuda pela questão do que tem passado na minha mente e na verdade, tentar acreditar que alguém segurando minhas mãos enquanto o médico me puxa para baixo, seria bem mais motivador do que eu usar minha imaginação para esperar alguém naquele corredor, gritar meu nome o quanto antes.
Mas, lá fora, todos estão de alguma maneira tentando se manter vivo e eu não aprendi a dividir o meu lugar de dor com todos, só por cartas mentais.
Me acho patético algumas vezes, ouvir Radiohead me faz querer ser o Tom Yorke, pelos fatores dele ser feito, mas ter um bom coração que o salva de andar pelo mundo sem que ninguém pense que ele não se importa com o que está fora dele.
Estou com vontade de andar de bicicleta, adoro a nostalgia de quando meu pai, levava eu e meus irmãos para andar de bicicleta bem cedo, com a finalidade de nos apresentar a lugares novos desta cidade.
Mas a melhor parte vem depois, quando chegávamos em casa, minha mãe parecia feliz, claro que pela razão de termos dado à ela alguns momentos de privacidade e estarmos exaustos a ponto de não dar trabalho algum.
Isso tudo é o que eu penso, sem devaneios.




TEIMOSIA ABSTRATA

O meu encontro com uma nuvem negra chamada eu-mesmo, trouxe um paradoxo à tona.

Que dia é hoje?

Melhor ainda, penso que eu comecei a voltar para uma busca, uma vivência de ter experienciado algo tão radical e violento nesta vida, que todo meus anos, destronaram meu lado clássico de presenciar o que está posto.

Existe uma atmosfera muito diferente de quando eu tinha meus 20 anos, até minha teimosia ter causado uma certa repulsa sobre o que eu entendia sobre estar individuado.

Qual foi a última frase que eu li hoje?

Acho que foi um trecho do Hermann Hesse, aquele livro que me tira do sério, Demian. Mas isso não vem ao caso, o que me interessa saber é: o que eu senti?

O que eu procurava naquele livro em uma noite qualquer?

Minha curiosidade nunca se devotou somente aos romances de torturas psicológicas, mas aqueles que remontam um “eu” não absoluto.

Aquela busca de uma entidade romântica que remonta um núcleo intenso sobre a sobriedade moderna e sua falta de afeto.

Sem encantos, hoje, em sua maioria dos escritores, são guias de personificações egóicas e cheias de tromboses histéricas sobre o caminhar no mundo contemporâneo.

Não, não é preconceito, só uma visão nada chique sobre uma nova postura a respeito da dor que vem da interdependência do outro-projetado, quando o assunto é romance.

Cansado, teimo em dizer que, ainda tenho o sabor nos lábios de reler muitos livros que falam sobre a quietude de uma alma quando tomada por uma rescisão vívida com algo que se pensou viver com tanta intensidade e profundida, que acabou se afogando em mágoas.

Qual processo estamos vivendo neste momento no qual podemos nos ater sobre o objetivo inconsciente?

Penso que, não tenho acolhido com devida importância o que vem dançando em minha mente. Figuras da imaginação, translúcidos sonhos, onde passeio por horas, dentro de uma escuta sobre mim mesmo, recusando uma realidade sombria e sem poder de escolha de pular o atual capítulo.

Tenho que confessar, me tornei desta vez, um romântico Junguiano, trabalhando minha psiquê de forma que, percebo tudo através de um canal sistemático sobre todas as relações que venho testemunhando pela janela da vida.

Nada me aproxima mais do humano que, nestes 44 anos, ser acometido em muitos lugares por pessoas desconhecidas. Ali eu me sinto escolhido para partilhar algo material e que eu lanço para um algo subjetivo-emocional.

Estou desolado, por muitas vezes não perceber uma certa “malícia” naqueles indivíduos que me acometem.

Alguns, pedem um trocado, uma informação, ou só passam e deixam bem claro que sabem que eu estou ali, com seus olhares atentos aos meus movimentos e rosto manchado de personificações mistas de gêneros.

