A vida não escapa...
Se o carro quebra, a chuva molha e os dedos se dobram é
porque estamos pulsando.
Não conseguimos viver em uma condição única, combinando
as partes que nos faltam, sempre que não podemos, estamos ausentes.
Mas não ausentes para tão somente o mundo,
Ausentes de nossa própria consciência.
Porque tudo parece mover-se contra a corrente do rio, mas
só parece.
O rio vai descendo, a enxurrada vai empurrando tudo lá
para frente, aonde os olhos não podem observar a queda que está por vir.
E vem forte, como se de alguma forma participássemos de
uma engrenagem sistematizada pelo Nada.
Um equivoco que emerge da urgência de que precisamos de
alguma forma, despertar.
Mas as perguntas não cessam, destiladas de um pensamento
articulado através da substância do agora, perdemos todo o excesso do existir
em um segundo fracionado.
E as nuvens no céu não param.
Movimentando o azul que se perde diante de nossos olhos
cansados, irritados pela fumaça que nos deixa tontos e instigados para dormir
novamente...
De alguma forma, sinto que não dormimos.
Vamos viajando procurando soluções para problemas
espirituais, relações, trabalho, família e neste instante, aonde estamos?
Talvez em algum fragmento deslocado no inconsciente.
Ali, aonde a tecnicidade não se instaurou de forma tão
brusca.
Tentamos de toda forma nos apoiarmos nos livros, pessoas,
opiniões, religiões , qualquer coisa parece que pode nos salvar e de uma hora
para outra, nosso tripé arrebenta.
Caímos e só nos damos conta quando já sentimos o impacto
do nosso rosto no chão.
Chão gelado e, toda vez que tentamos entender porque
estamos nesta posição, o peso da nossa consciência temporal dói mais do que a questão que tenta nos acometer
emergencialmente.
O Despertar!
E mais uma vez nos levantamos, erguidos, falidos de
sentimentos, somos provisórios, ficamos um tempo cautelosos, até que novamente
o processo se dá.
Acabamos perdendo o medo da altura da queda e nos esquecendo
de que essa resistência não nos torna sábios e sim estúpidos, mal acostumados
com o que parece ocasional.
Não estamos mais montados em cavalos, andando de carro ou
de algo que se movimenta para o progresso.
O presente nos açoita!
Quase que rastejamos todos os dias para algo que já
sabemos que não tem finalidade.
Um pouco de dinheiro aqui, ali um convívio social e outro
dia se foi.
A questão não é para onde ou somente para que estamos
aqui.
Isso não mais questiona a autenticidade com que os fatos
vão se desconstruindo século após século.
Tudo se trata de uma questão aberta,
Quem somos nós?
Quem se arrisca a perguntar baixinho, escuta um tremor
dentro de si, fica de jejum.
Quem grita, perde a estrutura do que conhecia de si,
devora a si mesmo.
Quem medita, questiona profundamente, sem voz, ouvido ou
mentalidade condicionada.
Ilumina-se!
E quando falo em meditar, não estou dizendo que deve-se
chegar no além, apenas falo do meditar como ferramenta da escuta, para que não falarmos em demasia aos ouvidos do EU.
E desta pergunta em diante, nada mais adormece.
Não se confecciona mais o que um dia aprendeu sobre Eu,
eles e o mundo.
Lançados dentro de um vulcão em erupção, a vida vai
jorrando com força tudo para fora.
Neste descontrole, existimos!
Acordados.