Poesia, porque não me escolheu como pupila?
Talvez eu não tenha
dom para isso.
Se é que isso a que me refiro seja algo que seja contestável.
Indesejável desejo que me devora.
Se eu tivesse um porto seguro para ancorar meus pensamentos
que navegam à deriva.
Ali me faria poetiza.
Poesia para mim é ira, doçura, partida, chegada, amor e
calor.
É homem, mulher, bicho do mato, quem ela quiser.
Ela é o que eu não consigo ser por agora.
O instante que brota e se revela sem demora.
Poesia é o cochicho dos deuses, o hálito do benfazejo dos contemporâneos
perdidos.
Ensejo inquieto, indiscreto e incompreendido.
É sentido que não se domina, só contamina os egos
corrompidos.
Poesia também é rancor, sabor de mágoa contida.
É festa sem convidados, mas também pode virar um banquete
para os loucos e oprimidos.
É voto nulo sem vaidade,
impiedosa com seus insultos, versátil por naturalidade.
Poesia é praga para os alienados, e útero para os já
vividos.
Junto dela, caminham vermes, pastores, serpentes e divinos.
Dentro dela, moram atrizes, meretrizes, jovens, velhos e
olhos famintos.
Kundera sabia da sua fúria, Goethe lia poesia fazendo a
filosofia virar antropofagia.
Platão recogitou a “physys” quando mergulhou no seu ar
poético.
Ramayana e Mahabharata
seriam patéticos sem poesia no seu épico.
E ficam-me os dedos enfraquecidos!!!
Aonde há poesia, existe o caminho, não sei se de lá se
volta.
Poder-se-ia resmungar a respeito, não temos o direito de
questioná-la.
Apenas apreciá-la e respeita-la, afinal, se desta vida
partirmos sem destino,
Junto com os poetas seremos redimidos.