Neste meu abrigo, eu me sinto em casa, vendo os velhos dias passarem feito passagens mórbidas.
Aqui não me sinto escrava, estou andando de um cômodo a outro para ver o brilho nos cantos escuros, esperando que minha vela revele os lugares que um dia puderam me incomodar.
Os móveis não estão mais solitários e eu posso ver o jardim cheio de gotas do passado, suas loucas flores e suas gramas contaminadas pelo ar noturno que não parece passageiro agora.
Sinto que posso vigiar o mundo e ele não é capaz de transportar s suas falas ofegantes para dentro de meus ouvidos, deixando minha cabeça apontada para o caminho da insanidade.
Olhem vejam as chaves espalhadas por todos os lados, e eu posso chutá-las para bem longe, aonde meus olhos não possam acompanhar o brilho falso delas, quando o sol rasga a cortina de meu quarto para anunciar uma nova manhã.
Os tigres estão soltos, e muitas vezes eles gostam de dormir na porta da cozinha, como guardiões, e por muitos anos eles me protegeram, hoje em dia eles só querem que eu não saia daqui, e para que isso aconteça eu tenho alimentado eles com o meu próprio sangue.
Vejo que as poeiras de outro tempo cobrem a mobília, e a chuva tem sido uma péssima idéia para um renascer que não foca mais o meu entendimento do que um dia eu fui.
Quando eu entro em um baile de máscaras, posso ver quem quer ser visto, os que escondem –se de si mesmos, não tem o brilho de criança nos traços frios em seus olhos cheios de doentias risadas.
Fico entregue a comemoração do ridículo, da satisfação pelo vazio ,e passear por este salão todo, é quase que uma tortura, quando sinto minhas mãos pegarem fogo, preparando –se para um encontro maior, que nunca acontece.
E eu não danço, eu apenas me aquieto perto das cortinas antigas, e elas dançam feito maníacas, porque as janelas falantes sopram suas melancolias para fazer com que essas brancas velhas e seus vestidos bordados, envolvam meu corpo na tentativa de me esconder desta geração cheia de promessas falidas sobre o que é a felicidade.
Eu vejo o anuncio da aurora, e esta, descansa no meio do salão, com suas pernas marcadas pelo passado, porque tem sido tão cômodo ficar em cima de tudo, vendo as coisas com inteligência, quando estamos no fundo de tudo, fixando a alma em algo que não pode ser compreendido, acabamos nos perdendo e isso é alegre.
Eu tenho olhos nas costas, e consigo ver o medo se aproximar quando alguém pode ver o quanto eu posso ser sensivelmente perturbadora.
Acredito que a dor renove, mas não consigo aceitar que isso seja suficiente para deixar uma vida suspensa por tanto tempo, existe uma falha.
Não gosto de desculpas, o perdão parece pedir uma facilidade que me deixa demente, e eu não gosto de pensar mais sobre as coisas que eu não possa levar com bagagem nesta viagem por mim mesma.
Viver tem sido um trabalho árduo, porém , eu consumo todas as experiências que machucam e falam com a voz da angústia que faz com que eu receba as mensagens existenciais que habitam dentro e fora de minha estadia neste tempo, com rebeldes notificações do que é escuro e claro.
As surdas comunicações externas, eu já não tenho me preocupado com os amantes da vida ‘de passagem”, porque eu demorei tanto, sofri tanto, e senti o gosto da felicidade, e isso para mim ainda não é o suficiente para que eu possa ver o sol nascer negro.
Quanta pretensão, sei que ainda não possuo tanta humildade, e minhas fotos estão penduradas em paredes sujas e lotadas de buracos, e eu posso ver pelos mesmos, as tardes tortuosas aproximando uma solidão que eles tanto negam.
E eu prossigo, sem propagações, em um silêncio puro, e uma fala calma, porque eu estou a procura dos instantes que possam romper as minhas antigas certezas...
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