E se não fossem cores feitas de atores?
Desnudos permanecem os pensamentos.
Revestidos de cimento, cheirando a paulista.
Benditos sejam!
Malditos também, já que não tenho apreço algum por ninguém.
Ou teria eu medo de temer que não tenho alguém?
Refém da própria ignorância!
Não sou, não tive escolhe de ser.
Só fui, voltei algumas vezes, mas lá não permaneci.
Aonde os nevoeiros fazem festa,
Aonde adormecem as velhas e amanhecem noviças rebeldes.
E se o céu for só, feito uma miragem perdida no devaneio?
Não creio, não pode ser tão vulgar como as coxas de uma
donzela antiga.
Temida pela penumbra da noite, bêbada e sarcástica com ar de
formol.
Ilustres pensadores, por onde andam seus passos que não vejo?
Presos em livros, cartilhas em um só desassossego.
Poderia ser pior, não estar em lugar nenhum.
Em uma língua qualquer aonde não tivesse boca para beijá-la.
Aonde o gosto do azedo, não é segredo para os sacros.
Sinto que desacato minha própria linguagem, que agora é uma
orquestra.
Em dó maior e ré menor, orquestrada por uma varinha mágica.
Ponderada por um violinista cego, que na sua ultima visita a
realidade,
Viu o mar virar sertão.
E por que não desafiar este nobre e desgraçado violinista?
Ele rege uma orquestra só minha.
Aonde o Nelson Gonçalves tomou seu último gole vestido com
uma roupa de sucata...