Sempre esperando o sol se
deitar no horizonte...
Porque viver é uma arte e eu
me sinto um pouco frustrada por não saber dominá-la tão bem.
Vivo a espreita das pessoas
que andam pelas ruas pensando que estão atuando, brincando de ser gente grande
enquanto no peito delas arde um coração tão infantil.
E porque viver é tão inconstante
que eu tenho que me reinventar sempre,
Confesso que me perder é algo
que é constante, já que escolhi não ser fixa, não ser dura, não ficar presa a
qualquer experiência.
É quando de repente percebo
que não consigo mais olhar gentilmente uma folha cair do alto de uma árvore e
me dar conta da imensidão que me cerca.
Não sou capaz de ouvir o
estalar dos galhos se desprendendo quando um pássaro a toca tão bruscamente.
Fiquei tão ocupada em tentar
perceber que o tronco daquela árvore era rígido e mesmo assim, nas suas ondulações
eu poderia deixar as marcas das minhas unhas.
Eu perdi uma parte, as raízes,
eu sei que elas estão ali em algum lugar, mas estão tão profundas, enterradas
aonde meus olhos não podem enxergar, mas sei que estão ali.
Então me deito no chão úmido,
com o frescor da tarde de uma primavera silenciosa, fecho meus olhos e me entrego
a esta tentativa angustiante de sentir que as raízes podem fazer parte de mim,
são parte de mim, eu sei.
No fundo, bem lá no fundo,
aprendi que estar triste também é estar de alguma forma vivendo algo bonito.
Porque quando a melancolia se
vai, o sorriso, brota, singelo, sincero e puro.
Júbilo!
Como aquele sorriso que perdi
quando descobri que o mundo não poderia mais caber dentro da minha realidade.
Porque eu sempre sonhei, ainda
me sinto uma criança, um pouco mais hipnotizada do que o comum pelas coisas que
passam e entrecruzam com a minha realidade.
Na verdade, eu nunca tive medo
de nada, ser destemida sempre foi o meu lema, isso fez com que tudo que eu
tenho até agora, se desfaça em um piscar de olhos na minha ilusão.
Sempre transformei meus medos
em uma brincadeira de ser Deus.
Quando sou Deus, eu posso
sentir que tudo que existe também é meu de alguma forma e que as pessoas também
são como eu queria que elas fossem, no entanto,
Quando a brincadeira acaba eu
percebo que não posso fazer isso sem sentir a mais profunda decepção, porque
quando as pessoas somem da minha imaginação elas se revelam tão antipáticas e se
dissolvem transformando-se em minhas angústias mais obscuras.
A vida vai caminhando sabe,
para um lugar do desconhecido, aonde o mistério se mistura com o que eu percebo
como pura sanidade.
Não temo mais a loucura, uma
vez que aprendi a compreender que perceber o que está acontecendo na história
de cada um, depende de como você se relaciona com o mundo que um dia quis
apreender para si mesmo.
O meu mundo é repleto de amor,
dor, satisfação, dissabor, prazer e fantasia.
Sinto falta de sentir que não posso
me sentir.
De sumir e aparecer quando eu
desejar, um dormir com a mente acordada.
Mas não posso escolher quando
acessar as coisas que fazem parte de mim sem que eu queira.
Elas surgem no Nada, ou quando
sinto um frio intenso, ali sou tocada, transformada e inundada.
Deste lugar, Nunca volto a
mesma, eu entendi que não posso me manter como eu queria, eu sempre estarei
sendo algo e no outro instante me transformarei para uma vida toda, aceitei!
Aceitei também que tudo que
passa pelo meu caminho, ouço, respeito, observo e depois de perceber que posso
consumir algo, cuspo em um movimento antropofágico.
Eu quero que permaneça em mim
apenas as coisas que brotam do acaso.
Transbordar dói, tira a veracidade dos
instantes aonde rompo com as minhas certezas.
Não gosto das coisas
completas, gosto do inacabado, do esgotado, do vazio e do que está sendo
transmutado.
Eu gosto do nunca-jamais.