Confusos ou não, fazem uma estreita passagem, simbiótico eu abraço a situação como se aquilo pudesse de algum fato, trazer algum aprendizado. Tolice ou falta de razão crítica pura, fico estarrecido com as santas travessias que fazem comigo neste mundo.

Esses acessos passaram por mim, durante anos, sem uma percepção , sem luz, sem tenuidade, estava tão irracional até hoje, que tratava com maestria tal abordagem social.

Não, não se trata disso!

Acho que acabei de trombar com Narciso em uma esquina e descobri que entre mim e ele, não existe uma afinidade cosmológica e sim, uma dualidade de débitos transcendentais.

Sinto que algo está faltando.

Acho que esqueci de guardar alguma peça na caixa, naquele dia em que estava tentando montar um quebra-cabeça mental de 44 anos e simplesmente, bati na mesa e tudo foi para baixo da mesa. Com toda raiva de ter desfeito aquele trabalho iniciado, devo ter guardado tudo depressa e perdido alguma peça, ou algumas, acho que muitas.

Venho procurando essas peças em pessoas, livros, relações, filmes, músicas, espreitando uma nova ontologia sobre minha ida e vinda a este mundo esmagador social.

Durante estes “insights” percebo que tropeço com muita dor diante dos meus rigores pessoais que promovi para mim. Cláusulas que achei que eram fechadas, mas estavam abertas à novas interpretações e mudanças, conforme o processo no qual eu estava inserido.

Essa coisa de intelectualismo feito inverno rigoroso, nunca me apeteceu, eu gostava mesmo era de ouvir as conversas na rua, aquelas que você ri alto em público e todo mundo te observa como se pudéssemos promover um evento inesperado em meio a um caos coletivo.

Hoje também descobri que as notas de rodapé, fazem com que eu fique desesperado para entender algo maior do que meus olhos me trazem naquele momento, enferrujando minhas perspectivas.

Eu me perco nas minhas próprias pistas que deixo sobre mim, as procedências dos meus conceitos que vivo quebrando feito ossos de um senhor de 100 anos.

Não vou me valer de toda teoria que tenho engolido durante todos esses anos, essa ideia nunca foi muito boa, porque, no instante seguinte, o objeto do meu conhecimento, torna-se distante do que sou projetado a sentir pulsar na realidade.

Realmente, minha vida é um processo de abertura para o brotar do não-revelado, gosto de coisas sem utilidade pública e coletiva, como assistir a um concerto de violão em um dia frio para matar o ódio de não entender o porque de minha condição mental  ser uma sensação tão deslumbrante e ao mesmo tempo, matadora de meus instantes que poderiam ser mais leves e frutíferos.

Minha singularidade sempre foi meu maior problema, nunca consegui caber em lugar algum, não por muito tempo. Eu me tornava monótono diante de qualquer assombro que auscultasse minha presença.

Vivemos em uma era aonde a fé é uma onda burocrática, cheia de métodos, estigmas, perversões, cotovelos de ateus e dogmáticos que são consumidos pelos seus próprios afetos abertos pela perseverança de aguardar por uma Aurora que Nietzsche já anunciou que chegou ao fim.

Tudo isso, parece um monte de palavras lançadas do abismo de meu “self”, que não é protetor de nada, só me coloca em situações indevidas e provendo circunstâncias nada substanciais.

Eu tenho que dizer que, a loucura está batendo em minha porta novamente e eu vou ter que sentar e conversar com ela de uma forma mais mansa, ou ela irá me levar para seu baile eterno de nostalgia.

E quer saber? Ela dança e eu não!

Pisar nos pés da loucura é como remontar toda uma infância e brincar consigo mesmo de olhos fechados tentando descobrir qual brinquedo gosto mais.

No final das contas, por que diabos tudo isso veio na minha mente?

É o ócio meus amigos, um companheiro que me faz produzir metáforas escandalosas que andam sem calças e razão de ser...

NARCISO E O VAZIO

 A vida é preciosa... 

Seus milhares de valores, sentimentos, vivências da experiência do logo – ali. 

Estamos entre dimensões quadriculadas, cheias de formas e cores, ângulos complexos, constituídos por dores e amores. 

