quinta-feira, 6 de julho de 2023

::ASAS DE UM PÁSSARO::

 Outro lugar em mim, está aberto....

Agora não são deslizes, não são atos, são atalhos, muitos atalhos.

A melancolia é minha convidada especial, ela entra em mim.

Em mim, as gavetas estão novamente abertas, aguardando serem puxadas, com força.

Aquela leveza, já derrubou árvores e de repente, as cicatrizes começam a surgir.

Cada pedaço do meu corpo, vai rachando, um desconto de cada conta que deixei de fazer quando pensei que pudesse fugir de mim  mesmo.

Não adianta a poesia, essa noite, a escuridão não fala, ela murmura.

Os passos estão largos, as estradas fechadas, os ouvidos ensanguentados de minhas tragédias pessoais.

Acredito que desta vez, eu não possa volta a ser como era antes, na verdade, como eu era, um sonho eu vivi.

Vivi diante de um sonho que a cada construção derrubava paredes dentro e fora de tudo que eu fui construindo.

Minhas construções frágeis, pareciam seguras por dentro, mas fora, as plantas morriam todas as noites.

As manhãs geladas, esfriavam as raízes que poderiam aquecer o alicerce de minha alma.

Já não sei mais se consigo dizer se tenho alma, algo anda aqui dentro, caminhando em círculos.

Trama, trauma, desassossego, sem cama para dormir, sem corpo para morar.

Algumas flores eu ainda consigo sentir que podem me vigiar.

Outras vezes, esqueço o cheiro de cada uma delas, sim, elas embalavam as canções que eu gostava de ouvir quando não podia me escutar sorrir.

Quando eu chorava, andava do lado de fora de mim, soluçando, procurando soluções que fizeram de mim, um mártir.

As cobertas estão aos pés da cama, enroladas, meus pés gelados, quase sem vida...

Então percebo que ainda consigo me mexer, lentamente, levanto da cama e vou até o lado de fora.

A porta continua aberta e as estações não mudam, só outono e inverno, as altas gramas, agora estão desfocadas de minha retina.

Aqueles velhos livros que eu gostava de bater nas páginas, estão cheios de pó, medo e ressentimento.

Não tenho mais lugar para vivenciar minhas próprias experiências de fuga.

Fugir agora virou um tormento, fico apenas com os pés gelados, esperando que de uma vez por todas, eu  não mais tenha força para levantar e ir para fora novamente.

Eu ouvi o bater de asas de um pássaro, talvez seja aquele velho amigo querendo que eu olhe por fora da janela.

A janela que vive escura, parece que não posso abrir os olhos quando preciso ver o sol nascer.

Ele fica tímido no horizonte, a margem está cada vez mais sombria e acelerando as ondas.

Tenho que comunicar, vou ter que partir, mas não sei se devo.

Dever é algo que sempre me tirou o sono, como se minha existência inteira fosse internamente contida.

A cortina balança com o vento que vem gélido do fundo da minha respiração.

Quando eu fecho a boca, engulo a minha esperança.

Já não sei mais traduzir o que eu conseguia sentir de mim mesmo.

Posso considerar que ainda vivo?

Posso considerar que ainda estou tentando o suficiente?

Ou essas linhas por hoje, já são capazes de me acordar deste sonho acordado?

Dormi....