Se cure porque seu rosto está se desfazendo.
Você está tentando quebrar uma parte da sua alma que já está
morta.
Seu coração parece estar querendo estourar, sinto as batidas
dele no meu pulso.
Você ainda permanece acordada, vendo a noite sumir, mas quem
irá desaparecer será seu contentamento.
Não tente permanecer nesta posição por muito tempo, seus
braços estão sendo esmagados por sua vontade de querer quebrar seus ossos com
seu passado.
Se você não puder reagir, se concentre, sinta o que está
querendo lhe drenar, fique consciente, eu preciso ouvir a sua risada.
Você sabe alguma vez a culpa foi sua aliada, mas agora tudo
que temos você destrói com sua insanidade.
As luzes precisam ser apagadas, posso ascender uma vela para
tentar entender a sua escuridão pelo lado de fora deste globo negro que se
tornou seus olhos.
Tenho que ficar longe, porque suas feridas estão se
transformando em mim, virando minha segunda pele.
Estanque este sangue que escorre do seu útero, deixe fluir,
diga adeus ao seu amado cinismo, ele agora é tão real quanto a sua
instabilidade.
Vou lhe servir aquela sopa quente que você tanto gostava, eu
te vi chorar em cima daqueles fios de cabelo que no seu paladar sempre pareciam
carregar o gosto de macarrões frustrados.
Qual a direção agora?
Então você, está completamente debruçada sobre esta mesa
suja e velha, se infectando de ódio e angústia, estamos fazendo algo errado, eu
posso sentir, por mais não que não tenha sentido.
Pare de chorar em cima da comida, você sempre fingiu ser uma
rainha, agora está sendo dominada por uma colecionadora de fúria.
Você nunca...
Eu nunca fui tão próxima da sua melancolia, agora sinto como
se ela tivesse passando por dentro das minhas veias.
Eu nunca fui tão segura em minhas decisões, agora parece que
tenho que julgar o que você sente.
Eu nunca senti vergonha de enlouquecer na sua frente, agora
eu a dor me desmonta e eu estou exposta no seu mundo.
Não ria, eu sei que eu não pude dizer que poderia ficar
quando as nuvens cobrissem o seu céu.
Não se abstenha do que eu te digo, minha boca está cortada
pelas suas unhas afiadas.
Você me deu, eu te dei, eu me lembro, algo de ruim chegou
perto de nós, não consigo narrar.
Porque agora eu preciso que você não seja você, que eu não seja
você em mim.
Apunhale-me com sua insatisfação, faça de mim sua escrava,
me deixe alta.
Sirva-me seu veneno mais amargo, quero expelir esta sua decadência
pelo suor.
Eu e meu dragão estamos esperando um lugar para descansar, e
você não está acordada.
Os seus caminhos eu não posso guardar e meus pés doem tanto
por ter te seguido por um longo tempo.
Arde, você não é a única, e eu não posso ser só sem encarar
que isso sempre foi irreal.
Ser uma só dói!
Então porque você não levanta sua voz e me derruba para dentro
do seu útero.
Crie-me, depois me solte e faça com que eu envelheça tão rápido
para que eu tenha medo do agora.
Minha doce clandestina, sua personalidade me aterroriza
desde criança.
Eu podia perceber seus olhos mergulhando lentamente na
escuridão.
Enquanto todos brincavam sorridentes, você estava procurando
um motivo para se manter acesa diante da multidão falante.
Você desmontava todas as bonecas na tentativa de criar a si
mesma, mas nunca se lembrava como você realmente era.
Lembro-me de quando você caminhava em direção ao mar e dizia
bem baixinho para que aquela imensidão te tragasse para dentro e não te
devolvesse mais.
Você criou meu dragão com seu sentido mais doentio, eu vi a
morte assoprar os fios do seu cabelo enquanto você dormia, e você sorria
alegremente como se a mesma lhe fosse tão próxima.
Eu não tenho medo de você, eu te rodeio como se pudesse
contemplar a sua virtude mais escondida dentro desta lama na qual você se
enterrou.
Cobiço sua suavidade quando você transita de um lado para o
outro, as vezes tenho a sensação de que quando eu piscar, você suma para
sempre.
Sinto-me estranha, estrangulada e intragável, é como se você
pudesse me manter desligada com suas palavras tão profundas, reclamando da
palidez desta cidade.
Gosto de quando fecho os olhos e sinto o cheiro de flores na
sua pele, eu alimento uma doçura e uma suavidade que você acha tão desnecessária.
Resta algo, algo maior do que tudo que eu possa descrever.
Mas eu continuo tentando repetir e desgastar os meus dedos
na incansável busca pelo nosso elo que ilustra o meu amor por você que é um
lado meu que não morre, apenas tenta se sabotar, eu estou de luto toda vez que
eu imagino a nossa partida.
Fico excitada com tudo isso, porque somos uma pessoa só,
porque eu fiquei doente, eu chorei em cima daquele prato, aquele gosto do macarrão
que só eu sei como é.
Eu sou a mesma, dor, fúria, melancolia, doçura, rainha,
morte, vida, o que é, o que sou, o que está por vir, porque eu me divido em
partes para tentar provar a mim mesma que eu não posso conviver com estes
pensamentos deitados na minha mente sem se enroscarem na minha realidade...