A morte do espírito é longa e passageira, devaneios entre o céu e a terra, os quadrantes dos astros e suas estrelas.

Tudo é incerto, a certeza devora a franqueza, a fraqueza da sensibilidade sofrida pelos que caminham diante do espetáculo da natureza.

Não há quem não sinta os acasos, do útero brota o mistério, desconhecido ventre do amigo-íntimo, tempo em seus esferas, cronológica, aiontica e kairótica, tempestuoso.

Apresento os aparecidos, os fenômenos do rio do esquecimento.

 A jornada longínqua dos que beiram a loucura e os destemidos pelo nascimento da esfera unidade.

Tudo que sentimos, parece razoavelmente simbólico, intrínseco, relatando os desejos noturnos.

Retratos do sol, a lua que se esconde no infinito, majestosa maldade contemporânea. 

O que é inútil é aproveitável pelo passatempo do desprovido, narcisismo cheio de destroços de traumas e desleixos existenciais.

Baco, desvairado, contrariado, vive em nosso pensamento, rastejando naquele sujo labirinto que é conduzido pelo fio de Ariadne.

A vida é sensível, como o fio que nos conduz com voracidade por uma vida, aberta, que as vezes fecha portas para que a infelicidade não maltrate nossos corações.

Infortunado seja aquele que com excesso de vaidade, diga que conhece toda a verdade!

Esse cai, e de um altura inimaginável. 

Narciso, torna-se, vazio!

terça-feira, 29 de julho de 2025

CICATRIZES DE FOGO

 A morte, uma figura distante para quem sofre.

Tomo a liberdade de dizer que já não sou o mesmo.

Todos os dias, vou mudando a direção , lá dentro , como o vento.

Este vento que empurra a vida para margens desconhecidas aonde a profundidade do oceano, afoga a felicidade.

Nas horas, ouço, no romper das sentinelas do destino , o tempo me decorando.

Ele nunca foi amistoso, carrega consigo um sorriso sarcástico de quem está encenando seu último ato.

A coragem que tenho pela manhã, vai ficando pálida durante o dia, ao cair da noite, sonâmbulo , me desdenho.

Eu gostaria de reclamar com a temperatura de minhas mãos, frias e melancólicas , hoje estão dilaceradas.

A verdade é que, estou no escuro, procurando uma maneira de escrever algo para me acalmar , meu mar está bravo e eu esqueci como é nadar sem mergulhar tão profundamente.

Me desculpa, as vezes eu queria desaparecer entre essas linhas, só para reencontrar algo em mim que perdi em algum lugar deste texto.

Meus pés estão encharcados de vontade de ficarem passeando no meu inconsciente.

Não sei como eu irei superar o espanto de minha vida diante de uma tragédia que eu havia refutado com tanto clamor.

Bom, acho que comecei a delirar de novo, então, vou me deliciando enquanto ainda posso sentir minhas cicatrizes arderem.

Até parece que essas paredes deste quarto escuro, podem guardar tanta sofreguidão.

Eu vou chorar só mais um pouco, combinado?

Só você vai saber, queria dizer que a televisao da sala está tão alta que me sinto autorizado a desmoronar sem que ninguém perceba minha presença mórbida.

Penso que, logo vou ter que escrever textos mais densos, porque os pássaros estão batendo forte nesta janela de vidro e as asas deles , são navalhas mentais.

Já está escurecendo e eu volto a viver um "frenesi"...

NASCEU E É UM MENINO!

 Uma associação livre, um requinte primário, olhar, lugar divino.

Súbita vontade de estar dentro de um pôr-do-sol.

Aonde esguiam-se as flores rosas, como trincheiras tristes.

O som do vento, comunga uma oração antiga, uma prece, narrada com lentidão.

O sol não chegara ao horizonte, mas já não ardia mais.

A tarde me devorou.

Sublime destaque do barulho que faz uma antiga máquina de escrever.

Tentando constituir uma história qualquer, para falar de amor.

Traindo assim, sua mecânica selvagem e barulhenta, ela consolida o ato celestial.

