Solidão é um lugar de morada do pássaro selvagem...
Um lugar onde o útero "Eu" torna-se ninho.
Quando habitamos o ninho, fazemos nossa casa mais secreta.
Ali, o mundo é feroz e avassalador.
Quem passa por aquela rua vazia entende a dor.
Talvez no algoz movimento de tentar compreender o não visto.
O sentimento de voracidade que transluz a falta de caminho.
Levantar-se de si, requer muita força, arrebenta o peito, sentido de não pertencimento.
Erguem-se muros, tijolos imensuráveis, cheios de angústia e medo.
Algumas pessoas conseguem colocar a cabeça para fora do ninho.
O que veem, não conseguem relatar, choram de receio, engasgam com as próprias certezas.
Dizem que existe um clube dos sozinhos, mas eles não se pertencem.
Sem mundo coletivo neste momento, abstém-se da relativa felicidade ao caos.
Somos destemidos diante deste cenário tenebroso, mas ali, existem as flores, sem cheiro.
Quando cai a noite, essas flores iluminam um túmulo do "eu-deu".
Sobre a relva mais entorpecida de mágoas, afundam-se as orquídeas.
Silêncio e suas ressacas nuas, desapercebidas pelos vizinhos aflitos.
Abre-se um oceano nos olhos de quem não pode enxergar-se, destituído, envelhece.
Ao abandonar esse ninho, tem-se a sensação de que um dia voltará a vir-a-ser construtor de outro, ainda mais profundo e protetor de segredos-sentidos.