terça-feira, 21 de agosto de 2012

::MIL CAIRÃO AO TEU LADO::



Poesia, porque não me escolheu como pupila?
Talvez eu não  tenha dom para isso.
Se é que isso a que me refiro seja algo que seja contestável.
Indesejável desejo que me devora.
Se eu tivesse um porto seguro para ancorar meus pensamentos que navegam à deriva.
Ali me faria poetiza.
Poesia para mim é ira, doçura, partida, chegada, amor e calor.
É homem, mulher, bicho do mato, quem ela quiser.
Ela é o que eu não consigo ser por agora.
O instante que brota e se revela sem demora.
Poesia é o cochicho dos deuses, o hálito do benfazejo dos contemporâneos perdidos.
Ensejo inquieto, indiscreto e incompreendido.
É sentido que não se domina, só contamina os egos corrompidos.
Poesia também é rancor, sabor de mágoa contida.
É festa sem convidados, mas também pode virar um banquete para os loucos e oprimidos.
É voto nulo sem vaidade,  impiedosa com seus insultos, versátil por naturalidade.
Poesia é praga para os alienados, e útero para os já vividos.
Junto dela, caminham vermes, pastores, serpentes e divinos.
Dentro dela, moram atrizes, meretrizes, jovens, velhos e olhos famintos.
Kundera sabia da sua fúria, Goethe lia poesia fazendo a filosofia virar antropofagia.
Platão recogitou a “physys” quando mergulhou no seu ar poético.
 Ramayana e Mahabharata seriam patéticos sem poesia no seu épico.
E ficam-me os dedos enfraquecidos!!!
Aonde há poesia, existe o caminho, não sei se de lá se volta.
Poder-se-ia resmungar a respeito, não temos o direito de questioná-la.
Apenas apreciá-la e respeita-la, afinal, se desta vida partirmos sem destino,
Junto com os poetas seremos redimidos.