Fecunda em letras, toda uma emoção vívida por dois.

Era minha paixão divinal.

Diziam-me que o amor não era capaz de curar.

Mas o que cura o amor, se arde tanto e dissolve passados tão cruéis?

O anoitecer carrega consigo, uma saudade arrebatadora, sem pele, me deito.

Noite fria, pés congelados, pernas que foram açoitadas pelo tempo, se cruzam.

O bestial sentimento de solidão, me deixa descompassado.

Ouvindo uma triste melodia, me enamoro pela frieza de meus sentidos.

Todos voltados as memórias que me ascende a tradução do que é esperar.

Não tenho pressa, correr diante deste campo todo, só me enlouqueceria.

Então, me debruço lentamente sobre uma mesa, procurando um livro qualquer.

Que possa relatar palavras que não consigo lembrar de como eu era na mocidade.

Era tão jovem, parecia uma fagulha do destino, lançada em um monte de folhas secas.

Devoção a um pensamento eterno de melancolia e exaustão.

Estava tão longe de mim, mas tão perto de meu coração, que eu me enrolava em lágrimas.

Dissolvido, existia como quem quisesse um abraço apertado para esmagar a alma.

E esse, seria para um aconchego insano e matrimonial.

E eu continuava delirando, amando todo jardim que percebi ao olhar para trás.

Reparando como as espreguiçadeiras são preguiçosas e valentes.

Lutam sempre para me manter cobiçando a força delas, trepadas no destino sem medo do cheiro da morte.

Que bravura teria eu, diante do espanto da pulsante vida?

Coitado, bastardo!

Com suas amarras sentimentais e vínculos com memórias transgressoras e sórdidas.

Apanhando de sua mente avassaladora e caótica.

Minha mente prega peças, de drama, constantemente vejo o amanhã, gelado.

Aprecio o café matinal como se fosse o último desejo de um mortal.

Analisando as letras dançarem no jardim das minhas pálpebras.

Procurando minha amada em Baudelaire e Plath.

Mitigando uma música clássica, sopro no fundo do peito, desleixo anacrônico sensorial.

Que tato eu tenho para tal maestria de me iludir com tantas belezas enquanto feio?

Essa resposta não tenho, mas sei que tenho uma ousadia desde pequeno.

Sabia pular poças de agua, hoje não sei pular uma noite sem me queixar de insônia.

Aonde será que perdi minha esperteza?

Já me recordo, foi em um verão, enquanto me afundava na lama da adolescência.

Nunca fui condecorado, era de uma inutilidade tão grande para todos, meu apelido, Sol.

Que sarcástico, levar o nome de Sol enquanto passeava pela escuridão dos vãos da escola.

Eu pensava que podia ficar invisível e ver pairar a desordem causada por austeros.

Tão delicado, faltava as aulas de treino livre para ir à biblioteca.

Esse era meu lugar seguro, no silêncio, na solidão e no cheiro de velharia que me amansava.

Eu mantive um diário por anos, depois, um blog na internet, que servia para memorar minhas tragédias e comédias que não sabia de onde brotavam.

Minha imaginação sempre foi robusta e brusca comigo, carrasca porém, muito fiel.

Acabei de recordar que lia as cartas que meu avô trocava com minha mãe.

Eles eram quase devotos de uma longínqua saudosa memória ancestral.

Falavam sobre o que haviam comido, sobre fé e Deus sempre aparecia no final das cartas, acenando e dando adeus.

Não sei aonde foram parar essas narrativas, acho que em algum lugar sombrio e abstrato da mente de mamãe.

Nunca gostei de ficar sozinho, estava sempre com a angústia no peito, por isso lia tanto para fingir que era imortal e imoral.

Sabe o que realmente é embaraçoso?

Pensar que um dia eu aprendi a sorrir de verdade quando me apaixonei por uma menina de cabelos negros e cheios de onda.

Posso dizer que foi a primeira vez que senti meu coração palpitar, parecia que teria um ataque fulminante de desejo.

Eu já era velho, tinha 44 anos, acredita?

