Eu não preciso me concentrar para que isso aconteça.
Refiro-me a esses pensamentos estranhos, insanos e tão
amorais.
Eu avisto um homem montado em um cavalo negro, galopando em
minha direção.
Ele trás um amuleto no pescoço, como quem trás uma história
toda em seu coração na memória.
A paisagem está em decomposição, eu sinto o cheiro da morte
entrando pelas narinas dele.
Jovem, com cara de quem já encarnou milhares de vezes um
personagem pesado e fadado uma vida atrás de algo que não está destinado a
encontrar.
Está frio, e as arvores sussurram através do balanço de seus
galhos.
É como o grito de crianças recém-nascidas, desesperadas para
chegarem e contemplarem a desgraça em um mundo derrocado e aonde as labaredas
saem por todos os cantos dos vulcões, perseguindo os famintos por amor.
O perigo é um amigo dele, ele tem olhos fortes, penetrantes,
aonde a loucura encontra seu acolhimento, aonde a solidão parece debruçar em
seus braços longos e resistentes.
Seu tronco é forte como uma macieira antiga, suas veias
retratam a força que ele carrega em si, o sofrimento corre pelas suas pernas,
musculosas e ágeis, como de um garoto de 12 anos que procura um lugar para se
esconder quando pratica algo que não é considerável pelo bem de todos.
O frio passa pelos seus pulmões, ele solta o ar congelado,
transformando – os em fumaça, como se pudesse aquecer o que o cerca, em uma
tentativa caótica de quem pode perfurar os sentidos do desconhecido.
Ele não tem mãe e nem pai, está desvelado.
Destituído de tudo aquilo que considero leal!
Ele olha de um lado para o outro, como se procurasse algo
que precisa estar perdido, mais do que ele.
E encontra uma chance, desce de seu cavalo, curva-se diante
de um rio, e suavemente bebe a água do inconsciente.
Quando ele fecha seus olhos para sentir a sede passar, os demônios
entram através do seu esôfago e o fazem entrar em transe profunda....