Antes disso, eu sorria como quem vê o mar pela primeira vez, mas não molhou nem a ponta dos pés para saber o quanto ele realmente é intenso.

Sempre tive vergonha do meu sorriso, era como uma abertura de porta entreaberta, com covinhas lamentosas e escandalosas, mas não diziam nada, só abriam para os dentes passarem pelos cantos.

O tom da minha voz, incisiva e objetiva, feroz como um leão na savana e carregava a linguagem de um porta voz do mistério, arcaico vocabulário que me nutria.

Amanhã, ou quem sabe, depois, voltarei!

ALMA SELVAGEM

As coisas estão de volta ao armário...

Minha vida, em miseria e eu estou atormentado.

Quebrando os últimos pratos que restam.

Eu posso não voltar hoje a noite ?

Queria ficar em um quarto escuro e tendencioso.

Aonde eu sei que não vou conseguir sair.

E justamente quando eu estava feliz eu vi a face da dor.

Meus delírios brincando com minha sanidade.

Eu dei tudo o que possuía e acabei desalmado.

Chorando em uma esquina qualquer, desnorteado.

Agora eu sei o que aconteceu naquele dia.

Eu sei o quanto talvez não possa voltar sendo o mesmo.

Os resquícios estão na minha janela da alma.

Lama, vento e suor.

Sangue, remorso e crueldade.

Era um homem sofrendo como criança e quebrou seu brinquedo preferido , sua inocência.

Mais uma vez, na força , seu corpo virou sua arma.

Potente, mortal, agora virou seu calabolso.

Minha coragem não me deixou correr, só caminhar, cambaleando, procurando um pedaço de vida naquele imenso momento que não acabava.

Não sentia frio, parecia que eu estava morto, lágrimas congeladas desciam de meus olhos serrados.

Como vou fugir agora ?

Posso tomar banho?

Como eu vim parar aqui?

Posso me vestir com meu manto negro?

Eu já estou dentro do cativeiro que eles construíram para mim naquela noite.

Respirando ofegante, penetrado por dois animais sujos e sem cor.

Meus lábios, paralisados , meu olhar não tem para onde ir.

Eu queria só viver um pouco mais longe destes delírios.

Estou sumindo, não consigo escapar e eu sei o quanto isso é pavoroso.

Você pode me ouvir? Entende o que eu falo?

Sou nada, eu queria ser vazio, mas estou cheio de tormentos e indagações.

Eu não consigo me ouvir mais e nem saber do que falo com tanto rancor.

Eu ainda estou aqui?

O que estou fazendo aqui?

Eu não suporto mais tentar achar engracado dizer que eu sou culpado.

As estrelas estão se apagando e as nuvens cobrem todo meu céu.

O meu amor, ainda está quente em minhas veias.

As vezes eu só queria desaparecer para que as pessoas não me assistissem desaparecer feito fumaça em um dia escuro.

Agora sou noite, meu sorriso foi falado e meu corpo treme, como se quisesse fazer uma tentativa de me manter vivo.

Eu ainda estou aqui?

Tentei ir para casa, porque meus olhos ficaram apagados e sem reflexos.

Eu vi o dia virar noite e alguém me procurava para ver a morte nos meus olhos.

Fui tão incapaz de ver o tamanho da minha vida, naquele momento eu congelei de medo.

Agora sei o que é medo e as árvores estão de ponta cabeça.

O céu está se desmanchando, meus pulmões doem.

Não consigo parar de lamentar e chorar, me abriram.

Outro corte em um dia que parecia comum e que destroçou minha sanidade.

Estou sozinho, vendo minha mãe adormecer enquanto eu desencanto de tudo.

Tem uma mancha na minha retina e eu estou me desfazendo tentando refletir o quanto fui volatil e estupido.

Vou descobrir meu corpo , alguém deve perceber que desta vez estou acenando porque estou perdido no mar de ilusão .

Tem alguém aí?

Sobrou alguém ?

O que eu sou? 

Metade humano e outra, um animal que carrega dardos por todo corpo, me acertaram em cheio.

Eles eram vorazes, tinham fome de lixo e eu senti o cheiro pútrido daquele lugar desconhecido.

Agora me recordo, eu estava ali, nu e não deveria ter lutado por minha vida, a minha maior redenção era esquecer.

Lembro de quase tudo, só de como eu realmente me senti quando me disseram que estavam me fazendo um favor.

Talvez eu fosse uma bomba prestes a explodir e eu eclodi para dentro.

Sinto os estilhaços andando por cada milímetro de meu corpo.

Sabe o que dói?

Eu estava tão feliz, virei um selvagem, sem alma e indo para um lugar desconhecido.

Me sentei naquela esquina e vi o que havia sobrado de minha vida.

Sentidos que eu teria que lutar para manter , dia-a-dia.

Mamãe, não pode me der mais colo.

Papai está em passos largos por aí.

O meu amor, dorme com o coração que eu magoei.

Estou subindo uma escada, sentindo uma vertigem estranha me retraindo.

Eu que andei por tantas estradas, caminhar virou uma maldição.

Minha liberdade foi roubada e eu me tornei um cervo abatido em uma terça qualquer.

Meus sentidos não carregam mais fé e meus braços estão cansados de lutar.

Eu queria uma canção que pudesse me ninar.

Estou sem sonho , me ensina como dormir?

Meu coração está dilacerado eu cortei com uma faca amolada com o fogo da minha dor.

Minha ment está esvaziando e eu não quero lembrar quem sou , estou com vergonha de ter existido.

Eu existo?

Quais são as chances de eu continuar ileso depois de tudo?

Eu estava dando adeus para quem naquele dia?

Eu não aprendi a sorrir sozinho, tinha algo de errado comigo.

Acho que já estava enterrado e tentava todos os dias me desenterrar com as próprias mãos.

Cada punhado de terra, redescobrir minha insanidade.

Insatisfeito, montei em um cavalo qualquer e me perdi nos meus devaneios....

ÚLTIMO ANDAR

O pássaro está fazendo seu último voo...


Não consegue respirar fundo, suas asas foram cortadas.
O sentimento de dor o inspira a voar baixo.
E se ele pudesse ver o tamanho das nuvens?
Ele poderia imaginar que seu orgulho já foi para além do luar.
Está abandonado, como em seus sonhos mais obscuros.
Escurecido e doente, tenta respirar com força, suas costelas estão quebradas.
Seu coração, cheio de sangue e insanidade.
Sua mente está insalubre, ninguém aguentaria um minuto naquele lugar.
Acreditar que tudo pode virar, destruiria sua existência em segundos.
Nós podemos ainda ter amantes com um corpo tão manchado?
Veja, estamos sem pretensão, a fé foi destilada.
Suas lágrimas não cessam, sua adolescência voltou, sua braveza destruiu sua beleza.
Ele não se vê, então, imerso, começa se preparar para seu último voo.
A loucura, essa, veio para ficar em seu peito.
A arquitetura ideal de sua prosa, falhou.
Nenhuma faísca pode reascender sua lareira.
Vou está esfarrapado, dormente e os prédios estão caindo.
Você está solto à mercê do vento.
A miragem está se apresentando, sua morte está surda.
Seu doce abril, agora está atormentado pelos seus sonhos.
Seu julho, amansado para te ver afundar em seus delírios.
Você é doente, retardado e insuficiente para entender suas limitações.
Já te deixaram com a donzela de ferro, você rodopiou para o abismo
Olha para dentro, algo está tentando te deixar da cor neutra.
Você não é mulher, nem homem é um bicho, fedido.
Então tire esse poder do seu coração e ajoelhe para ver seus últimos instintos falharem.
Não tem ninguém lá fora te esperando, você adoeceu todas as frutas que comeu.
Você tem para onde ir? Não vai poder dormir naquele sofá velho, seu corpo está dolorido.
O que você está vendo agora? Consegue pensar com clareza que não é mais real?
Tudo que você amou  um dia, você deixou desnutrido e sedado.
As batidas do seu coração estão frenéticas, vão descompassar sua melodia preferida.
Está confuso? Tente se recordar daquele sorriso que ainda lhe manteve preso aqui.
Garoto, você foi insuportável até o último instante em que esteve tentando se recordar quem era.
Puxou tudo para baixo e as panelas caíram e todos estão rindo da sua cara.
Suas promessas agora não podem mais te confortar, você está atrasado para sua vista particular.
Acredite, todo mundo tentou te alcançar, mas você já estava perdido a muito tempo.
Divagando aonde o perigo te colocava diante de todas as labaredas que te consumiram pouco a pouco.
Você não foi forte o suficiente, leia a si mesmo, vai enxergar todas as suas vergonhas.
Engole o choro, nem mesmo o horário mais quente do dia pode descongelar suas incertezas.
A cidade está quieta, consegue escutar o seu inconsciente?
Aquelas vozes voltaram e agora você vai ter que convencê-las a não falarem mais alto que você.
O que te confortaria? Talvez não ser o bastante para si mesmo.
Você nunca teve nada, sonhos, sonhos simpatizantes e cheios ardor.
Pense baixo, as vozes estão gritando mais do que a rua que o provoca a sair.
Calma, seu cérebro está falhando, você não conseguiu chegar até sua casa.
Você só precisa parar de chorar e se ouvir.
Eu sei, desta vez você prefere escapar da gaiola.
Vista sua roupa que lhe cause mais frio que sua própria alma.
Meu pequeno, respire, por favor, estou ficando com medo.
Você teve que se preparar para esse dia, mas estava ocupado em não morrer.
E foi alcançado por uma névoa que te sufocou.
Você não consegue mais cantar?
Seu assovio carrega uma trilha de terror.
Seu corpo está sendo desmontado, parte por parte.
Vamos parar por aqui?
Você consegue me escutar?
Eu sei que fez tudo que pode para se segurar.
Então, a culpa foi sua, você aprendeu a voar com as asas do imaginário.
Agora irá para seu tombo final, para tentar esquecer suas memórias.
É chegada a hora de você se recolher.
Eu sei que você não consegue mais tomar seus remédios, então vomite.
Vomite sua alma encardida, meu pássaro, não deixe de bater suas asas naquela colina.
Tudo está revirado em sua cabeça, abra seus olhos o que vê?
Percebe o quanto está ferido e não pode ficar neste lugar por mais tempo?
Tudo e todos que encontra, esfria e entorpece.
Você amaldiçoa tudo que toca, por essa razão sua pele é tão fria?
Consegue enxergar aquela porta da gaiola aberta?
Está procurando razões para ficar ai dentro ainda?
E tudo que conversamos, consegue se recordar?
Naquela esquina, mais uma vez, você se encontrou, sozinho.
Você vai conseguir ficar aqui comigo?
Talvez desta vez não, então se prepare para ver outro mundo.
Não é a primeira vez que você quer isso tudo, não existe mais estranhamento.
Agora você tem pouca força para voar, eu posso ver em seus olhos castanhos.
Sua plumagem está cheia de dor, violência e seu corpo está sujo de humanos.
Veja aquela estrela, você sabe quem te deu?
Mas, você foi tão corajoso até aqui.
Mas, você foi tão corajoso até ontem.
Hoje, tardou a sua expertise, você ficou inconsciente e atrasou o relógio da parede.
Estamos perdendo a chuva de meteoros, as luzes estão apagadas.
Qual a razão para você ser tão cheio de valentia se está com seu alicerce tão frágil?
O que ainda te segura? 
Me conta sobre algo que sempre quis e nunca teve coragem de fazer?
Você me disse uma vez que se sentia tão estranho e que o mundo cheirava a fumaça de trem.
Você me disse uma vez que podia mudar sempre, mas que continuaria da cor azul.
Você me disse uma vez que quando encontrasse o amor, estaria completo.
Agora eu te vejo, pedindo socorro para um pássaro que já está morto.
Tentando acreditar em um sonho acordado que te sufoca como um coração de metal.
O que você precisa para acreditar que pode ser melhor?
Olhe ao seu redor, as cores estão desaparecendo diante de seus olhos.
Está ficando tarde para você só pedir desculpas e culpar a si mesmo por ser tão imaturo e inconsequente.
Deixe as folhas daquela arvore caírem, você irá passear por cima delas pela última vez.
Coloque os pés, sinta como cada recordação sua, te faz ingênuo e cheio de desilusão.
Foi a escuridão quem sempre te escolheu para morar nela.
Está tarde!
E você voou tão alto que ao tocá-la, se viu de novo.
A vida já lhe entregou tantas coisas, agora sinta que ela pode ser não tão grata.
Você abandonou tudo, não teve força nas mãos o suficiente para se segurar em seus sonhos.
Você foi capturado por uma sensação esquisita, ficou a comando da falta de ação.
Todo mundo te vê, tentando suportar tantas coisas sem mesmo poder falar.
Então, atravesse a colina, vá atrás de algo que te faça ser menos cruel consigo mesmo.
Pois, essa é a sua última tentativa e você não está mais no comando.
Não tem ninguém que possa te ouvir gritar em casa.
Sua mãe está entorpecida e você está sem colo, você quebrou a estátua viva.
Eu sei que você poderia morrer de olhos abertos, dizendo que soube amar.
Mas, não sorria com os olhos tão manchados de sangue.
Porque eu sinto você indo embora, se separando de tudo que sente saudade e agora não consegue experienciar.
Eu lamento muito por não poder ter ajudar, não desta vez.
Todas as suas grandes coisas, agora te transformam em pó.
Está na hora de deixar os cavalheiros selvagens desmontarem de seu corpo.
Está na hora de você não mais sentir dor, angústia e medo.
Os rios estão secando e a maré está baixa demais para qualquer navio te resgatar.
Aquele lugar escuro onde lhe deram a crueldade está em ruínas.
Aqueles garotos podres, não podem mais ouvir sua orquestra e nem te perturbar com corpos gelados.
Não precisa mais ter medo de enlouquecer, você apenas está corrompido.
Feche seus pequenos olhos, a viagem irá começar.
Você não precisa segurar tudo com tanta brutalidade, sua fraqueza te libertará.
Você não consegue nem me abraçar e eu entendo, está consumido.
A solidão já te encontrou, fique com ela e enfrente seus devaneios.
Aceite seu destino de uma vez, sua única maldade é ser feito de carne e osso.
E mesmo assim, consegue voar para tão longe.
Você encontrou o amor e o amargou, encontrou a vida e a encarou e ela te esmagou...

sexta-feira, 25 de julho de 2025

SEGREDO-SENTIDO

Solidão é um lugar de morada do pássaro selvagem...

Um lugar onde o útero "Eu" torna-se ninho.
Quando habitamos o ninho, fazemos nossa casa mais secreta.
Ali, o mundo é feroz e avassalador.
Quem passa por aquela rua vazia entende a dor.
Talvez no algoz movimento de tentar compreender o não visto.
O sentimento de voracidade que transluz a falta de caminho.
Levantar-se de si, requer muita força, arrebenta o peito, sentido de não pertencimento.
Erguem-se muros, tijolos imensuráveis, cheios de angústia e medo.
Algumas pessoas conseguem colocar a cabeça para fora do ninho.
O que veem, não conseguem relatar, choram de receio, engasgam com as próprias certezas.
Dizem que existe um clube dos sozinhos, mas eles não se pertencem. 
Sem mundo coletivo neste momento, abstém-se da relativa felicidade ao caos.
Somos destemidos diante deste cenário tenebroso, mas ali, existem as flores, sem cheiro.
Quando cai a noite, essas flores iluminam um túmulo do "eu-deu". 
Sobre a relva mais entorpecida de mágoas, afundam-se as orquídeas.
Silêncio e suas ressacas nuas, desapercebidas pelos vizinhos aflitos.
Abre-se um oceano nos olhos de quem não pode enxergar-se, destituído, envelhece.
Ao abandonar esse ninho, tem-se a sensação de que um dia voltará a vir-a-ser construtor de outro, ainda mais profundo e protetor de segredos-sentidos.